Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Da angústia à felicidade psicotrópica

Psicoterapia e psiquiatria são a melhor aposta para quem se perdeu no sofrimento psíquico

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Dúvidas em relação ao futuro, insegurança, perda da paz interior, oscilações frequentes no humor e culpa. Não é fácil lidar com a angústia e outros sentimentos negativos que surgem no dia a dia.

Talvez isso tenha se tornado ainda mais marcante com a pandemia da Covid-19. O distanciamento social contribuiu para ampliar as experiências com sensações desagradáveis, e um conjunto de emoções reprimidas começou a vir à tona. As sequelas deixadas no quadro psíquico das pessoas requererão tempo e investimento para serem tratadas.

O Brasil já não vinha muito bem no que diz respeito à saúde mental de sua população. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o país é considerado o mais ansioso do mundo. Cerca de 9% dos brasileiros convivem com ansiedade, e tal fato tem, entre outras, repercussões na qualidade do sono. De acordo com dados da própria OMS, a insônia atinge mais de 40% da população. Esses e outros fatores fazem do Brasil o país mais deprimido da América Latina.

Direito à desconexão e burnout
Ilustração: Catarina Pignato

Uma das razões pelas quais algumas condições de saúde mental têm se tornado crônicas é o estresse contido no agitado estilo de vida atual. Com a rotina cada vez mais intensa e complexa, muitos estão experimentando uma profunda sensação de desânimo, vazio e apatia. Além disso, fatores genéticos também contribuem para o agravamento de vários quadros.

Entretanto, progressos nas pesquisas nas últimas décadas permitiram o surgimento de diversas novas opções de tratamento. Em 1988, chegava às farmácias dos Estados Unidos a revolucionária "pílula da felicidade". O Prozac (fluoxetina) apresentava menores efeitos colaterais que os antidepressivos anteriores e se popularizou em uma sociedade que se agonizava no meio de diversos sentimentos negativos e que, ao mesmo tempo, buscava soluções imediatas para anestesiar seu sofrimento.

A partir daí, diversos outros medicamentos foram inventados. No entanto, apesar dos avanços da medicina, parte expressiva da população não tem acesso sequer a profissionais de saúde mental. Além disso, não raramente, mesmo aqueles que têm condições financeiras para pagar por um bom tratamento se recusam a usar remédios, pois, infelizmente, ainda existem consideráveis estigmas em relação aos seus efeitos.

Também há aqueles que usam psicotrópicos com o objetivo de melhorar o desempenho profissional e amenizar os sofrimentos naturais da vida. No mundo atual, é comum deixar a saúde de lado para perseguir metas que, em muitos casos, serão insustentáveis a longo prazo. Nesses contextos, os "analgésicos emocionais" podem até prejudicar o desenvolvimento da resiliência do indivíduo para lidar com as dificuldades inerentes à condição humana.

No cotidiano de várias pessoas, o abuso no uso de medicação e o entorpecimento com outras drogas se fazem presentes como tentativa de fugir do debilitado quadro emocional em que se encontram. Procurar ajuda é o caminho. Porém, muitos ficam impacientes com os demorados e custosos tratamentos. Sessões de psicoterapia e consultas com psiquiatras não costumam ser baratas. Além disso, não são raros os casos de profissionais mal preparados e com abordagem pseudocientíficas que pouco ajudam seus pacientes.

Apesar de todos os desafios, a sinergia da psicoterapia e da psiquiatria, assim como um eventual uso de medicação e um pouco de paciência com o tratamento, ainda representa a melhor aposta para devolver o bem-estar para aqueles que se perderam no sofrimento psíquico em uma sociedade marcada por desequilíbrios.

O texto é uma homenagem à música "Socorro", de Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, interpretada por Arnaldo Antunes. De forma semelhante ao ano passado, as duas colunas de setembro foram pensadas no sentido de gerar reflexões sobre a saúde mental da população em um mês marcado pela campanha do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio.

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