Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Laços familiares e as regras do jogo

Influência das famílias no desenvolvimento não deveria ser menosprezada

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As instituições representam parte considerável das regras do jogo da vida. Elas são criações dos seres humanos, voltadas para moldar suas interações, e podem ser compostas tanto por restrições de ordens formais, tais como as leis e as constituições, quanto as informais, como as normas de comportamento e as convenções sociais.

As regras formais tendem a ser determinadas pelo poder político. Em cada momento histórico, alguns grupos possuem maiores possibilidades de gerar pressão e fazer valer suas preferências nas escolhas sociais. Por sua vez, mudanças nas instituições formais tendem a ser resultado das concessões desses grupos e geralmente ocorrem sob a disputa dos ideais que regem a opinião pública. Não raramente, transformações mais expressivas acontecem apenas quando há ameaças de ruptura no contrato social.

Nesse âmbito, as regras formais do jogo da vida interagem com as informais. Estas refletem o conjunto de crenças e valores intrínseco ao patrimônio cultural desenvolvido por diferentes grupos populacionais.

Adobe Stock

Crenças e valores inicialmente adquiridas pelos pais e pelo meio social em que estamos inseridos, porém, são lentamente atualizadas por meio das experiências individuais que levam a uma natural contestação de parcela daquilo que foi aprendido em casa.

A família é uma das instituições mais antigas da civilização. Embora ela possa fornecer aos seus membros uma rede de apoio mútuo e um possível aumento do bem-estar, as potenciais influências negativas dessa instituição para o desenvolvimento individual e coletivo não deveriam ser menosprezadas. Nesse aspecto, importa a estrutura em que elas são forjadas.

Os laços familiares por si só representam um valor cultural com alto poder de influenciar as relações socioeconômicas de cada país. No livro "Foundations of Social Theory", cuja primeira edição é de 1990, James Coleman argumenta que em sociedades baseadas em fortes laços familiares há considerável preocupação com aqueles dentro do círculo de parentesco; porém, para aqueles que estão fora, comportamentos egoístas são amplamente aceitáveis.

Em anos recentes, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento avançaram nesse campo de estudo. Alberto Alesina e Paola Giuliano, por exemplo, constataram que sociedades que dependem demais das famílias existe uma tendência a ter menor senso cívico, participação feminina no mercado de trabalho e confiança generalizada (Family Ties, 2014).

Além disso, em sociedades com fortes laços familiares, o capitalismo e a competição tendem a ir só até onde geram vantagens para os membros mais próximos. Marianne Bertrand e Antoinette Schoar mostraram que nessas sociedades há uma porcentagem maior de empresas familiares e o nepotismo na contratação tende a diminuir a qualidade média das firmas (The Role of Family in Family Firms, 2006).

Deste modo, o que temos em cada sociedade é um amplo aparato institucional, formal e informal, que moldam as construções mentais de cada um e ditam as regras do jogo da vida. Em todo esse contexto, nossas escolhas, preferências e a pretensa liberdade individual acabam sendo mais influenciadas e restringidas do que muitos imaginam.

O texto é uma homenagem à música "Hoppípolla", de Sigur Rós.

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