Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

Por que eu minto a minha idade?

Parei de fingir que não estou envelhecendo e agora digo que sou mais velha do que realmente sou

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Preciso confessar: eu, como muitas brasileiras, minto a idade.

Quando completei 40 anos, criei o Movimento das Coroas Poderosas para combater os preconceitos e estigmas que cercam o envelhecimento. Nenhuma amiga quis participar. Até hoje, sou a presidente, secretária, tesoureira e única militante do Coroas. 

Depois, quando me perguntavam a idade, passei a responder: “Eu sou ageless, sem idade, inclassificável”. Achavam chique!

Passei pela fase de responder com a pergunta clássica: “Quantos anos você acha que eu tenho?”. E ficava feliz com aqueles que mentiam e diziam no mínimo dez anos a menos. 

Mãos de aluna idosa de curso de informática em São Paulo
Mãos de aluna idosa de curso de informática em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Também tive a fase: “Não pergunte a idade de uma mulher, que indelicado”.

Após tentativas de fingir que não estou envelhecendo, para ser coerente com tudo o que defendo no meu novo livro “Liberdade, felicidade e foda-se!”, resolvi assumir: tenho 93 anos.

Por que 93? É a média de idade dos meus amigos queridos e dos meus atuais pesquisados. Desde 2015 eu só convivo com homens e mulheres de mais de 90 anos. Com eles, vou à Academia de Terceira Idade, ao supermercado, ao teatro e cinema, restaurantes e botecos. Eu me tornei nativa, como diria Malinowski. É com eles que gosto de conversar, todos os dias. São eles que me cuidam quando estou doente. São eles que dão alegria à minha vida, com suas risadas gostosas. São eles que me inspiram com seus projetos de vida.

Enquanto minhas amigas mostram no celular as fotos dos filhos e netos, eu exibo orgulhosamente as fotos dos meus novos amigos, meus nonagenários queridos.

Então, não tem mulher que diminui a idade? Aumentei um pouco a minha e saí do armário: 93 anos. E nunca fui tão livre e feliz. É a primeira vez que posso ser eu mesma. É o melhor momento de toda a minha vida. Como ensino aos meus alunos e alunas: “Eu também sou velha! E velha é linda! Viva a bela velhice!”.

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