Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo Eleições 2022

O futuro das crianças depende do seu voto no dia 30 de outubro

O melhor presente no Dia das Crianças é lutar pela educação e pela saúde física e mental dos nossos filhos e netos

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Fiquei surpresa com a repercussão da minha coluna "O inferno são os vizinhos". Na quinta-feira (6), ela ficou o dia todo em primeiro lugar entre as colunas mais comentadas no site da Folha. Muito obrigada, queridos leitores e leitoras, pelo carinho, apoio e solidariedade com o meu desespero com vizinhos barulhentos e desrespeitosos.

A verdade é que, na semana passada, não consegui escrever sobre o 2 de outubro, pois estava deprimida e perplexa por não compreender como o deboche, o descaso e a desumanidade com a morte de 700 mil brasileiros, com a vacinação e as recomendações da ciência, não mudaram o voto de mais de 51 milhões de brasileiros.

Como milhões de brasileiros que perderam pessoas queridas na pandemia podem fazer uma escolha tão desumana?

Em um dia ensolarados, crianças correm sobre a grama de um parque
O futuro das crianças do Brasil está nas mãos dos que não votaram no 1º turno - Tom Wang

Não consigo ficar repetindo o discurso de que o egoísmo e o mal estão disseminados, que todos são monstros criminosos e fascistas. Tem algo mais profundo e inexplicável nesse ódio generalizado.

Alguns colunistas são mais otimistas e buscam mostrar que a resistência ao fascismo está mais forte do que nunca, já que foram mais de 57 milhões de brasileiros a favor da democracia. Só faltaram 1,85 milhão de votos para mudar o destino do Brasil.

Estou mais preocupada com os brasileiros que estão invisíveis, esquecidos e ignorados. O primeiro turno das eleições teve a maior abstenção em 24 anos: 32 milhões de eleitores não votaram.

Eu, que voto na mesma seção do Rio de Janeiro há décadas, nunca havia visto filas tão gigantescas. Dezenas de pessoas desistiram de votar na minha seção, inclusive uma amiga querida de 59 anos que estava animada para votar na Simone Tebet.

As abstenções de milhões de brasileiros, somadas às desistências daqueles que não aguentaram as filas quilométricas, são decisivas para compreender o resultado de 2 de outubro.

Quem votou sabia em quem votar. Foi registrado um recorde de votos válidos de 95%. É o menor número de votos brancos e nulos desde 2014. Mas quem não estava tão engajado de um lado ou de outro, simplesmente ficou em casa ou desistiu de votar em função das filas gigantescas.

Não é por acaso que a abstenção no Rio de Janeiro, onde eu moro e voto desde 1978, chegou a 22,76% e superou o percentual dos anos anteriores e a média de abstenções do país (20,94%).

O atual governador Cláudio Castro teve 4.930.288 votos (58,67%). Em segundo lugar, ganhou a abstenção: 2.915.468 (22,76%), além de votos brancos: 591.576 (5,98%); e nulos: 899.276 (9,09%).

O número alarmante de abstenções mostra que o Brasil não se resume a dois times inimigos e que existem milhões de brasileiros que estão exaustos e saturados de um jogo tão odiento, truculento e radicalizado. Ou seria melhor dizer uma guerra insana?

Cheguei à conclusão de que esse silêncio, apesar de valer ouro, não é nada inocente: é um grito de alerta, indignação, revolta e rejeição à odienta divisão e polarização do país.

Fiquei em dúvida se o título da coluna deveria ser "O voto dos que não votaram", "O silêncio vale ouro", "O silêncio dos inocentes", "Os cúmplices invisíveis da destruição do Brasil", "Sem medo de ser feliz", "Por um Brasil com mais educação e sem armas". Qual deles vocês preferem?

Está difícil compreender a lógica de milhões de brasileiros que, apesar do horror da pandemia, fome, miséria, destruição da Amazônia e descaso com a educação e a saúde dos nossos filhos e netos, não votaram no dia 2 de outubro.

Será que milhões de brasileiros continuarão escolhendo a omissão e a abstenção no dia 30 de outubro? Ou terão consciência de que seus votos são os mais decisivos para salvar as crianças brasileiras do fascismo, da miséria e da barbárie?

O melhor presente no Dia das Crianças é lutar pela educação e pela saúde física e mental dos nossos filhos e netos.

O futuro das crianças do Brasil está nas mãos dos que não votaram. Como cada um de nós, dentro das nossas casas e famílias, pode sensibilizar e convencer milhões de brasileiros a votarem por um Brasil mais humano, justo e democrático? Afinal, qual é o Brasil que queremos para os nossos filhos e netos?

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