Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo

A revolução das velhas ridículas

'Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido'

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Tenho repetido como um mantra uma pequena epifania do cantor David Bowie: "Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido".

Por que será que somente com mais idade conseguimos ser a pessoa que sempre deveríamos ter sido? Por que desperdiçamos tanto tempo das nossas vidas nos esforçando para ser alguém bem diferente de nós mesmos?

Após tantos anos de pesquisas, selecionei sete lições de mulheres de mais de 60 anos que estão me ajudando a tirar os óculos da velhofobia e enxergar a beleza do meu próprio envelhecimento.

A maior revolução da maturidade é ter a coragem de dizer não

"Quanto tempo perdi em reuniões de trabalho e festinhas insuportáveis com gente extremamente desagradável? Quanto tempo desperdicei fazendo coisas que odeio apenas para satisfazer gente chata da minha família e do meu trabalho?

Aprendi a ter a coragem de dizer não, mesmo desagradando muita gente ignorante e arrogante. Meu foco passou a ser o que é realmente importante e significativo para mim, não mais as cobranças e críticas dos outros. Não vou mais desperdiçar o meu tempo precioso com gente escrota."

Liberdade é a melhor rima para felicidade

"Depois da aposentadoria, deletei da minha vida todos os parasitas sanguessugas que só me machucavam e me deixavam doente, que me tratavam como uma velha inútil, invisível e descartável. Sempre cuidei de todo mundo, menos de mim. Hoje, minha prioridade é cuidar de mim mesma em primeiro lugar. Sou dona do meu tempo: faço só o que eu quero, quando eu quero e como eu quero. Não sou mais uma velha invisível."

Pela primeira vez na vida, tenho coragem de ser eu mesma

"Eu sempre tive muitos medos, ansiedades, inseguranças, preconceitos, vergonhas e invejas. A comparação, a culpa e a cobrança são os piores venenos da minha felicidade. Só com a maturidade, passei a ser quem eu sempre desejei ser. Nunca fui tão livre, nunca fui tão feliz, é o melhor momento de toda a minha vida. É a primeira vez que eu posso ser eu mesma. A coragem de ser eu mesma é a maior revolução da minha maturidade. Mas será que precisava ter demorado tanto tempo?"

Helena, Gilda e Sonia, das Avós da Razão, com Mirian Goldenberg
Helena, 94, Mirian Goldenberg, 64, Gilda, 80, e Sonia, 84; exceto Mirian, as três fazem parte das Avós da Razão - Mirian Goldenberg/Arquivo pessoal

Quem vai cuidar de você na velhice?

"Não sou casada nem tenho filhos. Todo mundo me questiona: ‘Mas quem vai cuidar de você na velhice?’. A resposta é óbvia: eu mesma, como sempre cuidei. E as minhas amigas. São elas que me escutam, que me fazem dar risadas, que estão sempre por perto quando eu mais preciso. Quem garante que os filhos irão cuidar dos pais na velhice? Na minha família, são os mais velhos que cuidam e sustentam os filhos até hoje."

Rir é sempre o melhor remédio

"Eu tenho a mania de me autoflagelar por qualquer errinho, fico me chicoteando por dias e dias quando faço alguma burrada. Mas errar é humano, não tenho bola de cristal para acertar 100% das vezes. O melhor remédio para a minha felicidade é não levar tudo tão a sério e rir das minhas próprias vergonhas, imperfeições, inseguranças, defeitos e faltas."

É uma delícia ser uma velha ridícula

"Eu sempre me sacrifiquei para ser reconhecida, valorizada e amada por todo mundo, até que percebi que é uma perda de tempo tentar agradar algumas pessoas odientas e intolerantes da minha família e do meu trabalho. Infelizmente, sempre tem alguma patrulha odienta de plantão buscando humilhar, massacrar, diminuir e ferir quem foge dos padrões. Quando comecei a namorar um rapaz bem mais jovem, algumas mulheres me xingaram de velha ridícula. Eu respondi que é muito melhor ser uma velha ridícula do que uma invejosa preconceituosa como elas são."

Ligar o botão do foda-se!

"Estou aprendendo a ligar o botão do foda-se para o que os outros dizem ou pensam. Quero ir à praia de biquíni e vão achar que sou uma velha ridícula? Foda-se! Vou curtir a praia do meu jeito, ninguém paga as minhas contas nem devo nada a ninguém. Quero ir sozinha ao cinema ou a um boteco tomar uma cerveja e vão me xingar de velha ridícula? Foda-se! Vou assim mesmo, ninguém tem nada a ver com a minha vida nem tem o direito de me xingar porque estou me divertindo sozinha. O botão do foda-se é libertador! Você já experimentou?"

Baile da terceira idade no Clube Atlético Ypiranga - Eduardo Knapp - 18.mai.2022/Folhapress

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