Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Coronavírus

'Tive medo, mas também fé', diz o médico David Uip

Em casa com Covid-19, médico diz que não se perdoaria se não participasse do combate ao vírus

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David Uip, 67, cuidava de oito pacientes com coronavírus quando foi ele mesmo infectado. Dias antes do teste que confirmou o diagnóstico, na segunda, 23, ele havia conversado com a coluna sobre a missão do médico, que não pode, como outros profissionais, se recolher no momento mais crítico da pandemia. No caso dele, havia ainda a missão de coordenar o grupo de combate à Covid-19 em SP.

Do grupo de risco pela idade e por já ter colocado três stents no coração, Uip dizia: “Minha família quer me matar. Mas, nessa hora, não tem conversa. Temos que ir para a linha de frente e acabou”.

Na sexta, 27, ele enviou um áudio por meio de WhatsApp à coluna dizendo que passa bem. Afirma que cumpriu seu papel —e que não se arrepende de nada do que fez.

“Eu estou bem. Hoje ainda cansado, mas sem febre e sem tosse. Eu desde sempre me protejo contra doenças infecciosas. Sou um técnico que lida com essas doenças o tempo inteiro. Não foi diferente desta vez. Me protegi e protegi meus pacientes da melhor forma possível.

Mas eu acho que era mais ou menos inevitável. Convivendo com pacientes o tempo inteiro, convivendo com as pessoas, era pouco provável que eu conseguisse não me contaminar no meio disso tudo.

Não é frustrante porque não deixei de fazer nada daquilo que preconizei. Me protegi, protegi os outros. Mas faz parte do risco dos que trabalham na linha de frente, faz parte do risco dos profissionais da área de saúde.

Eu sempre soube que era indivíduo de risco, por conta de ter 67 anos e três stents no coração.

Isso foi uma coisa inclusive discutida com a minha família. Eu poderia tentar me isolar, me isentar das minhas responsabilidades esperando que em algum momento eu fosse me infectar, de um jeito ou de outro. Ou poderia partir para a linha de frente, que é o meu perfil.

Eu sempre fiz isso em todas as outras epidemias e pandemias que vivi na minha vida. Eu ficaria extremamente frustrado se não participasse de todo esse embate contra o coronavírus. Eu não me perdoaria, não seria o que sempre fui se me escondesse.

Não sou nenhum herói. Tive medo, como todo mundo. Senti que poderia obviamente correr risco de vida.

Mas dois sentimentos prevaleceram. Um, de fé. Uma fé muito interessante porque gerou uma paz interna imensa.

Não me arrependo de nada que eu fiz. Faria tudo de novo.”

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