Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Sinto a mesma indignação que a maioria dos brasileiros hoje', diz Rafa Kalimann

Apresentadora e influenciadora relembra período em que tentou a carreira de modelo na adolescência, diz que precisou ir a um retiro espiritual após enxurrada de críticas feitas ao seu programa e afirma ter vontade de se posicionar politicamente

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Retrato da apresentadora, empresária e influenciadora Rafa Kalimann Mateus Augusto Rubim/Divulgação

Quando chegou à cidade de São Paulo pela primeira vez, Rafa Kalimann tinha apenas 14 anos de idade, uma mala de roupas e um colchão numa casa com dois quartos compartilhados entre 18 pessoas para chamar de seu.

Vinda de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, após crescer em Iturama, cidade com cerca de 40 mil habitantes localizada no interior de Minas Gerais, ela se mudou para a capital paulista a fim de tentar a sorte como modelo. Seis anos e oito residências depois —algumas com menos inquilinos, mas não mais requintadas—, Rafa se viu panfletando em semáforos e fazendo bicos como monitora no extinto Playcenter. Decidiu que era hora de regressar a Minas.

“[Eram trabalhos] Com muita dignidade, estava tudo bem”, diz. “Mas fui entendendo que eu não estava fazendo o que fui pra fazer, e estava ficando cada vez mais difícil. Eu não tinha dinheiro, minha família era muito pobre. Não faltava o básico, mas pra me manter em São Paulo era muito difícil.”

Retrato da apresentadora, empresária e influenciadora Rafa Kalimann - Mateus Augusto Rubim/Divulgação

Realidade distante da vivida hoje pela influenciadora, empresária, apresentadora e postulante a atriz, que aos 28 anos acumula 21,9 milhões de seguidores no Instagram e três imóveis de alto padrão em Goiânia, São Paulo e Rio. “Pode ser, inclusive, que eu abra mão de São Paulo pra ficar só aqui”, diz ela, que conversa com a coluna desde sua mansão na capital fluminense.

A ideia de se tornar atriz surgiu a convite da Rede Globo após sua passagem pela edição de 2020 do Big Brother Brasil, na qual já chegou como influenciadora digital e foi finalista.

Também partiu da emissora a proposta de que ela tivesse seu próprio programa, intitulado Casa Kalimann (Globoplay). A estreia da atração no dia 28 de abril deste ano foi mal avaliada pela crítica especializada e fez com que o nome de Rafa fosse alvo de memes e chacotas, chegando a figurar entre os assuntos mais comentados das redes sociais naquela semana.

O programa consiste na recepção de convidados famosos que são expostos a desafios excêntricos, como cozinhar de cabeça para baixo, beber líquido injetado em uma bicicleta de acrílico e ser avaliado por um júri formado por cães numa prova de dança. Tudo se passa em cenários coloridos, enquanto o convidado fala sobre sua vida e é agraciado com aplausos e gargalhadas de uma plateia inexistente.

“Foi bem difícil de encarar as coisas que eu li porque eu sabia que não vinha de pessoas que queriam ver um bom resultado. Era na intenção de ferir, de diminuir, de me fazer desistir, de tentar fazer sangrar”, afirma. “Li coisas como ‘você é digna de morrer’, ‘não era você que tinha que estar fazendo isso’, ‘você é um lixo humano’.”

Fiz um retiro espiritual, inclusive, porque estava me doendo e consumindo muito. Eu, como todo ser humano, tendo a olhar pro lado negativo mais do que o positivo.” A apresentadora diz ter passado três dias no espaço evangélico Estância Paraíso, ligado ao Ministério Restaurando Vidas. A indicação partiu da cantora Simone, da dupla Simone e Simaria.

“Fui entendendo que, na maioria das vezes, a dor da pessoa que está falando é muito maior do que a minha em receber essa crítica. A gente está num momento muito difícil, de muito medo, de muita angústia. E acho que a internet, infelizmente, virou uma válvula de escape pra muita gente colocar pra fora todo esse ódio. Foi uma coisa tipo: ‘Falar mal da Rafa está na onda, vou entrar nela que não vai sobrar pra mim’. Foi o efeito manada o que eu senti.”

Retrato da apresentadora, empresária e influenciadora Rafa Kalimann - Mateus Augusto Rubim/Divulgação

Tendo recebido formação católica na infância, a iniciação de Rafa na igreja evangélica se deu no período em que foi para São Paulo trabalhar como modelo e buscou por acolhimento.

Outro pilar estruturante em sua vida é a família. “Mesmo tendo uma situação difícil, vendo meu pai e minha mãe lutarem muito para ter comida na mesa, a gente sempre foi muito feliz. A base que eles nos deram de respeito, de educação é muito linda. Foi tudo à base de muito amor, de muita conversa, de muito diálogo.”

Não que não haja rusgas nessa relação. Vem da família a explicação para que ela se isente de manifestações públicas sobre o cenário político do país. “A única questão em que eu entro em conflito direto com o meu pai é política. Isso é muito sério na minha casa”, afirma, com a voz embargada.

Rafa diz que seu pai “tem uma visão muito extremista sobre tudo”, da qual discorda, que já o convenceu a excluir suas contas nas redes sociais, onde chegava a ter “17 mil publicações só voltadas para o atual governo”, e que é dele o pedido para que não se posicione.

“Eu ficava muito mal quando via as postagens dele, a maneira com que ele usava mentiras para defender o que ele acreditava. Eu sei que ele não é o que ele fala nas redes sociais.”

“Um lado meu entende que eu preciso respeitar e honrar meu pai, mas um lado meu grita com vontade de falar tudo o que eu penso”, afirma. “Do mesmo jeito que ele sente necessidade de pôr pra fora o que ele pensa, eu tento explicar que eu também sinto essa necessidade, mas não quero que seja um motivo pra gente deixar de se falar, como já aconteceu no passado.”

“Está claro para todo mundo que tem muita coisa errada acontecendo. A mesma indignação que a maioria dos brasileiros sente hoje, eu também sinto.”

Apesar do desejo de se posicionar politicamente, Rafa Kalimann pondera que o alcance de sua influência nas redes sociais é outro fator que faz com que ela se cale em momentos em que é convocada pela opinião pública. “Antes do BBB, eu até falava mais sobre várias outras coisas. Hoje, busco aprender muito mais.”

“Até mesmo essa questão do racismo. Na verdade, antes eu nem lia sobre —sendo bem sincera—, e eu aprendi a fazer isso com o [ator e ex-BBB] Babu [Santana], aprendi com a [médica, influenciadora e ex-BBB] Thelminha, a importância de aprofundar nisso, de entender historicamente o que é o racismo no Brasil. Eu preciso, antes de mais nada, estar completamente conectada com o tema para depois influenciar 20 milhões de pessoas.”

Retrato da apresentadora, empresária e influenciadora Rafa Kalimann - Mateus Augusto Rubim/Divulgação

O nome de Rafa Kalimann, que é embaixadora da ONG Missão África e desenvolve trabalhos no continente, foi envolvido no debate racial ainda durante seu confinamento no BBB 20. As críticas associavam Rafa, assim como outras personalidades brancas, ao que é descrito como o “branco salvador”: pessoas que publicam fotos durante missões humanitárias com crianças e adultos em situação de vulnerabilidade, sem contextualizar ou dizer quem são esses indivíduos, para serem reconhecidas.

Rafa discorda. “Foi a única coisa que me machucou quando eu saí [do BBB], porque pegou num lugar que é muito forte pra mim. Eu comecei a fazer missão na África antes das pessoas conhecerem o meu trabalho nas redes sociais, são oito anos já. A gente não para. Todos os dias [é] um caso diferente, todos os dias é uma criança que a gente acompanha que está com problema grave de saúde, que a gente precisa levantar um apoio para conseguir levar um remédio até lá.”

“Também entendo que muitos já fizeram nessa intenção [de se autopromover]”, segue. “Mas essas pessoas não tentaram entender a fundo o que é esse trabalho e o que eu estava fazendo lá. É um trabalho de 335 dias. Os 30 dias em que a gente está lá são os únicos que eu mostro. Falam que eu uso isso pra, de certa maneira... Eu não sei nem a palavra que eles usam... Pra me promover. Mas não conhecem esse trabalho do lado de cá.”

Ela diz que pretende retomar suas “missões” no pós-pandemia e que tem muitos projetos pela frente, inclusive para o programa Casa Kalimann. “O Boninho [diretor na Globo] está muito feliz com o resultado.”

“Tem que ter coragem, e isso a gente teve de sobra para esse programa. A gente não tem medo. Se tiver outra temporada e precisar mostrar outra coisa completamente diferente, a gente também está disposto.”

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