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Deputado bolsonarista faz moção de repúdio contra Paulo Betti, e ator diz ver como elogio

Artista é acusado de 'doutrinação ideológica' após palestra em escola

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A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) publicou nesta terça (26) uma moção de repúdio contra o ator Paulo Betti por causa de declarações contrárias ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As falas ocorreram no início deste mês durante uma palestra a alunos da Escola Estadual Antonieta Ferrarese, em Votorantim, no interior paulista.

A manifestação é assinada pelo deputado estadual bolsonarista Danilo Balas (PSL), que também acusa o artista de promover "doutrinação ideológica".

"O ator Paulo Betti afirmou que o presidente da República foi eleito de forma irracional, comparando-o ao outro candidato à Presidência, à época [Fernando Haddad, do PT]", diz o parlamentar na moção, que foi publicada no Diário Oficial do estado de São Paulo.

O ator Paulo Betti - Victor Pollak/TV Globo

"Posteriormente, mencionou o chefe da assessoria internacional do presidente da República, Felipe [sic] G. Martins, que é da mesma cidade dos alunos e ofendeu, em uma primeira análise, sua honra, ao chamá-lo de fascista", segue.

Em março deste ano, Filipe Martins foi acusado de fazer gestos obscenos e racistas às costas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Enquanto o Pacheco discursava, o assessor da Presidência fez um círculo com o dedo indicador e o dedão, deixando os demais dedos esticados —um gesto ligado à ideia de supremacia branca

Martins chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal, mas neste mês foi absolvido pela 12ª Vara Federal de Brasília, que disse não haver elementos suficientes para comprovar a acusação. Cabe recurso da decisão.

À coluna, Paulo Betti diz não se importar com a ofensiva do parlamentar bolsonarista. "Agendinha de político menor pra alimentar suas bases obscurantistas. Para mim, soa como elogio", afirma. "Por que esse deputado não arruma um artista que tenha outro desenho ideológico para fazer palestra na escola?", questiona.

"É o movimento de repressão que temos no Brasil hoje. Ele é orquestrado de uma forma sistemática, com as fake news e aquele esquema todo criado pelo gabinete do ódio. As pessoas estão com medo de publicar coisas na internet, com medo de ser perseguidas. Há um clima de ameaça no ar", diz Paulo Betti.

O ator conta que tem o hábito de aceitar convites, de forma gratuita, para conversar com estudantes interessados em seu trabalho. E topou participar da live da Escola Estadual Antonieta Ferrarese pelo fato de Votorantim ser a cidade de muitos de seus familiares, além de já ter trabalhado nela. "Dei tudo de mim nessa live, falei tudo com a maior honestidade", afirma.

Em resposta à moção de repúdio, o deputado estadual paulista Raul Marcelo (PSOL) protocolou na Alesp uma moção de aplauso em homenagem à escola e aos educadores responsáveis por promover o debate com Paulo Betti.

"Um absurdo sem fim o que estão querendo fazer com uma das maiores referência da cultura brasileira, que é o sorocabano Paulo Betti", afirma Macedo.

"Nossa Constituição Federal de 1988 e a LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação] asseguram e até incentivam esse contato da escola com o mundo artístico. O que esse pessoal quer, no fundo, é impedir a circulação livre de ideias no ambiente escolar. Autoritarismo puro", diz o deputado estadual.

com LÍGIA MESQUITA, VICTORIA AZEVEDO, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

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