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'Torci muito por esse remake de 'Pantanal', diz a Guta da versão de 1990

A atriz Luciene Adami mora hoje em Porto Alegre e faz sucesso nas redes sociais ao publicar vídeos das cenas originais da trama

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A atriz Luciene Adami mostra foto de quando fez a Guta, na primeira versão de

A atriz Luciene Adami mostra foto de quando fez a Guta, na primeira versão de "Pantanal" Marcos Nagelstein/Folhapress

São Paulo

A atriz Luciene Adami, 58, estava em um velório quando a viúva a viu e disse: "Guta, você veio". Confundirem a artista com a personagem de "Pantanal" que ela interpretou há 32 anos não é incomum —e pode acontecer até nos locais mais inusitados. "Já estou acostumada", afirma ela, aos risos.

"É uma coisa impressionante o tamanho, o alcance que essa novela teve. E o jeito que ela não abandona as pessoas. Parece que entrou no coração mesmo. Como é que pode, depois de 30 anos, as pessoas lembrarem nome de personagem?", reflete.

Desde que a Globo passou a exibir o remake de "Pantanal", no fim de março, Luciene também exibe a "sua novelinha particular". Diariamente, em seu Instagram, ela publica vídeos com trechos da versão original da trama. "Eu nunca fui muito de redes sociais. Foi meio no impulso que decidi fazer isso. Era um jeito de expor um trabalho do qual eu tenho muita honra de ter participado", diz.

A intenção era também homenagear as pessoas que trabalharam na trama, além de matar a saudade dos fãs da história escrita por Benedito Ruy Barbosa e que arrebatou o Brasil no início dos anos 1990.

Desde então, a atriz viu a sua popularidade na rede social aumentar de cerca de 5.000 seguidores para 32,9 mil até a última sexta (3). Nem era esse o objetivo, diz. "Sempre que falavam 'eu tenho tantos mil seguidores', eu pensava: 'Gente, pelo amor de Deus, eu não quero muita gente me seguindo'", afirma.

Mas Luciene tem gostado da repercussão. "As pessoas são tão amorosas e carinhosas comigo". Também há entre as mensagens muitos pedidos para que ela volte a atuar. "Mas eu nunca parei", rebate.

Sua última aparição em novelas foi em "Cristal", do SBT, exibida em 2006. Ela afirma ter atuado também no teatro e em séries como "171- Negócio de Família", de 2016, exibida na Universal. Além disso, se dedicou a dar aulas de teatro, ofício que pretende voltar a exercer em breve.

Afirma ter parado, de fato, com a pandemia. Pouco antes, no final de 2019, Luciene se mudou de São Paulo para Porto Alegre, cidade em que nasceu. "Os meus pais estão com muita idade e precisavam de apoio", explica. No ano passado, voltou a atuar ao gravar a série "Centro Liberdade", da Prana Filmes, na qual faz a vilã Helena. A produção ainda não tem previsão de estreia.

Foi de sua casa, onde mora com o marido, o português Ricardo Silva, e duas gatas, que ela conversou com a coluna por vídeo.

"Eu estou achando linda, linda demais a versão atual da novela", diz ela logo no início da entrevista. "É difícil fazer um 'Pantanal' ruim, porque a história é muito envolvente. Eu costumo brincar que o Benedito [Ruy Barbosa] é quase um Nelson Rodrigues light, porque ele aborda situações que acontecem na vida das famílias, mas de uma forma delicada", afirma.

Como exemplo, a atriz cita a trama de sua personagem Guta, que se apaixona pelo meio-irmão Marcelo, interpretado por Tarcísio Filho.

Luciene diz que é um "alívio" ver a história de "Pantanal" ser recontada agora na Globo em "todo o seu esplendor", já que as imagens da versão de 1990 se deterioraram ao longo dos anos. "É um aconchego ao coração."

Gostaria de fazer uma participação no remake?, questiona a coluna. "Se me chamassem, eu ia. Mas já foi, né?" Luciene diz que se pega imaginando que o elenco atual da trama tem se divertido tanto quanto ela e seus colegas, há três décadas. "Fico pensando que eles são todos amigos e se gostam."

A atriz lembra que gravar no Pantanal era "mágico". "Era como se a gente tivesse vivendo uma grande aventura em um lugar incrível. Não parecia trabalho."

Das muitas lembranças, ela cita as noites jogando gamão com o ator Claudio Marzo (1940-2015), as rodas de viola com Almir Sater e Sérgio Reis e a Tuiuiú Dance, como eles nomearam uma "boate improvisada" que criaram na casa em que ficaram hospedados. "Fazíamos umas noitadas lá de música e dança. A gente se divertia muito, muito, muito", reforça.

As belezas naturais também se destacam nas recordações da atriz, como quando ela foi gravar com Tarcísio Filho e eles encontraram um ovo de jacaré recém-chocado. "Era a coisa mais linda."

A sua entrada em "Pantanal" aconteceu por indicação da atriz Carolina Ferraz, sua amiga e que fez o papel de Irma na primeira fase da trama. Na época, Luciene apresentava o programa Revistinha, na TV Cultura, em São Paulo. Carolina foi quem falou da atriz para o diretor Jayme Monjardim. Ele a conheceu e, dias depois, Luciene foi chamada para o papel.

"Acho que de alguma forma ele me enxergou na Guta. Eu já usava aquele cabelo curtinho e tinha essa coisa bem urbana e bem moderninha da Guta", diz.

A primeira viagem para a região pantaneira já foi uma aventura, segundo lembra. Os atores seguiam até Campo Grande e lá eram recepcionados por Luiz Henrique Sant'Agostinho, conhecido também como Lilique ou "Indiana Jones do Pantanal" por conhecer tudo do local —ele também fez uma participava na trama, como Ari.

Era ele quem pilotava o monomotor de Campo Grande até o local das gravações. "Na viagem, e eu pedi para pilotar o avião", conta a atriz. "Eu perguntei para ele: É fácil? Ele respondeu que sim e me entregou. Eu pilotei por uma meia hora. Quando chegamos na fazenda, ele disse: 'Quer pousar? Aí eu disse que não", afirma, entre risos.

"Eu realmente tinha uma coisa Guta de impetuosidade, coragem", relata. Apesar desse momento de audácia, Luciene revela que um dos seus grandes desafios para fazer a Guta foi ter de andar a cavalo. "Eu nunca tinha montado. Pensei: 'Estou ferrada, e agora? Vou ser demitida no ato'".

Mas Monjardim a tranquilizou dizendo que não tinha problema, que ela aprenderia, o que de fato aconteceu.

Outro desafio da personagem eram as cenas de nudez, um dos maiores atrativos da versão da Manchete e que ficaram de fora no remake da Globo. Luciene pondera que as gravações desse tipo tinham um cuidado maior de Monjardim, que reduzia a equipe ao mínimo para que os atores ficassem mais confortáveis. "Óbvio que, mesmo assim, não é fácil."

A atriz afirma, porém, que logo que começava a filmagem, ela esquecia que pessoas a observavam e se concentrava no momento da personagem. "Eu achava que tinha de encarar, porque fazia sentido. Nunca era uma coisa gratuita. Eram sempre cenas artísticas, nus artísticos", defende.

Da Guta atual, vivida pela atriz Julia Dalavia, ela afirma que vê muitas coisas em comum —'está lá a curiosidade, a coragem, a boquinha dura'—, mas avalia que elas são bem diferentes. "E está tudo certo. São outras visões", analisa.

"Eu construí uma personagem que era super ligada e amorosa com a mãe [Maria Bruaca, interpretada por Ângela Leal], e isso justificava toda a defesa que ela fazia da mãe e das mulheres", explica. "E até com o pai, que ela enfrenta, mas ela gosta dele", diz.

"Eu não vi ainda nos planos dela [da atual Guta) construir alguma coisa nesse sentido, mas está tudo bem", avalia.

Depois de "Pantanal", a atriz fez parte do elenco de outro sucesso na Manchete, a novela "Ana Raio e Zé Trovão" (1991). Dois anos depois, em janeiro de 1993, ela sofreu um grave acidente de carro em que correu o risco de perder a perna. Foram oito cirurgias e tratamento intensivo por um ano para se recuperar.

"O sucesso é cruel, né, o sucesso tira a gente do prumo com uma facilidade muito grande. Eu usei esse momento [da recuperação do acidente] como uma oportunidade de olhar com mais carinho para tudo, de olhar com mais gratidão para a vida, para as pessoas."

Assim que terminou o tratamento, em dezembro daquele mesmo ano, ela foi convidada para participar da novela "Éramos Seis", no SBT. Luciene integrou o elenco de outras tramas na emissora, na Record e na Globo, mas nunca com a mesma repercussão da Guta. Ela afirma que deverá gravar uma comédia neste ano e que está aberta para trabalhos na TV, no cinema e no teatro.

"Torci muito por esse remake de 'Pantanal', porque a gente foi tão feliz fazendo e acho que a gente fez tanta gente feliz. E isso acontecer mais uma vez, nesse momento tão conturbado da nossa vida, da vida desse país, e trazer um pouco de leveza, alegria e conforto para a casa das pessoas, é muito bom."

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