Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Caixa Econômica Federal

Artista censurada na CEF por mostrar Arthur Lira no lixo sofre ameaças e bloqueia redes sociais

Caixa Econômica Federal suspendeu mostra depois de protestos de bolsonaristas e do Centrão

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A artista plástica Marília Scarabello, que teve uma exposição censurada pela Caixa Econômica Federal (CEF) por mostrar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em uma lata de lixo, suspendeu suas redes sociais depois de receber ataques e ameaças.

A imagem mostrava o ex-ministro Paulo Guedes e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) no mesmo cesto.

"Estou sendo agredida e desqualificada. As pessoas xingam, ameaçam. Entrei no olho do furacão, mergulhei em um verdadeiro inferno por uma narrativa falsa sobre o meu trabalho", afirma ela.

Fragmento da coleção "Bandeira", da artista visual Marília Scarabello, que foi exposta na Caixa Cultural de Brasília; imagem mostra Arthur Lira, Paulo Guedes e Damares Alves dentro de uma lata de lixo, que está encoberta pela bandeira do Brasil - Reprodução

A exposição foi aberta no dia 17 de outubro e se chamava "O Grito!".

A reação de políticos do Centrão e de bolsonaristas foi ruidosa nas redes sociais. Parlamentares ameaçaram acionar o Tribunal de Contas da União e a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) protocolou requerimento para convocar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a prestar esclarecimentos.

Na terça (24), a CEF cancelou a programação afirmando que o "viés político" feria diretrizes do programa cultural na qual ela estava inserida (leia nota oficial da instituição no fim do texto). A mostra foi desmontada às pressas.

Nela, sete artistas tratavam da Independência do Brasil por meio de pinturas, esculturas, videoarte, instalações, desenhos e fotografias.

Marília Scarabello foi convidada para participar da exposição com seu trabalho "Bandeiras", uma coleção de imagens em que a bandeira do Brasil foi usada como forma de protesto. Ela cataloga esses registros desde 2016.

"Eu percebi que as pessoas pegavam a bandeira do Brasil e manipulavam, inseriam frases no lugar de 'Ordem e Progresso', faziam montagens com fotografias, charges, desenhos, colagens, tudo para se manifestar", explica Marília.

"Me interessei por aquelas vozes falando todas ao mesmo tempo, e que muitas vezes estão em conflito, mas que convivem em um Estado democrático de Direito, como é o Brasil", segue.

"Eu printava e guardava, e comecei a colocar no meu Instagram. As pessoas passaram a me enviar outras imagens", diz a artista. Em pouco tempo, ela já tinha uma coleção de mais de 2.000 bandeiras modificadas, que julgou retratar o próprio país.

"É um retrato do Brasil e de suas múltiplas e diversas manifestações", diz. "É uma colcha de retalhos. Há protestos pró-aborto, contra o aborto, pró-Bolsonaro, contra o Bolsonaro, contra o Lula, a favor do Lula. Meu trabalho é quase o de um colecionista. Eu não fabrico as imagens que estão lá."

Marília enviou à coluna fotografias de bandeiras que mostram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, num foguete e a frase: "Vai ser no primeiro turno". Outra montagem usa o slogan anticomunista "A Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha".

Na época, Arthur Lira apoiava a reeleição do então presidente.

A artista explica que a coleção "tem um olhar para manifestações múltiplas de uma população múltipla. Ela mostra o que está acontecendo no Brasil, porque tudo vai parar na nossa bandeira, que as pessoas usam para protestar."

Marília diz ainda que "jamais" imaginou que a reação a seu trabalho levaria ao cancelamento da exposição, anunciado na terça-feira (24) pela Caixa.

"Uma pessoa visitou a mostra e filmou as imagens de bandeiras que, de alguma forma, a ofendiam. E criou uma narrativa que não corresponde ao que era a exposição", afirma.

Marília explica ainda que não fez uma pré-seleção de bandeiras para serem expostas em Brasília. "Baixei as imagens, sem critério, misturei e coloquei na exposição", diz.

A mostra foi selecionada no Programa de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural 2023/2024, em que projetos são patrocinados para ocupar áreas do banco.

Como mostrou a coluna, a Caixa já tinha desembolsado R$ 75 mil pela exposição "O Grito!", agora completamente desmontada.

O valor total do contrato firmado entre o banco e os proponentes somava R$ 250 mil. O pagamento deveria ser feito em parcelas, seguindo um cronograma, sendo que o último desembolso ocorreria após o fim da mostra.

Como o projeto foi cancelado, apenas a primeira parcela, correspondente a 30% do montante —ou R$ 75 mil—, ficou saldada.

Leia, abaixo, a nota da CEF em que ela informa que a exposição foi cancelada:

"A CAIXA informa que a exposição "O grito!" foi selecionada no âmbito do Programa de Ocupação dos espaços da CAIXA Cultural 2023/2024, modelo de seleção pública para projetos culturais que são patrocinados para ocupação dos espaços do banco.

A obra "Bandeiras" compõe a exposição e apresenta uma coleção de imagens do público em geral recebidas pela artista Marília Scarabello, desde 2016, com releituras da bandeira brasileira que retratam os mais diversos imaginários acerca do Brasil, com variadas manifestações de pensamento.

Considerando que foi identificada na obra em questão manifestação com viés político-partidário, o que fere as diretrizes do programa, a CAIXA decidiu cancelar a referida exposição.

A direção do banco informa ainda que determinou apuração de responsabilidades pelos órgãos internos."


TROFÉU

A cantora Marina Lima se apresentou na 19ª edição do Prêmio Empreendedor Social, na noite de terça-feira (24), no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. O ator Bruno Gagliasso apresentou o evento, que premiou Robson Melo, fundador da plataforma Estante Mágica. O multiartista Miguel Vicente, mais conhecido como Miguelzinho do Cavaco, também se apresentou na cerimônia

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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