Os brasileiros na Faixa de Gaza estão driblando os cortes de energia impostos por Israel ao território andando de carroça e recorrendo à energia solar.
Um deles, Hasan Rabee, fez vídeos relatando como consegue recarregar a bateria de seu celular: ele vai a um local em que um palestino tem dispositivos que captam a energia do sol, transformada em energia que recarrega a bateria.
"Quando eu quero carregar o celular, tenho que andar bastante, carregando sacolas. Trazer onde o cara tem energia solar, depois devolver [voltar] de novo", explica ele em vídeo gravado nesta manhã em Gaza.
"Sofrimento pra caramba", segue.
Na sexta (27) as comunicações de Gaza com o mundo foram cortadas pelos bombardeios de Israel, mas agora estão sendo retomadas.
Hasan Rabee também mostra como se locomove no território: ele anda de carroça, já que não há combustível para automóveis.
"A gente não está achando transporte. Por isso, [para] comprar algumas coisas para guardar comida, alimentação, tem que andar no burro. A maioria do povo é [faz] a mesma coisa. Tudo a mesma coisa", diz ele, narrando seu trajeto em cima de uma carroça.
Carros de diesel, segundo ele, usam óleo de cozinha como combustível. "Infelizmente é muito triste. Muito triste", diz Hasan Rabee.
Palestino, ele é casado com uma brasileira e tem cidadania do país.
Por isso, aguarda com a mulher e as duas filhas para retornar ao Brasil, onde vive e trabalha.
Hasan, a mulher e as crianças foram a Gaza visitar a mãe dele, Heyam Rabee, e as irmãs, Rawan e Yassmin Rabee.
No total, 34 pessoas estão sob os cuidados da diplomacia brasileira. São 24 brasileiros, 7 palestinos em processo de imigração e 3 palestinos familiares próximos que darão início à imigração.
O grupo sob o cuidado do governo do Brasil tem 18 crianças, 10 mulheres e 6 homens.
Eles estão divididos entre as cidades de Rafah (18 pessoas) e Khan Yunis (16 pessoas).
Nesta segunda (30), o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, afirmou ser urgente retirar os brasileiros de Gaza.
O próprio presidente Lula já conversou com os presidentes de Israel e do Egito para apelar pela saída, em vão.
"Enquanto aguardamos, e a espera é demasiadamente longa e preocupante, estamos lutando para que os brasileiros não sejam afetados pela catástrofe humanitária que assola Gaza. Estamos alugando casas (os brasileiros não estão em abrigos), protegendo-os dos bombardeios por meio de informações de localização compartilhadas com Israel, e conseguindo enviar recursos para que comprem alimentos, água, gás e remédios no precário mercado local", diz o embaixador.
"Estamos oferecendo apoio de psicóloga e médico a distância. Infelizmente, as perspectivas são de rápida degradação das condições de vida e segurança. Os brasileiros têm que ser autorizados a sair o mais rápido possível pelas partes envolvidas, para retornarem a salvo ao Brasil".
Ele afirma ainda esperar que "a plena abertura de um corredor humanitário pela ONU [para o transporte de ajuda humanitária] deve contribuir. Há centenas de estrangeiros na mesma situação dos brasileiros".
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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