Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Sionistas de esquerda racham por apoio de padre Julio aos palestinos, e ele se diz incrédulo

Pároco diz à coluna que jamais apoiou o Hamas e não esconde seu desânimo ao ver seu nome sendo associado a posições com as quais diz não compactuar

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O padre Julio Lancellotti diz estar incrédulo com as críticas feitas a ele pelo Coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, em carta publicada nesta terça-feira (7), por causa de sua participação em um ato pró-Palestina ocorrido no final de semana passado, em São Paulo.

Em uma carta pública, o grupo disse lamentar a presença do pároco em um ato em que a maioria manifestou solidariedade aos palestinos —mas em que indivíduos isolados empunharam a bandeira do grupo terrorista Hamas. Uma bandeira associava a Estrela de Davi, símbolo de Israel, à suástica nazista.

O padre Julio Lancellotti durante exibição do filme "O Que Nos Espera", feito em sua homenagem, em São Paulo - Marlene Bergamo - 12.ago.2023/Folhapress

Lancelotti, no entanto, em momento algum manifestou apoiou ao Hamas. Ele afirma que a faixa com teor antissemita não estava em suas mãos e que qualquer pessoa está sujeita a se ver rodeada por dizeres e símbolos com os quais não concorda em um espaço público.

A iniciativa do grupo de sionistas que se dizem de esquerda dividiu seus próprios integrantes. O professor de sociologia Michel Gherman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). pediu que seu nome fosse retirado da carta e anunciou que não terá mais vínculo com o coletivo.

A entidade Judeus pela Democracia (JPD) esclareceu no Twitter que "não houve ataque do JPD (ou da esquerda judaica) ao padre Julio". Integrantes da Conib (Confederação Israelita do Brasil) também foram contrários a qualquer tipo de crítica pública ao padre.

"Eu não ataquei os judeus", diz o padre, em conversa com a coluna. "O mundo inteiro está cobrando o Estado de Israel. Será que tem alguém que acha que os mortos na Palestina eram todos terroristas do Hamas? Que as 4.000 crianças mortas eram todas terroristas? Criança é criança", acrescenta.

"Hoje você olha as cenas do povo [na Faixa de Gaza], com as bandeiras brancas, descendo para o sul da Palestina. Isso não toca o coração de ninguém? E quem falou que está certo matar os 1.400 [judeus assassinados pelo Hamas]? Onde eles me viram fazer isso?", questiona.

Na carta, o coletivo que reúne sionistas de esquerda cobrou que Lancellotti demonstre pelos israelenses mortos pelo Hamas em 7 de outubro "o mesmo fervor" com que defende aqueles que se encontram sitiados na Faixa de Gaza.

Ao discursar por pouco mais de um minuto na avenida Paulista, na região central de São Paulo, Lancellotti disse falar "em nome dos massacrados, dos pequenos, dos que sofrem o genocídio" e fez apelos pelo fim "de tanta covardia". "Israel, além de ser um Estado assassino, é um Estado covarde", afirmou, na ocasião.

"Graças a Deus, nem todos os judeus e nem todos os israelitas comungam e apoiam esse governo assassino, esse governo que mata e que destrói o povo palestino", disse ainda.

O pároco diz à coluna que jamais apoiou o Hamas —e não esconde seu desânimo ao ver seu nome sendo associado a posições com as quais diz não compactuar. "Estão chutando cachorro morto", afirma.

"Onde é que está a associação? Defender o povo palestino é defender o Hamas? Defender o povo israelense ou o povo judeu é defender o Estado de Israel? O próprio grupo, esse Sionistas de Esquerda, pede a renúncia do primeiro-ministro [de Israel, Binyamin Netanyahu]", aponta.

O padre ainda diz que a contenda gerada pela carta "força a barra" e é coisa de "quem não tem o que fazer". E afirma que suas palavras não têm o condão de promover qualquer tipo de mudança no curso da guerra travada entre Israel e o grupo terrorista Hamas ao longo do último mês.

"Quem sou eu nesse jogo? Que mudança teve na guerra desde o que eu falei? Eu não passo de uma merda seca. O que mudou com a minha fala? Morreu alguém por causa do que eu falei? Alguém ia dar um tiro na cabeça de alguém e depois não deu? A minha palavra é igual ao latido de um cachorro num fundo de quintal", afirma o pároco.

"Eu não sou nada para eles, não significo nada. Não tenho nenhuma influência nas posições sobre a guerra. E por que eles foram se preocupar com um imbecil que estava lá, sendo que falaram coisas muito piores [durante o ato em São Paulo]? Estão implicando comigo por quê?", questiona.

Lancellotti ainda diz lamentar receber, em seu celular, mais mensagens de pessoas mostrando críticas feitas a ele do que manifestações de solidariedade. "Ninguém me liga por causa de apoio. Ninguém."


MINHA HISTÓRIA

A ex-cerimonialista do Palácio dos Bandeirantes Brasilia de Arruda Botelho recebeu convidados para o lançamento da biografia "Brasilia Botelho: A Grande Dama Cerimonialista" (Azulsol), escrita pelo jornalista Ricardo Viveiros. O evento foi realizado na Livraria da Travessa do shopping Iguatemi, na capital paulista, na noite de segunda (6). A ex-secretária de Educação de São Paulo Rose Neubauer esteve lá.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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