Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Extrema direita não tem compromisso com Israel, e crise com Lula é 'página virada', diz nova diretora do IBI

Manoela Miklos critica uso de bandeiras em ato de Bolsonaro e defende solução de dois Estados em conflito no Oriente Médio

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Recém-empossada como diretora-executiva do Instituto Brasil-Israel (IBI), Manoela Miklos critica o uso de bandeiras e símbolos do país israelense durante a manifestação realizada por Jair Bolsonaro (PL) no domingo (25), diz que a fala do presidente Lula (PT) que deflagrou uma crise diplomática com o governo de Binyamin Netanyahu é "página virada" e reitera a defesa da entidade pela solução de dois Estados.

"A extrema direita truculenta vai para as ruas carregando bandeiras, mas sem ter compromisso com a busca por uma paz duradoura na região, com os mortos, os desaparecidos e os reféns, com a complexidade de um processo de paz", diz Miklos à coluna, ao falar sobre o ato bolsonarista.

Jair Bolsonaro e aliados durante manifestação em apoio ao ex-presidente na avenida Paulista, em São Paulo - Danilo Verpa - 25.fev.2024/Folhapress

As bandeiras de Israel foram onipresentes durante a manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, no fim de semana. No trio elétrico que teve Bolsonaro como protagonista, o país do Oriente Médio foi lembrado em discursos e também em oração feita pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Até mesmo bandeiras com estrelas de cinco pontas, que formavam um pentagrama em vez da tradicional estrela de Davi, chegaram a ser comercializadas. O vídeo de um grupo de senhoras que afirmam estarem vestindo a bandeira de Israel por serem cristãs viralizou nas redes, como mostrou o blog Hashtag.

Miklos afirma que o uso da imagem de Israel pela extrema direita vem de um longo processo histórico e "é maior que o próprio Brasil", podendo ser visto também em outros países. Para ela, a instrumentalização seria pautada por um país "imaginado" pelo segmento e que buscaria atender a interesses políticos.

"Carregam a bandeira de Israel apenas pensando em si mesmos e nos seus próximos passos, enquanto tem gente sofrendo muito lá e precisando de pessoas que de fato as acolham e ajudem," afirma ela, que defende o fim da guerra e a criação de um Estado palestino ao lado de um Estado de Israel.

Com passagem por organizações e entidades como Instituto Pólis, o Instituto Alana e a Conectas Direitos Humanos, Miklos é mestre e doutora em relações internacionais e direitos humanos e já deu aulas na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

"Eu sou cria do movimento de mulheres, tenho um compromisso inabalável com a democracia e com os direitos humanos e vejo o IBI como um agente de mudança capaz de contribuir em todas essas frentes", afirma ela.

Miklos assumiu a diretoria-executiva do IBI na semana passada, dias após Lula afirmar que as ações militares israelenses na Faixa de Gaza configuram um genocídio e fazer um paralelo com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante o Holocausto.

A fala deu pretexto para o governo de Netanyahu fazer críticas e ataques contra o brasileiro e declará-lo "persona non grata". No Brasil, diversas entidades criticaram o presidente pela declaração —inclusive o IBI, que fez uma série de manifestações e classificou a posição como "negacionista" e "um erro grosseiro".

Na sexta-feira (23), Lula voltou a dizer que o governo de Israel está cometendo um genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza e disse que a fala da semana anterior foi mal interpretada, evitando citar a comparação diretamente. A nova declaração foi recebida com bons olhos pelo Instituto Brasil-Israel.

"Fizemos, enquanto IBI, todas as nossas críticas possíveis durante a semana e vemos [a nova fala de Lula] menos como uma fase nova do conflito e mais como água na fervura, uma oportunidade para falar sobre o que, para nós, é consenso", afirma a diretora-executiva da entidade.

"É uma página virada", diz Miklos. "Quero crer que a gente está superando essa crise diplomática com possibilidades e oportunidades. O IBI quer uma solução de dois Estados. Isso é uma coisa difícil de se fazer, e Lula se compromete com essa pauta."

A diretora-executiva do IBI, Manoela Miklos - Divulgação

À frente do IBI, Miklos diz querer dar continuidade aos esforços do instituto em busca de diálogos pela paz entre israelenses e palestinos, além do combate ao antissemitismo no Brasil.

Ela afirma que a própria entidade traz, internamente, diferentes posições sobre o conflito e a crise histórica na região, mas diz que divergências são sempre bem-vindas.

"A cada passo público, a gente tem muitas conversas, e naturalmente algumas contemplam mais um grupo do que outros. O importante que é sempre um debate feito sempre com muito respeito. Estranho é uma organização que trabalha com um tema tão sensível e, da porta para dentro, não se faz um milhão de perguntas", afirma.

"Toda organização comprometida com os direitos humanos e com a democracia convive com dissensos e consensos. Divergências existem e são bem-vindas. São elas que nos permitem aprofundar o debate sobre o que se passa no Brasil e em Israel e seguir relevante."

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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