Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Não tenho talento pra nada, sou um resolvedor de problemas', diz Rodrigo Lombardi

Galã na TV aberta, ator de 47 anos diz ter problemas de autoestima, fala sobre a sua estreia em uma novela de João Emanuel Carneiro, de projetos fora da Globo e do desejo de ter uma carreira internacional

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O ator Rodrigo Lombardi - Karime Xavier / Folhapress

Já faz 11 anos que a novela "Salve Jorge" saiu do ar, mas Rodrigo Lombardi, 47, conta que até hoje as pessoas o param na rua e citam o verso da música de Roberto Carlos que embalou o seu personagem: "Esse cara sou eu".

Desde que explodiu na Globo como o Raj de "Caminho das Índias", em 2009, o paulistano virou um dos principais galãs da TV aberta. Apesar do sucesso, ele diz que é "muito tímido, medroso" e que sempre lidou com "problemas de autoestima".

"Esse cara não sou eu", afirma o ator durante a conversa de quase duas horas com a coluna. Embora não aparente ser introvertido, Lombardi diz viver sob a constante sensação de achar que não é bom o suficiente, seja para um papel ou em outros aspectos da vida.

Para amenizar isso, ele diz que estuda muito. O que, não raro, lhe leva a ficar doente nas férias ou até mesmo durante um trabalho. "Eu gostaria de um dia conseguir explicar o quão desgastante é fazer uma novela, uma série."

A brincadeira do "esse cara não sou eu" tem também um outro motivo. Muitos dos personagens que interpretou na TV não foram inicialmente pensados para o ator. Na série "Carcereiros" (2017-2021), por exemplo, ele assumiu o protagonista após a trágica morte de Domingos Montagner (1962-2016).

Já para o Moretti de "Travessia" (2022) ele foi chamado depois de Alexandre Borges ter de deixar a novela por outros compromissos. E foi assim também em "Mania de Você", nova trama das nove da Globo, que estreia nesta segunda (9).

Na história, a primeira que Lombardi faz de João Emanuel Carneiro, ele terá uma participação breve como o vilão Molina, personagem inicialmente pensado para Murilo Benício.

Ser chamado de última hora, como "uma tijolada na nuca", e dar conta do recado acabou se transformando em algo positivo para Lombardi, que gosta de se autodefinir como um "resolvedor de problemas".

Com todas as suas cenas já gravadas —segundo a sinopse, Molina morrerá na primeira semana—, Lombardi planeja viajar em breve para Nova York para estudar.

Afirma ter diversos projetos, muitos deles como criador —até porque diz que seu contrato fixo com a Globo vai até o ano que vem e, assim como a emissora tem adotado com a maior parte do elenco, não deverá ser renovado.

Louco por videogame, mas "zero da tecnologia", Lombardi conta que desenvolve um game ao lado dos atores Renato Góes e Márcio Fecher.

Também anuncia que está escrevendo uma HQ e pesquisando novas linguagens, com foco no digital. Além disso, revela o objetivo de ter uma carreira internacional e de, quem sabe, um dia interpretar um super-herói ao estilo do blockbuster "Os Vingadores". "Mas pode ser até o Chapolin Colorado", afirma, entre risos.

DESISTÊNCIA

Eu desisti umas três vezes de ser ator. Em uma das vezes, fui ajudar meu pai, que estava doente, a carregar malas e a dirigir. Ele era representante de moda, vendia malharia e camisaria das fábricas para as lojas. Eu ia visitar os clientes com ele.

Quando você se vê numa necessidade, não para pra pensar se você gosta ou não. Você resolve. Eu fui contrarregra antes de entrar na Globo.

NOVELA

Adoro fazer novelas, adoro trabalho. Mas acho que hoje sou uma pessoa que, graças a Deus, posso escolher um pouco mais.

Eu tive momentos em "Travessia" em que achei que ia pirar, porque a gente só sabia o que ia gravar muito em cima da hora. Foi um tumulto muito grande aquela novela.

Não que eu só vou entrar em novelas que não são tumultos. Tumultos acontecem. Não era pra ser, acabou sendo e tem que saber lidar com isso. Mas se já de cara a gente puder evitar, melhor.

SACRIFÍCIOS

Eu gostaria de um dia conseguir explicar o quão desgastante é fazer uma novela, uma série. Eu gostaria de somar todas as minhas idas e as dos meus colegas ao hospital. Porque machucou numa cena, porque teve uma estafa, porque teve pico de pressão.

Em "Carcereiros", tive três picos de pressão. De acordar no meio da noite com a cabeça explodindo, achando que eu ia morrer.

Eu era o protagonista único. Se quisesse fazer xixi, precisava parar o set. E era um ambiente muito hostil, uma energia que você tem que dar um calor, uma cor para aquilo que é tudo cinza, que é tudo para baixo [inspirada no livro do médico Drauzio Varella, colunista da Folha, a produção se passa em um presídio].

Foi difícil, mas foi igualmente prazeroso. A gente lida com essas duas forças. Foi uma série, na minha opinião, das melhores que eu já fiz.

AUTOESTIMA

Sou muito tímido, medroso. Tenho problema de autoestima. Lidei com isso a minha vida inteira. Depois que eu virei um ator bem-sucedido, isso não deixou de existir na minha vida, essa sensação de não me achar suficiente.

Isso já foi um fator impeditivo para mim, me travava demais. Mas eu aprendi a olhar de uma forma que não me incomodava mais. Passou a ser a minha mola propulsora, o meu combustível.

Se eu acho que não sou suficiente para um papel, isso não vai me travar mais. Eu penso: "O que eu preciso fazer?". Eu preciso saber o que eu posso oferecer para esse personagem não ser só um personagem.

Tudo que eu faço, eu estudo muito. Sempre é muito esforço. Eu estou acostumado com esse esforço. Tanto que quando eu entro em férias, fico culpado. Acabo um personagem e, no dia seguinte, fico doente.

‘MANIA DE VOCÊ’

Eu sempre adorei o trabalho dele [João Emanuel]. Novela com cara de novela mesmo. Os atores sempre muito frescos em cena. Mas nunca nem sonhava em participar, porque não fazia parte dessa turma.

Assim como eu sempre estou nas novelas da Glória [Perez], o João tem os atores dele, a Adriana [Esteves] e outros. Eu falava: "Não, eles nunca vão olhar para mim". Aí, de repente, veio a tijolada na nuca [o convite às pressas], e eu amei.

SEM GRANDES SONHOS

Não tenho grandes sonhos com novela. E isso não é uma coisa ruim. Tenho muito pé no chão, porque venho fazendo isso muito e durante muito tempo. A gente aprende a ser mais direto. Caiu na minha mão, vou resolver. Principalmente porque nos meus últimos trabalhos têm sido assim.

Quando você pergunta qual personagem eu gostaria de fazer, e respondo que eu não vejo com esse olhar, é porque eu sou um cara que passou necessidade em alguns momentos da vida.

Me considero um resolvedor de problemas. E de uma maneira muito gostosa. Não é um cara que vê problema nas coisas, mas é um cara que pintou uma novela, pintou um personagem, eu questiono: "Temos tempo? Temos. Vamos resolver com tempo. Não temos tempo? Vamos resolver sem tempo".

A nossa profissão é essa. A gente tem que dar graças a Deus por ter trabalho.

INFLUENCIADORES NA TV

A gente sempre teve isso, pessoas que se tornaram grandes atores ou atrizes e que vieram do nada. A Grazi [Massafera] saiu do BBB e hoje, da geração dela, é uma das melhores. Porque foi estudar, se interessou, descobriu o talento, lapidou. Tivemos gente que deu certo, gente que não deu certo. Tivemos atores que vieram formados de escola de arte dramática e que não deram certo. O acaso está aí.

Agora, falar que porque botou um influenciador na novela tirou o papel de um ator [profissional] é mentira. Não tirou o papel de ninguém. "Ah, porque a classe…". A classe o quê? Tirar a [influenciadora] Jade Picon da novela vai resolver o problema da classe? Não, ela é um papel dentro de uma empresa que visa lucro e que produz sonho para vender comercial.

É uma estratégia. Na minha opinião, eu acho um risco muito grande, porque achar que vai chegar e vai fazer direito, todo mundo acha. Na hora de fazer, é difícil. A Jade começou e aprendeu de uma maneira que a gente ficou de boca aberta ao ver como ela amadureceu rápido, no dia a dia. Começou super insegura, e já no capítulo 30 ela amadureceu.

Mas tem gente que não funciona. É sempre uma tentativa.

CONTRATO COM A GLOBO

Tenho contrato fixo até 2025. A gente teve uma reunião há muito tempo e foi avisado pelo Ricardo Waddington [diretor de entretenimento da emissora até 2023] que, ao final de todos os contratos, eles se acabariam. E vida que segue.

Acho um movimento super natural, é uma empresa que visa lucro. Só acho uma dicotomia, porque durante muito tempo a emissora segurou esses atores, mas não tinha competição. Era só a Globo. Não tinha por que segurar esses atores.

Hoje a competição é enorme, e ela está liberando.

DEMANDA INCESSANTE

A Globo agora tem o seu próprio streaming [Globoplay], que é, aos meus olhos, o lugar mais importante da empresa hoje. Tem que ter muito conteúdo. A gente demorou cinco meses para fazer a série "Passaporte para a Liberdade". Deu uma semana, e o público já estava assim: "Outra [série]. Você fala: "Como assim?" [risos].

Como é que você vence essa demanda?

HORA DE CRIAR

Depois de um tempo como ator, sendo comandado por diferentes cabeças, autores, diretores, parceiros, você acaba criando uma energia dentro de você, um certo conhecimento, que chega uma hora em que você não sabe o que fazer com aquilo. Você tem que se tratar, resolver, tem que ter uma válvula de escape.

E a minha válvula de escape é pensar em como posso transformar todo esse conhecimento em uma coisa nova.

Estou com um olhar muito forte para o digital. A gente está vivendo um momento de frenesi. A minha ideia é pegar exatamente essa ansiedade, essa histeria do digital e falar assim: "Como que a gente cura isso?".

Neste momento, estou muito interessado na pesquisa de linguagens. Comecei na pandemia umas pesquisas que me trouxeram insights para produzir. Como é que eu posso transformar o teatro em digital? Como é que eu posso teatralizar o cinema?

HQ E SUPER-HERÓI

Meu sonho é ser um "Avengers" ["Vingadores", filme de super-heróis da Marvel ], ser um X-Men. Amo o realismo fantástico. Amo HQ, estou começando a escrever para HQ agora. Estou conversando com amigos, lendo roteiros, conversando com gente bacana sobre isso.

Gostaria de interpretar qualquer super-herói. Pode ser até o Chapolin Colorado [risos].

GAME

O ator Márcio Fecher inventou o game, o Renato Góes aprimorou, os dois me ligaram e eu montei um time. Desde então, nós estamos juntos para criar essa plataforma.

A única coisa que eu posso adiantar é que a gente está demorando cinco, seis anos para lançar porque não estamos fazendo mais um [game]. A gente está inventando uma coisa que não existe, é uma outra plataforma. Vai chamar Play You.

Eu adoro videogame, mas sou zero da tecnologia, não sei mandar email com foto. Mas eles me chamaram porque sabem que eu gosto de videogame e que eu pesquiso tecnologia.

Não tenho talento para nada, sou um resolvedor de problemas

CARREIRA INTERNACIONAL

Penso nisso, mas já fui muito mais ansioso. E hoje eu entendo que a minha carreira é a minha carreira... A carreira que eu imaginei que ia acontecer não é a que eu tenho hoje.

Quando a gente decide que a gente quer entrar nesse universo, a gente acha que é uma vida de glamour. Não no sentido de fama, de aparecer na TV. Mas desse sonho que se vive lá dentro. De um dia você ser um cara que pula de um avião, e no outro, corre de um dinossauro.

Só que a nossa carreira não é assim. Essa vida é o que a gente faz parecer para os outros. A carreira são 262 outras coisas que nunca ninguém para pra pensar. Quando você vê, a sua carreira foi para um outro lugar naturalmente.

"Ah, mas você sonha com uma carreira internacional?". Não [sonho], é um objetivo. Mas eu entendo que se vier, veio, se não vier, não veio.

Eu falo inglês fluentemente, tenho um básico de francês e posso falar aramaico em uma semana, porque, como já disse, sou um resolvedor de problemas [risos].

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