Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

Padrão meta de inflação

Apesar dos saudosistas do ouro, o 'padrão meta de inflação' tem funcionado bem

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Para completar meu resumo de história monetária, hoje analisarei o sistema em que vivemos.

Há 50 anos, em 15 de agosto de 1971, o governo dos EUA suspendeu unilateralmente a conversibilidade do dólar em ouro. Houve tentativas de voltar à paridade nos anos seguintes, com dólar desvalorizado, mas os choques de preço dos anos 1970 sepultaram de vez a ideia.

Desde então o valor do dólar não tem mais paridade fixa com ouro ou qualquer mercadoria. O novo sistema levou (e ainda leva) várias pessoas a temer aumento explosivo da inflação. Se não há limite para emissão de moeda, o que impede o governo de gerar inflação alta para se financiar? A resposta é simples: as consequências negativas do aumento explosivo de preços.

A sociedade é avessa à inflação. Em uma democracia, governos lenientes com a inflação são substituídos, e isso levou a nós, economistas, a buscar a melhor forma de administrar a política monetária, mas sem fixar o valor do dinheiro em qualquer mercadoria. A busca levou 20 anos.

No fim dos anos 1970, a maioria da profissão adotou o monetarismo de Friedman, dizendo que bastava controlar a quantidade de moeda. A prática foi tentada e deu ruim. Houve grande flutuação da taxa de juro, e o sistema bancário mostrou, mais uma vez, que gerava depósitos independentemente da base monetária fixada pelo governo.

Nos anos 1980, a maioria dos economistas mudou para o controle da taxa de juro, usando a taxa de desemprego como guia para a inflação. A ideia básica era que a inflação subia quando o desemprego caía, e vice-versa (Curva de Phillips). Para controlar a inflação, bastaria manter o desemprego no seu “nível natural”, aquele no qual a inflação é estável, mas essa abordagem também deu ruim. Rapidamente ficou provado que há mais de uma taxa de desemprego de equilíbrio.

No início dos anos 1990, os economistas resolveram abandonar intermediários e controlar a inflação... usando a própria inflação como guia! Nasceu o regime de metas de inflação, no qual o governo estabelece um alvo e o Banco Central administra a taxa de juros para atingir o alvo. A prática começou na Nova Zelândia e rapidamente se difundiu para outros países.

Do ponto de vista monetário, o sistema de metas de inflação estabelece uma paridade móvel para o valor do dinheiro. Por exemplo, em vez de fixar o valor do real em ouro, arroz ou feijão, nosso governo define uma meta para variação do valor do real em termos de uma cesta de produtos, o IPCA, que, por sua vez, muda ao longo do tempo. Temos, portanto, uma paridade móvel em IPCA, mas sem fixar o valor do real em termos de qualquer item do IPCA.

A paridade é móvel e flexível. A meta de inflação tem intervalo de tolerância e, se os preços não evoluem como esperado, não há crise financeira ou corrida bancária como no padrão-ouro. O banco central “apenas” explica por que não cumpriu a meta e como irá trazer a inflação de volta à trajetória fixada pelo governo, como está acontecendo agora no Brasil.

Apesar de haver alguns saudosistas do ouro, o “padrão meta de inflação” tem funcionado bem para controlar variação dos preços. Sua principal limitação está no fato que, em uma grande recessão, a política monetária sozinha pode ser insuficiente para recuperar a economia e atingir a meta de inflação.

Assistimos a isso em vários países avançados após a crise financeira de 2008, e hoje, nós, economistas debatemos se (e como) a política fiscal deve ou não ajudar a política monetária na administração do nível de atividade e no desenvolvimento da economia.

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