Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Queda de braço entre publishers e plataformas chega à reta final

Austrália prepara código para Google e Facebook remunerarem conteúdo; veículos se voltam agora à Apple

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Na terça (18), os EUA vetaram o acesso da Huawei aos chips produzidos com alguma tecnologia do país, no que foi descrito pela cobertura como “sentença de morte” ou “o fim dos smartphones da Huawei”. Na manchete da quarta, “Valor da Apple sobe para US$ 2 trilhões”.

A arrancada de Apple, Facebook e outras gigantes não pode ser creditada só aos ataques do governo Trump, com apoio democrata, às concorrentes chinesas, como Huawei, ByteDance e Tencent. Tem também e sobretudo a pandemia.

Mas as ações seguidas para dissociar as “campeãs” americanas das chinesas, garantindo mercado às primeiras, ecoam positivamente nos EUA e ameaçam fazer uma vítima paralela: o esforço da imprensa por remuneração, sobretudo de Google e Facebook.

O questionamento da chamada “Big Tech” está em refluxo desde a audiência no Congresso americano, quando Mark Zuckerberg e outros se apresentaram como uma vanguarda nacional no enfrentamento da ameaça chinesa.

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E agora alguns dos maiores grupos noticiosos do país, como Bloomberg e New York Times, começam a falar contra uma eventual intervenção estatal para levar as plataformas a dividir parte do que faturam com o conteúdo jornalístico.

Mark Thompson, ainda CEO do NYT, alerta para o “perigo real” representado pela aceitação do governo como regulador de jornalismo e defende, no lugar, a busca de parcerias “win-win” com as gigantes, em que os dois lados ganhem.

Já a Bloomberg soltou editorial destacando expressamente que Facebook e Google “não deveriam ter de pagar aos publishers por notícias”, o que compara a “extorsão”.

As manifestações públicas se devem à reta final para o confronto mais ansiado entre as partes, na Austrália. Na sexta (28) termina a consulta sobre a proposta de um código de negociação entre imprensa e plataformas no país.

Divulgado há três semanas, o texto da comissão de concorrência, o Cade australiano, prevê corrigir o “desequilíbrio” no poder de negociação de Facebook e Google com os veículos. Vai para o Parlamento logo depois do fim da consulta pública.

O novo código permitiria aos publishers, por exemplo, se unirem para negociar em grupo com uma plataforma. É o mesmo que demandam publishers americanos, num projeto de lei apresentado em 2019, visando “competição e preservação do jornalismo”.

Pela reação do Google (imagem acima), é considerável a chance de aprovação do código australiano, que poderia levar a um efeito dominó global. Na última semana, os usuários australianos da plataforma passaram a receber um alerta sobre o risco para os “serviços gratuitos” que oferece no país. A comissão respondeu no mesmo volume.

*

Qualquer que seja o resultado na Austrália ou na França, onde proposta semelhante vem avançando mais lentamente, o “risco” já levou o chamado duopólio de publicidade a buscar formatos para remunerar pelo menos alguns veículos pelo conteúdo.

E o mesmo caminho começa a ser percorrido frente à maior das “campeãs” americanas, a Apple. A associação que reúne os principais publishers, inclusive de NYT, Wall Street Journal e Washington Post, enviou carta na quinta (20) ao CEO Tim Cook, cobrando “termos melhores”.

Seus aplicativos para iOS pagam à Apple 30% da receita com assinaturas. Os veículos querem pagar 15%. Seguem a liderança da Epic Games, que está processando não só a Apple, mas o Google, do sistema Android, alegando serem monopólios.

A americana Epic, do game Fortnite, tem perto de metade de seu capital sob controle da “campeã” chinesa Tencent.

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