A atenção crescente ao controle da informação nos EUA, cujo exemplo maior foi a derrubada de Donald Trump por Facebook, YouTube e Twitter, levou o Washington Post a montar uma lista dos “gatekeepers”, os novos porteiros da informação.
Além das plataformas de mídia social citadas, relacionou, pela ordem:
As lojas de aplicativos do Google e da Apple, que removeram o TikTok na Índia. Provedores de nuvem como AWS, da Amazon, que tirou do ar a rede social Parler e, antes, o WikiLeaks. Serviços de pagamento como PayPal, que também barrou WikiLeaks e outros. Registradores de domínio como GoDaddy, que cortou a rede social Gab. E por fim os próprios provedores de internet, como a Comcast.
Faltaram na lista do WaPo as plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime Video e Disney+.
São elas que, cada vez mais, decidem o que espectadores mundo afora poderão assistir. E não escondem o alinhamento: a Netflix manteve por três anos no “board”, seu conselho de administração, a ex-secretária de Segurança Nacional Susan Rice, agora de volta a Washington.
Entrando no segundo ano da pandemia, as três grandes plataformas e as ascendentes, como HBO Max, encaram um mercado americano saturado e se voltam de vez para o resto do planeta, em mudança de paradigma, no dizer do Wall Street Journal.
Pelos números da consultoria Ampere Analysis, o primeiro trimestre terminou com 340 milhões de assinaturas de serviços de streaming nos EUA, mais do que a população do país, 328 milhões.
Nos resultados da Netflix para o trimestre, apresentados na terça-feira (20), o crescimento no número de assinantes já veio muito abaixo dos últimos anos. Mais importante, 89% desse crescimento foi de usuários fora do mercado EUA-Canadá.
Do outro lado do Atlântico, ainda pelos números da Ampere, dos 141 milhões de assinantes de streaming na Europa Ocidental, 86% são das três grandes plataformas.
Sem êxito até o momento, como mostrou o Frankfurter Allgemeine Zeitung, Alemanha e outros europeus tentam resistir à invasão americana juntando redes nacionais. O projeto mais bem-sucedido até aqui foi o Viaplay, perto de empatar com a Netflix nos países nórdicos.
Nas Américas, a mexicana Televisa acaba de se juntar à americana Univision para preparar um serviço de streaming em espanhol para todo o hemisfério ocidental e talvez Espanha.
Por outro lado, um ano de pandemia não levou só à saturação das assinaturas nos EUA: a produção de conteúdo por Hollywood secou, de acordo com a Bloomberg.
Em parte por isso, a série da Netflix mais vista no trimestre foi a francesa “Lupin”. Ted Sarandos, copresidente da plataforma, explica “Lupin” dizendo que, “quanto mais autenticamente local, maior é a probabilidade de [o filme ou série] ser visto em todo o mundo”.
Como resultado, do conteúdo agora em produção por Sarandos, metade está sendo feito fora dos EUA —ainda sob controle da Netflix.
Uma das maiores apostas da plataforma é a Coreia do Sul, país de origem do vencedor do Oscar no ano passado, “Parasite”, o primeiro em língua não inglesa. A Netflix acaba de anunciar que neste ano vai investir meio bilhão de dólares em novas produções sul-coreanas, abrindo trincheira no mercado Ásia-Pacífico, ainda não dominado.
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