Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Na mídia americana, NYT à frente, Joe Biden não tem como errar

'Se Putin recuar, Biden merece todo o crédito pela gestão magistral da crise. Se não recuar, foram ainda os passos certos e necessários. Só não foram suficientes'

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Um mês atrás, um colunista do Financial Times, Simon Kuper, lamentava como "o debate internacional é desproporcionalmente dirigido pela mídia anglófona".

Uma mídia que, como havia descrito Matt Taibbi na plataforma Substack, passa por "sovietização", New York Times à frente, adotando uma "ortodoxia de partido único", no caso, democrata.

Nos últimos meses e sobretudo nesta última semana, o jornal foi além e tomou para si a função de caixa de ressonância ou "spinmeister", no jargão publicitário, de mensagens de guerra.

Joe Biden discursa sobre a Rússia na Casa Branca, em 24 de fevereiro de 2022 - REUTERS

Avança pelas próprias reportagens, por exemplo, quando justifica a sequência de datas de invasão que ouviu e publicou —e que levaram às comparações de Joe Biden com O Pastor e o Lobo, da fábula.

Na primeira página desta sexta (25), "as agências de inteligência descobriram os planos e, por meio de divulgações públicas estratégicas de informações, complicaram os esforços de Putin".

Mais, CIA e outras "acertaram o momento da invasão, até quase a hora exata". Pena que, "no fim das contas, não foi o bastante para deter o amplo ataque. Mas ajudaram o presidente Biden a persuadir aliados".

Não é só o noticiário. Uma semana atrás, quando se especulou que a Rússia poderia evitar a ação, em meio às negociações com França e Alemanha, dois de seus principais colunistas correram para transferir o crédito para o governo americano.

"Se Putin optar por recuar, é porque Biden —aquele cara cujos críticos sugerem estar tão demente que não diferencia Kiev do Kansas— respondeu à altura todos os movimentos de xadrez de Putin", escreveu Thomas Friedman.

"Se Putin recuar, o governo Biden merecerá todo o crédito pela gestão magistral da crise", escreveu Bret Stephens. "Se Putin não recuar, foram ainda os passos certos e necessários. Só não foram suficientes."

Biden não erra, não importa o que aconteça.

Embora o presidente americano tenha se esforçado abertamente, desde a campanha e sobretudo nas últimas semanas, para dividir o mundo em aliados dos EUA contra China, Rússia e outros, o editorial desta sexta proclama que "Mr. Putin lança uma Segunda Guerra Fria".

Quanto a Mr. Biden, ele "fez tudo o que podia".

O combate à China é ainda mais cerrado, sem trégua. Foi assim durante os Jogos de Inverno e é assim no questionamento à política de Covid zero, que o NYT comparou ao Holocausto (sic), apontando o apoio de milhões de chineses às medidas.

O jornal tem posição hegemônica hoje, não só pela perda de fôlego dos concorrentes nacionais diretos, mas pela derrocada da TV linear, que afeta as três grandes redes, inclusive NBC, e os três canais de notícia, inclusive Fox News.

É uma supremacia que, diferente de outros tempos e outras coberturas enviesadas de guerra, não sofre mais constrangimento crítico interno e desdenha o externo.

Quando decidiu abandonar a função de ombudsman, o NYT justificou que redes como Twitter já cumpriam esse papel. Mas em entrevista à New Yorker na semana passada o editor do jornal, Dean Baquet, disse não dar atenção, desprezar as vozes do Twitter.

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