Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nicolás José Isola

A solidão dos executivos e a impossibilidade de pedir ajuda

Muitos CEOs experimentam esse isolamento e alguns nem sequer têm a possibilidade de pedir ajuda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Muitas pessoas desejam chegar a posições de poder. O poder parece ser uma coisa atrativa, onde as pessoas ganham uma maior liberdade e conseguem conduzir a vida de outras pessoas. Porém o poder é um caleidoscópio complexo com muitas zonas sombrias.

Uma delas é a solidão. Por exemplo, os presidentes dos países se sentem sozinhos diante de decisões perturbadoras que podem desencadear um monte de efeitos colaterais. Muitas decisões que impactam em milhares de pessoas, precisam ser tomadas na solidão. O sumo pontífice tem que decidir questões cruciais sozinho podendo gerar um sem-fim de críticas numa audiência global exigente. Em suma, o poder, o tão desejado poder, não é um fogo simples de ter nas mãos.

No mundo empresarial, muitas e muitos CEOs experimentam esse isolamento, alguns deles nem sequer têm a possibilidade de pedir ajuda para os próprios conselhos de administração ou diretoria de suas companhias. Muitos deles nem pedem ajuda para não transparecer vulnerabilidade ou por não reconhecer suas dúvidas. Parecem fortes porque não querem parecer fracos. Lá em cima só o vento acaricia seus cabelos, estão sós.

Empresas devem saber acolher colaboradores com depressão
Muitos executivos se perdem na solidão dos negócios e acabam ficando com depressão - Pixabay

Inúmeros executivos vivem querendo chegar a uma determinada posição de poder e quando o conseguem, a frustração não é pouca. Tinham uma visão romântica do poder.

Mesmo sendo pessoas que acham que o poder consiste em servir e ajudar aos outros, quando chegam a estes lugares de máximo reconhecimento social, enxergam que não têm controle de tudo, nem conseguem controlar muitas variáveis. O poder é sempre limitado. Desgasta.

Para muitas e muitos, o poder é uma vivência interna de isolamento, onde muitos falam ao redor dando sugestões interessadas, mas a decisão final é sempre uma e tem um único responsável. Vertigem.

No mundo corporativo se fala pouco e se trabalha pouco com os executivos sobre esse sofrimento que gera essa solidão. Isso me toca profundamente. Como coach executivo, muitos líderes empresariais me procuram interpelados por essa solidão do poder. Precisam de um acompanhamento próximo que contribua para que eles tenham um olhar maior das opções que existem. Uma das consequências da solidão é que o mindset sempre é o mesmo, o próprio. Um olhar alheio e não comprometido no negócio pode ajudar a enxergar novas alternativas. Então, caminhos se abrem.

Nesse cenário, as cobranças constantes provenientes de múltiplos atores da organização fazem com que executivos e executivas sintam que não podem responder a todas elas. Pois é, liderar é governar escassez. Isso é o que gera culpa (às vezes, muita) e uma sensação de não estar dando conta. Sobram requerimentos, faltam mãos.

A solidão não é só uma emoção, é uma realidade e pode desencadear uma queda no rendimento profissional. Para um esportista que está se sentindo sozinho é muito mais provável que comece a ter um comportamento inadequado no seu time. Não é diferente na montanha íngreme dos negócios.

A solidão daquele nevoeiro do poder em ocasiões leva a uma insatisfação e tristeza profunda. E pode conduzir até uma possível depressão. Não é brincadeira.

O famoso burnout é o filho não reconhecido da garoa leve (contudo constante) da solidão. Parece que não, mas molha.

A solidão gera racionalidades impróprias, como a sensação de ser a única pessoa no universo que está sofrendo com a posição de poder. "Se todo mundo quer a minha cadeira, como pode ser que eu não seja pleno sentado nela?" Nada grave. Mais uma das contradições humanas.

Muitas executivas e executivos se sentem incompreendidos: "os outros conseguem lidar com o poder e eu não". Não são tão especiais (todos lidam com isso). Essa história que eles contam a si próprios não é verdade, mas sendo acreditada pode agir como uma poderosa arma produtora de sofrimento e tristeza. Estou só.

Por isso, é muito importante o storytelling que as lideranças contam a si próprias. Por isso é crucial que elas se relacionem com outras lideranças para confrontar as próprias percepções e vivências. Eles precisam ouvir como outras e outros vivenciam essa solidão do poder para dar-se conta de que não estão sozinhos.

No almejado e vanglorioso topo do poder está aceso um fogo complexo. Não é fácil lidar com ele. Queima.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.