Nina Horta

Escritora e colunista de gastronomia, formada em educação pela USP.

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Nina Horta

Jantarzinho para os netos

Nina Horta

Ando enferrujada. Tenho que fazer um jantarzinho para a neta e o marido e me pego cheia de dúvidas. Ela está grávida e não pode comer nada cru. Também não sou tão preguiçosa assim que não possa cozinhar algumas coisinhas. Meu problema é que penso primeiro nas bonitezas, na parte estética, na panela que vou usar, depois nos ingredientes. Complica bastante.

Versão de goulash
Versão de goulash - FOTO VINICIUS PEREIRA/Folhapress

Ultimamente, só uso uma toalha tecida à mão por uma tia avó da minha mãe. Não existe nada mais rústico, nas extremidades tem uns fiapos de macramê, mas é a única coisa que acho bonita na mesa, que suporta panelas por cima. Uso muito as próprias panelas para servir a comida e não ficam bem sobre toalhas bordadas que era o que se usava quando casei. Se não é a da tia avó, vai sem toalha mesmo, sobre uns ladrilhos ou palha.

Então, já resolvi que as panelas serão de ferro preto, daquelas finlandesas, que têm um belo acabamento. Primeiro, uma tacinha de suco de tomate, só para distrair. Tudo bem simples, que não tenho alguém para ajudar.

Daí, ponho na mesa a tal panela, vou colocar a foto para vocês verem e aplaudirem. Tem o melhor desenho que já vi e, na verdade, eu queria fazer um picadinho de carne, mas resolvi por um goulash que vai fazer parecer que tive mais trabalho. Ao lado um arroz de periquito, que é um arroz misturadinho com qualquer coisa, no caso com lentilhas. Acho que combina. Queria um knödel, mas fiquei no arroz, porque pouca gente gosta daquele angu de trigo ou pão para acompanhar a carne. Mas, dou a receita, pois é divino.

Se a neta não pode comer coisas cruas, um espinafre batidinho com claras de ovos picadas por cima vai bem. Sobre torradas? Melhor ainda.

Para netos, acho que é o bastante. O marido dela é um conhecedor de cervejas, vou telefonar para o Greig Caisley, um amigo dono de restaurante, australiano, que entende de todas e tentar que ele mande umas duas aqui com um motoboy.

A sobremesa, vocês nem acreditam, é a mais fácil do mundo. Um caqui descascado, cortado em quatro como uma flor, e imerso em suco de tangerina. Geladíssimo. Talvez alguém apareça com uma boa barra de chocolate que todos disputarão vorazmente. Cafezinho? Pode ser, mas de máquina, para não ficar levantando da mesa o tempo todo e atrapalhando a conversa. Alguma coisa para a neta beber, água de coco, pode? Ando longe das novas dietas para grávidas, o coco é cru, será?

Nem pensar em comprar flores, andam pelos olhos da cara. Um vaso bem alto e cato os bambus do quintal, ficam acima do olhar dos que comem e enfeita. E pronto.

O goulash é aquele que Dona Martha Kardos ensinava, pelo menos ela chamava de goulash e ficava bem bom.

Goulash de Martha Kardos

Não tem quantidades, mas é aí que está a graça. Alcatra ou coxão mole cortados em cubos grandes. Encha a panela com cebolas picadas (é isso mesmo, muita cebola, umas 5 enormes para quatro pessoas) e deixar dourar em fogo baixo com bem pouco óleo. Por quanto tempo? Uma ou duas horas. Está certo, é isso mesmo. Acrescentar a carne até que fique acinzentada. Vamos agora à páprica, é ela, e não o tomate, que dará o tom vermelho ao goulash. Vá experimentando. Sal e um tomate. Isso, entenderam bem, só um. Tampar, abaixar o fogo e deixar um tempão, até que os gostos se misturem e a carne esteja bem macia. Umas duas horas. Se precisar, vá pingando um pouco de água, bem pouco. Vai ficar bom com o arroz e lentilhas e já ia me esquecendo que estou fazendo quilos de batata palha. Alguma coisa fica ruim tendo batata palha junto?

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