Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

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Nosso estranho amor

A lista de Walério

Todo dia é Dia dos Namorados na nuca de Walério Araújo

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Todo dia é Dia dos Namorados na nuca de Walério Araújo. O estilista de 50 anos tem uma lista com os nomes dos oito amores da sua vida tatuados na pele:

Ernando,

Alexandre,

Atemar (com uma cruz à esquerda, indicando sua morte),

Juarez,

Kelsen,

Thiago (coberto por uma camada de tinta preta),

Leandro (rasurado duas vezes, a ponto de ser ilegível) e

Paulo German.

A ideia nasceu junto do primeiro namoro, com Juarez. "Fomos a segurança um do outro", diz Walério. Os dois também eram opostos. Juarez começou três faculdades, gostava de estudar e mal saía de casa. Walério era o jovem estilista rebelde, de sapatos de salto alto e alças de sutiã tatuadas nos ombros. Eles se conheceram quando Walério saía de uma boate e descia a rua da Consolação, enquanto Juarez subia em direção à casa da mãe.

No segundo ano de namoro, Walério decidiu homenagear o namorado com uma tatuagem na nuca. Mas, na hora em que a agulha estava prestes a furar a pele, ele sentiu que estava traindo alguém. Traindo o seu passado. Ele já tinha tido amores até então. Por que tatuaria o nome de Juarez, e não dos homens que já tinham marcado sua alma?

Tatuagens de ex-namorados de Walério
Tatuagens de ex-namorados de Walério - Folhapress

Ele então decidiu se marcar retroativamente. A lista começava com Ernando, com quem perdeu sua virgindade aos 19 anos. Embaixo, vinham Alexandre e Altemar, dois amigos que amou em Lajedo (PE), a cidade onde ele nasceu, cresceu e criou ambições grandes demais, que o levaram para São Paulo. E por fim vinha Juarez. Quando Walério chegou em casa, mostrou a novidade para Juarez: seu nome, e o de mais três homens, tatuados no pescoço. E nem quis prestar muita atenção em sua reação. "Eu sempre fui individualista, não peço permissão."

Depois de oito anos, os dois se separaram, mas a tatuagem continuou lá. Walério então conheceu Kelsen, com quem ficou por um ano de amor tranquilo, até o namorado ir morar fora do Brasil. E a lista ganhou seu quinto nome.

Abaixo de Kelsen veio Thiago, cujo nome está coberto por uma camada de tinta preta, mas ainda é visível. A rasura é pura política, explica o estilista. Thiago tinha as iniciais de Walério, WA, tatuadas. "Depois de mim, ele teve um namorado que tinha muito ciúme, e o convenceu a rasurar. Eu rasurei de volta." Só cobriu a tatuagem por retaliação. "Eu cobri meio superficial, ainda dá pra ler, ainda tá lá", diz Walério.

Mas, embaixo de Thiago, vem o que um dia foi um nome, e agora é só um bololô de linhas. Sob o turbilhão de riscos está escondido o nome Leandro, um caso complicado. Os dois dividiram uma paixão febril. "Eu nunca fui bobo, sou ariano do 12 de abril. Sempre soube que ele me traía." Depois de um ano de namoro, e de ter o nome eternizado na derme de Walério, Leandro sumiu por um mês. "Nem sinal de fumaça." Walério fez o primeiro risco sobre o nome de Leandro durante o mês de ausência. "Ele reapareceu, contou uma história aí e eu acabei voltando." Até que Leandro viu seu nome hachurado na nuca do namorado e chorou. Mas não demorou para conquistar a segunda rasura: no dia de sua festa de aniversário, Walério o flagrou com outro. E meteu mais riscos em cima do seu nome, que hoje é um borrão no seu pescoço. O que não significa que ele tenha sido apagado da vida real. "E mesmo assim a gente se encontrou muitas vezes depois", ri o estilista.

O último da lista é Paulo Germano, o resgate do romantismo em letra de mão. Os dois se conheceram na boate Blue Space, e Walério convidou Paulo para ir para sua casa. E lá ele ficou. Não só uma noite, mas os meses de outubro, novembro e dezembro inteiros. No Natal, os dois viajaram para conhecer a família de Paulo. Hoje são amigos, mas o amor não acabou.

Walério está solteiro neste Dia dos Namorados. Mas ainda há espaço para amor em sua pele. "Tatuaria outros! Só tem que amar. E ficar um ano junto." E ele nunca cogitou fazer como Deborah Secco, e apagar as marcas do amor? "Mas, bicha, como eu ia mudar minha pele? Reescrever a minha história?", diz ele, balançando o pai e a mãe que estão tatuados cada um em um antebraço. "Independente de qualquer coisa, eles foram importantes. No mínimo, servem para eu não querer outro tão ruim."

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