Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Pablo Ortellado
Descrição de chapéu Eleições 2018

Um passo atrás

Candidatura de Jair Bolsonaro produz declarações preocupantes

As últimas pesquisas têm indicado que Jair Bolsonaro deve mesmo estar no segundo turno. A consolidação de sua liderança acontece no momento em que a candidatura produz declarações preocupantes, que colocam outra vez em xeque os pilares da democracia. 

Em vídeo recentemente divulgado, Bolsonaro reafirmou sua posição de que não reconhecerá a eventual vitória de um adversário. Um pouco antes, o general Mourão, vice em sua chapa, declarou que considera legítimas tanto a possibilidade de autogolpe quanto a de uma revisão da Constituição realizada por constituintes não eleitos. 

A ameaça é tão grave que é preciso um compromisso dos principais atores em defesa das instituições democráticas. Para começar, precisam reconhecer a legitimidade do adversário.

A direita, de um lado, tem tratado Lula e Bolsonaro como expressões diferentes do mesmo fenômeno populista que não respeitaria as regras da democracia liberal —isso, a despeito dos governos petistas terem observado rigorosamente esses limites (má gestão econômica e corrupção são problemas de outra natureza). 

Já a esquerda tem tratado Alckmin e Marina como se fossem golpistas e, portanto, diferindo apenas em grau da orientação antidemocrática de Bolsonaro —embora Alckmin, Marina e seus partidos jamais tenham atentado contra a legitimidade do sistema de direitos humanos ou colocado em xeque a representação democrática.

O PSDB começou um processo de autorrevisão que se expressou na entrevista de Tasso Jereissati ao O Estado de S. Paulo, na semana passada, na qual o presidente do PSDB avalia como equivocada a estratégia de contestar o resultado das eleições de 2014. A revisão não se estende ao apoio ao impeachment, mas parece um primeiro passo.

O PT, por sua vez, ainda não fez a autocrítica sobre os desvios na Petrobras, limitando-se a dizer que os outros partidos também se envolveram em desvios. Essa postura definitivamente não é autocrítica o suficiente e é o principal motivo que faz com que grandes contingentes de brasileiros odeiem o partido e prefiram votar em Bolsonaro. 

Analistas da esquerda têm insistido na tese de que a democracia tem regras não escritas que precisam ser tão respeitadas quanto as escritas e que essa autolimitação foi rompida quando o instituto do impeachment foi utilizado de maneira abusiva para reverter o resultado eleitoral de 2014.

Esse princípio, porém, deveria valer também para a esquerda. Os candidatos deste campo têm que deixar claro, por exemplo, que pretendem respeitar as regras não escritas assumindo, por exemplo, o compromisso de não fazer uso abusivo do instituto do indulto para tirar Lula da cadeia. 

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