A relação de proximidade entre o futuro chanceler Mauro Vieira e o embaixador aposentado João Carlos de Souza-Gomes, punido no Itamaraty por assédio sexual, tem sido relembrada em tom crítico por diplomatas desde que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou sua escolha para comandar o Itamaraty em seu governo.
Vieira e Souza-Gomes se formaram juntos em 1974 no Instituto Rio Branco, escola dos diplomatas no país. O primeiro nomeou o segundo como assessor especial de Assuntos Parlamentares em 2015, quando assumiu o Ministério das Relações Exteriores na gestão Dilma Rousseff (PT)
A escolha foi feita mesmo após passagem de Souza-Gomes pela Embaixada de Montevidéu, quando os relatos de assédio geraram em 2011 uma inspeção do Itamaraty no posto uruguaio com a presença do então corregedor Gélson Fonseca. Ele foi advertido de que o comportamento era inaceitável, mas não sofreu punição.
O afastamento de Souza-Gomes se deu apenas em 2017, por relatos de assédio na delegação do Brasil junto à FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em Roma, posto para o qual foi enviado em 2016 pelo então presidente Michel Temer (MDB), sem participação formal de Vieira. O processo disciplinar foi encerrado em dezembro de 2018, com uma suspensão de 85 dias.
O futuro ministro foi uma das testemunhas arroladas pela defesa no processo. Em nota, o futuro chanceler disse que, em seu depoimento, "falou que não tinha conhecimento dos fatos que geraram a acusação, inclusive por residir em cidade diferente da do referido embaixador".
Vieira disse também que não tinha conhecimento dos relatos de assédio no Uruguai quando o nomeou como seu assessor.
A lembrança tem um componente adicional: uma das vítimas de comentários racistas de Souza-Gomes, de acordo com depoimento do processo, foi a embaixadora Maria Laura da Rocha, escolhida agora por Vieira como secretária-geral do Itamaraty, primeira mulher a ocupar o cargo.
A embaixadora antecedeu Souza-Gomes na delegação brasileira junto à FAO. De acordo com depoimento do processo, o embaixador "fez um comentário sobre a pele escura da embaixadora Maria Laura da Rocha".
Havia expectativa entre diplomatas de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva escolhesse uma mulher para chefiar o Itamaraty. Rocha era um dos nomes cotados.
Vieira chefiava a Embaixada da Croácia até ser escolhido como futuro chanceler. O anúncio foi feito na última sexta-feira (9), mesmo dia em que o time do país europeu eliminou a seleção brasileira na Copa do Mundo.
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