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Governo Tarcísio promulga lei que homenageia expoente da ditadura militar

Coronel Erasmo Dias, conhecido por comandar invasão da PUC-SP, vira nome de entroncamento

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São Paulo

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) promulgou nesta quarta-feira (28) uma lei em homenagem ao coronel Erasmo Dias, expoente da ditadura militar.

Como Tarcísio está em Portugal, onde participa do Fórum Jurídico de Lisboa, a iniciativa de aprovar o decreto do ex-deputado Frederico D'Ávila (PL) coube ao vice-governador Felício Ramuth (PSD) e aos secretários Gilberto Kassab (Governo), Natália Resende (Infraestrutura) e Edilson José da Costa (secretário-executivo da Casa Civil).

Coronel Erasmo Dias, que foi secretário da Segurança Pública de São Paulo e deputado estadual
Coronel Erasmo Dias, que foi secretário da Segurança Pública de São Paulo e deputado estadual - Lili Martins-21.nov.1997/Folhapress

A lei estabelece que um entroncamento de rodovias localizado na cidade natal do homenageado, Paraguaçu Paulista, passe a ser denominado "Deputado Erasmo Dias".

Dias foi deputado federal entre 1979 e 1983 e estadual entre 1987 e 1999. Ele morreu em 2010 aos 85 anos.

Secretário de Segurança Pública de São Paulo de 1974 a 1979, ele ficou conhecido por comandar a invasão na PUC de São Paulo em setembro de 1977, na última grande operação do regime militar (1964-1985) contra o movimento estudantil. Na ocasião, estudantes faziam um ato público pela reorganização da UNE (União Nacional dos Estudantes).

A ação resultou na detenção de 854 pessoas, levadas ao Batalhão Tobias de Aguiar. Delas, 92 foram fichadas no Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo) e 42 acabaram processadas com base na Lei de Segurança Nacional, acusadas de subversão.

A despeito disso, o ato dos alunos saiu vitorioso: tornou-se bandeira da resistência pacífica contra os militares e impulsionou o processo de reconstrução da UNE, então na ilegalidade.

Em entrevista à Folha em 2005, Dias disse considerar que a tortura é justificável em determinados contextos e defendeu a versão oficial da ditadura de que o jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelos militares nas dependências do DOI-Codi, cometeu suicídio.

Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante leilão do trecho norte do rodoanel Mario Covas na B3
Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante leilão do trecho norte do rodoanel Mario Covas na B3 - Rubens Cavallari-14.mar.2023/Folhapress

A iniciativa da gestão Tarcísio disparou reações negativas. A deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) classificou como estarrecedora e nauseante a notícia de que "um defensor da tortura e da violência institucional seja homenageado pelo governo de São Paulo".

"Erasmo Dias é dos símbolos da ditadura e deixa ainda mais evidente que o governador Tarcísio, ao não vetar a proposta, reforça seu papel de representante da extrema direita bolsonarista. Conferir ao troglodita tal homenagem é um acinte à memória das vítimas do regime militar e à democracia. Nos mantenhamos vigilantes e o compromisso de que jamais devemos permitir que a história se repita", escreveu a parlamentar.

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que a promulgação da lei é lamentável e lembrou da atuação de Erasmo Dias na invasão da PUC, "além de protagonizar outras ações de violência policial e perseguição a pessoas que lutavam contra o antidemocrático regime militar."

Em nota, a gestão estadual afirma que o projeto de lei "foi analisado do ponto de vista técnico e jurídico nos termos da lei nº 14.707, de 8 de março de 2012".

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