Os relatos de esforço físico com bicicletas nas ladeiras, fome e miséria entre os entregadores de aplicativos, um assunto que ganhou notoriedade por causa das paralisações realizadas pela categoria nas últimas semanas, são recebidos com indignação, segundo Diego Barreto, diretor-financeiro do iFood.
"O nosso algoritmo leva em consideração a altimetria. Não é o iFood que produz esse tipo de situação", diz o executivo, que vê a tecnologia como forma de evitar jornadas exaustivas.
Roberto Gandolfo, vice-presidente de logística do iFood, afirma que a empresa tem ferramentas para limitar a distância percorrida pelos trabalhadores, de modo a eliminar situações extremas de fadiga.
"Se não existisse o iFood com essa discussão que estamos tendo e a capacidade de trazer tecnologia para não permitir que isso aconteça, esse mesmo entregador estaria trabalhando para um restaurante que não tem a capacidade de fazer isso, do ponto de vista tecnológico. E esse entregador estaria condenado a ter esse tipo de jornada. A tecnologia viabiliza em escala a eliminação das indignações que a gente tem no dia a dia", afirma Barreto.
O iFood diz que é pioneiro em dar benefícios aos trabalhadores e afirma que seus concorrentes no mercado de aplicativos de delivery não fazem o mesmo, o que gera insatisfação na categoria.
Segundo Gandolfo, na pandemia, a empresa fez distribuição de kits de equipamentos de proteção, criou entrega sem contato, lançou um sistema de checagem de sintomas, afastou os entregadores pertencentes aos grupos de risco e os manteve com um fundo de proteção, além de remunerar aqueles que tiveram de ficar em quarentena por suspeita ou contaminação pela doença. Também pagou a eles uma quantia equivalente às gorjetas oferecidas pelos clientes, dobrando o recurso recebido, entre outras iniciativas.
Mas as manifestações das últimas semanas mostram que a insatisfação dos trabalhadores é latente.
"Estamos falando de várias plataformas. É uma categoria como um todo. Então existe insatisfação em várias outras empresas. E isso que eu estou dizendo é um ângulo do Ifood. A outra coisa é a dispersão dentro do público de entregadores. Você vê uma certa difusão nas manifestações. Alguns defendem regulação, outros, não", diz Gandolfo.
A rede do iFood tem 170 mil trabalhadores em todo o país. "Se você tiver 10% fazendo manifestações, já é muita gente", afirma o executivo. Ele ressalva que a companhia fez uma pesquisa com o Instituto Locomotiva, segundo a qual, sete em cada dez entregadores recomendam o iFood para pessoas conhecidas trabalharem.
"O iFood é quem puxa a régua da indústria. Se você pegar esses movimentos, dessas ações [de proteção e benefício], eles são pioneiros na indústria. Quando se tem um movimento de pioneirismo em relação aos demais, abre-se um gap, ou seja, para aqueles entregadores que estão em outras plataformas e não são cobertos por isso, gera um incômodo", diz Barreto.
A despeito dos esforços que o iFood afirma ter para melhorar as condições de trabalho, o executivo reconhece que o modelo de negócio leva os entregadores a buscarem serviço em vários aplicativos diferentes.
"Como o trabalhador sob demanda nunca está em uma plataforma só, mas em todas as plataformas, por uma razão óbvia de quem está procurando a demanda, ele sempre vai ter uma impressão de que tem coisa errada, de que tem coisa que está faltando", afirma o Barreto.
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