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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Brasil será um dos últimos a retomar liberdade de fronteira nos voos, diz presidente da Latam

Para Jerome Cadier, percepção externa de que o país não controlou pandemia vai elevar restrições

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São Paulo

A piora da pandemia no Brasil quebrou o ritmo de retomada que o setor aéreo vinha registrando nos voos domésticos, e a oferta deve cair ainda mais em abril. Para Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil, nos voos internacionais, que nem chegaram a reagir, o país deve ser um dos últimos a reconquistar a liberdade de fronteiras, porque a percepção externa de que não estamos dando conta da crise sanitária vai nos impor restrições mais rigorosas.

Como esse novo patamar de piora da pandemia impacta a aviação?

Primeiro, é o impacto direto nas vendas. Na medida em que os hospitais estão lotados, e as restrições, cada vez mais duras, as vendas caem muito forte. Na terceira semana de janeiro, já vimos uma mudança de tendência, que foi se confirmando em fevereiro. E março está no ponto mais agudo. As vendas caem em um nível parecido com maio do ano passado, que foi um pouco depois do pior momento.

A diferença é que, quando a gente estava com esse nível de venda, tinha quase parado a operação. Agora, tivemos de frear de novo. Vínhamos na retomada. Aí os voos começaram a ficar vazios. A gente corta a operação de novo.


O gráfico de oferta do setor no Brasil vinha subindo mês a mês, até chegar a 75% do normal, mas teve essa primeira queda pós-recuperação. E agora?

Deve cair ainda mais em março e abril. Já estamos nos preparando para voar entre 35% e 40%. Março começou com 400 voos domésticos por dia e deve acabar com 230. Estou cortando pela metade no mês. Esperamos que maio recomece a acelerar.

O novo presidente da companhia aérea Latam, Jerome Cadier é retratado na sede da empresa, na Zona Sul de São Paulo. - Bruno Santos/ Folhapress


E voos de carga?

Carga não sofreu tanto na pandemia em termos de faturamento. Se está transportando menos por um custo maior. Tem voo para transportar a necessidade.


E a comparação entre voo doméstico e internacional? Como esse momento atual mexe com cada um? 

É muito simples falar do internacional porque em nenhum momento houve recuperação dele. E não só no Brasil. O doméstico recuperou, mas quando veio a segunda onda, que na Europa foi setembro, outubro, caiu de novo. Aqui chega com atraso, mas é o mesmo efeito. O internacional continua praticamente irrelevante. Hoje, operamos 15% dele. O máximo foi 16% ou 17%. Não teve essa curva de subida e descida, porque as barreiras entre os países não mudaram. Só pioraram. Para a Latam que é uma companhia metade doméstico e metade internacional, é complicado.


No Chile está diferente?

Em 2021, todos os mercados, inclusive Chile, deram uma freada. O doméstico vinha em uma expectativa que não se materializou. A gente está freando muito mais. Essa é a comparação. O Chile está despontando na vacina, mas o efeito ainda não é tão sentido na demanda. Certamente, vai ser sentido de abril a junho. E o Brasil tem não só a diferença da vacinação. Tem o número de mortos e o sistema de saúde dando menos conta. Isso afeta muito as pessoas. É esse medo: ‘será que eu vou viajar?’. Lá, talvez não tenha esse efeito tão forte.


O cenário terrível do Brasil pode atrapalhar ainda mais o internacional no momento de recuperação, no processo de abertura das fronteiras?

Já é assim. Hoje, as restrições já são mais duras para nós. Essa semana, o Peru voltou a permitir que os viajantes internacionais cheguem lá sem necessariamente fazerem quarentena. Precisa ter um PCR negativo, mas pode entrar no Peru sem fazer quarentena, desde que você não seja brasileiro. Já tem medidas mais duras e que vão fazer com que a recuperação do voo internacional de e para o Brasil seja muito mais lenta. Tem realidade e percepção. Estamos falhando nos dois. Quando as pessoas olham para o Brasil hoje, os dados mostram número de mortos muito alto, ocupação das UTIs no limite.

São dados muito feios. Mas a gente já começou a sofrer as sanções em outubro, quando os números não estavam tão ruins. Por quê? Pelo fator percepção. Pela percepção de que o Brasil não está tomando conta, que não há política clara de uso de máscara, de que as medidas de restrição dependem de cada cidade e estado, ficam mudando sem muito critério, de que o tema da vacina não está resolvido. Estamos apanhando nos dois: realidade e percepção. Até a gente conseguir voltar a ter uma liberdade de fronteira como tínhamos antes da pandemia, acho que o Brasil vai ser um dos últimos países a conseguir fazer isso. Infelizmente.



E a situação das empresas? Como fica? Vocês vão pedir novamente apoio ao governo?

Não existe movimentação para isso. O Ministério da Infraestrutura tomou medidas para ajudar o setor, como devolução das passagens em 12 meses, postergação de taxas, redução de custos de estacionamento de aeronaves, várias medidas que tentavam proteger o caixa do setor.
Mas, em nenhum país da América do Sul, os governos ajudaram com financiamento às companhias aéreas, como foi nos EUA e na Europa.

Aqui, cada empresa buscou a sua fonte de financiamento. A Latam foi pelo Chapter 11 [recuperação judicial nos EUA] e com isso deu tranquilidade, mas a gente espera que o mercado recupere para sair dessa situação. As outras companhias no Brasil, Gol e Azul, emitiram dívida, e a gente espera que seja suficiente para passar por essa situação. A Latam, hoje, está com US$ 1,7 bilhão em caixa e mais US$ 1,3 bilhão, que é o financiamento do Chapter 11. ​


Raio-x

Jerome Cadier, 50, é presidente da Latam Airlines Brasil desde 2017. Antes, foi vice-presidente de marketing e serviços no grupo Latam (2013-2017) e de marketing na Whirlpool (2003-2013). É formado em engenharia industrial pela Escola Politécnica da USP e tem MBA pela Northwestern University.


com Filipe Oliveira e Andressa Motter

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