O entorno do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, nega que ele tenha intenção de pressionar o governo por qualquer iniciativa de tabelar preço. É que, em um dos tuítes que publicou nesta semana, o senador diz que vai cobrar atitude de Paulo Guedes sobre os preços da comida e do material de construção. O recado preocupou alguns altos executivos do mercado financeiro. Os mais velhos dizem ter se lembrado dos fiscais do Sarney, que monitoravam preço nos anos 1980.
“Os brasileiros não podem ficar reféns de oportunistas altas de preços, como está acontecendo com material de construção e alimentos. Vou cobrar do ministro Paulo Guedes medidas econômicas concretas para evitar isso”, escreveu Pacheco na rede social.
O receio do mercado em torno do controle de preços não é novo. O temor nasceu em meados do ano passado, quando o próprio Bolsonaro, contrariando a promessa liberal de seu governo, lançou uma ofensiva contra os supermercados por causa da disparada no preço do arroz.
Segundo quem acompanha o presidente do Senado, porém, o plano é pedir que o próprio Guedes aponte saídas, que poderiam vir com redução de alíquotas. A brincadeira é que Pacheco e Guedes têm visões diferentes do mesmo supermercado. Enquanto o ministro disse recentemente que costuma ser parabenizado por consumidores que o encontram nas compras, o senador se assusta com o preço.
A questão foi levantada por Pacheco na esteira da promulgação da PEC Emergencial, que destrava a nova rodada do auxílio. O receio é que a nova injeção de recursos na economia estimule alguns setores a elevar preços para abocanhar o poder de compra dos beneficiados.
Para Fábio Pina, economista da FecomercioSP, o auxílio pode ter efeito em certos itens, mas não de forma geral na inflação. “Tem outros fatores. Claro que aumento de demanda enseja alguma pressão nos grupos básicos, que foi o que ocorreu no ano passado. Mas neste ano, o valor estimado é de R$ 44 bilhões, um quarto do anterior, além de menos gente recebendo e um valor médio menor.”
Um dos mercados que têm levantado essa preocupação, os materiais de construção registraram mais crescimento nas vendas em fevereiro para 45% dos varejistas, ante 33% em janeiro, segundo a Anamaco (associação do setor). O maior aumento foi entre os varejistas do Nordeste.
com Filipe Oliveira e Andressa Motter
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