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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Mesmo com vacina, ainda vai ter mercado para teste de Covid neste ano, diz presidente do grupo Fleury

Jeane Tsutsui acaba de assumir a presidência da empresa

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São Paulo

Apesar do início da vacinação no Brasil, a médica Jeane Tsutsui, que acaba de assumir a presidência do Grupo Fleury, prevê que o mercado de testes de Covid-19 ainda se manterá neste ano. "Talvez, o percentual da receita não seja tão alto neste ano como em 2020, mas vai continuar acontecendo", afirma ela.

Jeane Tsutsui, presidente do grupo Fleury
Jeane Tsutsui, presidente do grupo Fleury - Divulgação

Como foi assumir o cargo na pandemia. E como é ser mulher no posto?  É um momento importante em que as pessoas passaram a valorizar mais a saúde. E estamos começando um ciclo de aceleração do crescimento do grupo por meio de aquisições, para levar mais saúde de qualidade e para a nossa transformação digital. Desde 2019, começamos a falar de plataforma de saúde. Não somos mais uma empresa de medicina diagnóstica, mas de saúde.

Sobre ser uma presidente mulher, a área de saúde tem muitas mulheres. Eu não sou a primeira no Grupo Fleury, e 80% da nossa população é de mulheres. Nos cargos de liderança, temos 67%.

Como está a telemedicina no grupo hoje? Desde abril do ano passado nós iniciamos o serviço de teleconsulta. Já temos quase 400 mil teleconsultas realizadas no país e 40% foram feitas em locais onde não estamos presentes fisicamente. Hoje, o grupo tem unidade de atendimento em oito estados e Distrito Federal.

Só neste ano, já fizemos mais do que em todo o ano passado. Já temos quase 700 médicos atendendo a telemedicina. Também estamos crescendo para novos serviços, acabamos de adquirir uma clínica de oftalmologia, centro para medicamentos, clínica de ortopedia. Queremos oferecer todos os serviços.

Como avalia a tentativa de impor limite à telemedicina? A mudança de comportamento das pessoas com a pandemia é irreversível. A telemedicina é um ato médico, uma responsabilidade, mas é uma ferramenta. Veio trazer valor. Tem toda a discussão que precisa ser feita sobre segurança de informação, confidencialidade. Em 89% dos casos, se resolve o problema do paciente com a teleconsulta sem que ele precise procurar um atendimento físico. Veja o valor disso na pandemia.

Recentemente, as operadoras tentaram suspender as autorizações de procedimentos eletivos na pandemia. Como vê isso? A pandemia trouxe desafios, hospitais lotados. Mas as doenças crônicas precisam continuar sendo tratadas. Os pacientes precisam continuar fazendo diagnóstico. É uma preocupação que estamos tendo porque em algumas áreas houve atraso no cuidado do diagnóstico. Isso vai ter repercussões. Em oncologia, se deixar de fazer, depois tem casos mais graves para tratar. Acaba sendo sobrecarga para o sistema de saúde.

Tem outra discussão grande no setor que é o aumento no preço do plano de saúde. O custo de saúde é um desafio para todo o setor. A gente sempre discute com operadoras, fornecedores, hospitais, como trabalhar de forma conjunta para dar mais sustentabilidade. Se as pessoas têm dificuldade para pagar, é um desafio para todo mundo.

Quando eu falo que a telemedicina consegue resolver casos mais simples em 89% das vezes, o que eu estou dizendo? Que casos mais simples não precisam de atendimento de alta complexidade. Precisa reservar esse recurso valioso para as situações de alta complexidade. Usar o recurso adequadamente no sistema vai equilibrar esse desafio.

A demanda de teste para verificar que as pessoas estão imunizadas cresceu depois do começo da vacinação? Fizemos até agora 2,7 milhões de testes de Covid. Isso inclui os de PCR e os de sorologia. Esse do qual você está falando é o de anticorpo neutralizante, para saber se uma pessoa que tomou a vacina desenvolveu o anticorpo. A gente também lançou esse teste. Vimos a necessidade, o desejo de algumas pessoas solicitando.

Agora, eu gostaria de lembrar que o teste de anticorpo neutralizante avalia se, após a vacinação, a pessoa desenvolveu o anticorpo. Só que ele não é único. Quando uma pessoa toma a vacina, ela tem dois tipos de resposta: a humoral, que é o desenvolvimento do anticorpo, e a celular, que não tem como medir. O teste de anticorpo neutralizante avalia a resposta humoral. Você pode ter desenvolvido a celular.
É preciso tomar de novo? Não. A gente sempre diz que a eficácia das vacinas é com base nos estudos. Isso é nítido. Se toma a vacina, reduz os casos graves, a mortalidade.

E essa demanda cresceu? Ela vem crescendo paulatinamente. De uma maneira geral, a gente ainda está com uma quantidade grande de testes de Covid. Eles hoje representam 9,7% da receita total do grupo. Nos trimestres anteriores, a gente tinha um percentual até maior.

Durante este ano ainda devemos ter testes de Covid, porque a vacinação ainda está em curso. As pessoas ainda vão avaliar tanto a infecção aguda quanto o desenvolvimento de anticorpos. Esperamos que, talvez, o percentual da receita não seja tão alto neste ano como em 2020, mas vai continuar acontecendo.

Qual é sua avaliação sobre a CPI da Covid?É uma situação muito triste que estamos vendo no Brasil, com tantas mortes. Nós, que estamos na área de saúde, desde o começo, aplicando protocolos de segurança, cuidando das pessoas, mantendo o atendimento na linha de frente, sabemos o quanto é difícil. Como médica, nosso foco é no avanço científico.


Jeane Tsutsui
Formada em medicina pela USP. Fez residência em clínica médica no HC da USP e em cardiologia no InCor. Tem doutorado em cardiologia pela USP e pós-doutorado na University of Nebraska. No Fleury desde 2001, atuou em cargos como diretora-executiva médica e diretora-executiva de negócios

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