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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Investidor diz que Lula está virtualmente com a mão na taça para a eleição de 2022

Para Lawrence Pih, candidatos da terceira via são numerosos e dificilmente chegarão a um acordo

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São Paulo

Para o investidor Lawrence Pih, que foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT na década de 1980 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma Rousseff publicamente três décadas depois, a terceira via tem candidatos demais, que dificilmente chegarão a um acordo, o que deixa Lula com a mão na taça das eleições de 2022.

Ele afirma que não consegue imaginar nada pior do que o governo Bolsonaro, e o ministro Paulo Guedes ainda não mostrou a que veio. “O risco político está consolidado na personalidade intrínseca do presidente, não na persona do paz e amor da carta de Michel Temer”, diz Pih.

O investidor Lawrence Pih - Eduardo Anizelli/Folhapress

Como o sr. tem analisado o cenário da economia do Brasil com as previsões em queda? As perspectivas da nossa economia estão em declino já há alguns meses. As previsões mostram sucessivas quedas. Vejo um crescimento do PIB ao redor de 4,5% neste ano, um resultado inflado devido à base baixa de 2020. A previsão para 2022 é crescimento zero ou até uma recessão.

O IOF é um imposto burro e regressivo. É a CPMF de Guedes disfarçada. Na pessoa jurídica, será repassado aos consumidores, aumentando a pressão inflacionária e encarecendo o custo dos produtos exportados, ou seja exportando imposto.

Na pessoa física, reduz a renda disponível para consumo, reduzindo a atividade econômica. Se é para para pagar Bolsa Família anabolizada, temos um imposto temporário para uma despesa permanente. Faz sentido? O Banco Central terá de aumentar a Selic ao nível de 10% para poder cumprir a meta de inflação, IPCA, de 2022 de 3,5%. Atualmente, vejo a possibilidade de o IPCA furar o teto de 5% no ano que vem, se o Banco Central não agir agora. O Banco Central está bem atrás da curva.

O ministro Paulo Guedes disse, lá atrás, que um real desvalorizado é bom, agora, acha que ela provoca alta da inflação, sério? Quanto às reformas, nada. Privatizações, quase nada. Disciplina fiscal, pelo contrário. Populismo, ao máximo. Ainda não descobri a que ele veio.

Como o Brasil pode desatar esse nó de risco político, fiscal, crise hídrica? O risco político está consolidado na personalidade intrínseca do presidente, não na persona do paz e amor da carta de Michel Temer. Pelo histórico dele, não há mínima possibilidade de reduzir a temperatura política. As crises fiscal, hídrica etc só vêm agravar ainda mais o cenário.

Esse governo tem condições de resolver o ruído da questão dos precatórios e o novo programa social? Acredito que o governo está ciente da dificuldade da questão dos precatórios e, por isso, optou por uma medida de remendo, aumentando o IOF, que não resolve a questão, a não ser se este aumento se tornar permanente.

Qualquer solução na questão dos precatórios traz riscos. Pode até ser considerada pedalada ou calote. Acho difícil uma solução juridicamente consistente. Como o Bolsa Família anabolizado é visto como sobrevivência política do presidente, o provável é o governo partir para uma solução que traz insegurança jurídica.

É importante reconhecer, os precatórios são dívidas do governo sustentadas por decisões transitadas em julgado.

E o presidente Bolsonaro? Ameaça golpista, reprovação crescente, fantasma do impeachment? Ainda vem muita turbulência?  O impeachment está nas mãos do Arthur Lira, político muito mais hábil e sofisticado que Eduardo Cunha. Lira irá até o limite e extrairá o máximo do Bolsonaro antes de jogar ele embaixo de um ônibus, como dizem os americanos. Aliás, hoje, Bolsonaro não governa mais. É o centrão que governa. Dá pena.

Como o sr. vê a possibilidade de uma terceira via? Ou vai ser Lula e Bolsonaro em 2022? O Lula está virtualmente com a mão na taça. No campo da terceira via tem ao menos uma dúzia de candidatos. É quase impossível chegarem a um acordo. Os egos e a fome não dão espaço a uma composição. Neste ínterim, o Lula deve estar a todo vapor costurando alianças. O centrão sucumbirá ao charme do Lula sedutor. Cargos e verbas. O Lula já está sinalizando seu eterno amor ao mercado com Luiza Trajano na pauta. Lembra do José Alencar [vice-presidente de Lula]?

Há uma onda rosa varrendo a América Latina e a América Central. O nosso país também está embarcando nesta onda, e não necessariamente é ruim. Pode até reduzir a desigualdade pornográfica do país. Lula e PT devem ter aprendido lições com os erros do mensalão, corrupção e a incompetência da Dilma. Vamos torcer.

O sr. foi um dos primeiros empresários a criticar publicamente o governo Dilma. Acha que Lula pode ser bom agora? Primeiro, não consigo imaginar uma situação pior que a atual.

Se Lula pode ser melhor agora, depende muito se ele consegue enquadrar a ala mais radical do PT, e se o programa de governo dele será mais a centro-esquerda daquele do seu segundo mandato.

Devemos lembrar, o primeiro mandato dele foi guiado por uma política equilibrada. Lula é um político pragmático. Se ele conseguir construir uma aliança sólida sem ter de partir para promiscuidade política e conseguir implementar um projeto na linha de uma social-democracia, será um grande feito.

Como é o Brasil, essa tarefa é um desafio monumental para qualquer dirigente. A estrutura política dá espaço para a emergência de políticos do nível daqueles do centrão. Não vai ser fácil se ele for eleito.


Lawrence Pih
O investidor é graduado em filosofia pelo Lafayette College, nos Estados Unidos. Fez mestrado em filosofia pelo Four-College e PhD Program, pela University of Massachusetts. Pih vendeu o Moinho Pacífico, um dos maiores processadores de trigo do Brasil, para a Bunge em 2015

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