Daniel Wainstein já esteve do outro lado do balcão. Presidiu o Goldman Sachs no Brasil e sabe como um banco é duro para emprestar a grupos em dificuldade.
Sócio da Seneca Evercore, subsidiária do banco de investimentos Evercore, ele agora ajuda grupos brasileiros a encontrarem sócios, especialmente estrangeiros, e diz que dois em cada dez negócios já são feitos por fundos que retiram companhias do estresse financeiro.
A Fitch disse que Lula faria medidas estatistas não fosse o contrapeso do Congresso. Você concorda?
Discordo e acho um preconceito. Lula tem um discurso para a base, mais radical. Mas é pragmático e sabe que precisa de um ambiente de tranquilidade e confiança para atrair investimentos. O que conseguiram com a tributária e fiscal foi importante. Mostrou articulação com o Congresso.
A percepção de risco mudou?
Nas eleições foi o pior momento. O risco de um calote do país chegou a 5%. Hoje, é de 2,5%, compatível com o duplo B. Quando o risco cai assim, o investidor volta. Desde abril, percebemos essa virada.
Em quantos negócios vocês atuam e quais as áreas de interesse dos investidores?
Fechamos dez no primeiro semestre e temos 35 em andamento. Há estrangeiros que nunca atuaram aqui interessados em infraestrutura, energia alternativa e serviços financeiros. Desse total, uns 20% envolvem os chamados de fundos de situações especiais. Com a pior crise de liquidez da última década, eles salvaram empresas da quebradeira.
Como assim?
Como na política, o mercado não deixa vácuo. Imagine uma empresa cujo faturamento cai 30%, com um monte de dívida tomada quando a Selic estava em 2,5% e agora é de 13,75%. O custo financeiro explodiu. Esses fundos fizeram um papel dos bancos, liberando crédito.
Quantos eles colocaram na praça?
Estimo em R$ 20 bilhões. É difícil de projetar porque as empresas não gostam de anunciar essas operações. É um sinal de alerta [do estresse financeiro].
Essa crise de liquidez foi devido à alta de Selic ou ao caso Americanas?
Os juros quintuplicaram. Saíram de 2% para 13,75%. O serviço da dívida corporativa explodiu e o lucro, usado para o pagamento, caiu. Foi uma bomba atômica perfeita. Teve o caso Americanas, o da Light, mas a coisa foi mais ampla. O capital para poder socorrer essas empresas foi o desses fundos de situações especiais.
Raio-x | Daniel Wainstein, 53
Formação: Economia pela USP e MBA pela University of Rochester
Carreira: Começou sua carreira no Lehman Brothers e também fez parte da Greenhill; foi presidente do Goldman Sachs no Brasil por 13 anos e é assessor sênior para o IFC no Brasil
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.