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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Projeto do Carf perdoa dívidas, dizem auditores

OUTRO LADO: Associação de representantes dos contribuintes afirma que suspensão do pagamento por discussão de multas não torna empresas devedoras contumazes

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Brasília e São Paulo

A Unafisco, associação dos auditores da Receita Federal, fez uma simulação para mostrar como o impacto do projeto de lei do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) é nocivo aos cofres da União.

O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados e, como mostrou a Folha, o governo calculava ser possível recuperar R$ 34 bilhões com as negociações das multas em discussão no conselho.

Fachada externa do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), em Brasília
Fachada externa do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), em Brasília - André Corrêa/Senado Federal

No entanto, os "jabutis" inseridos no texto desidrataram de tal forma a capacidade de recuperação das dívidas que, ao final, não sobrará nada para o governo.

Um exemplo: uma autuação de R$ 100 milhões, com multa de 75%, aguardando julgamento final há dez anos no Carf, resultaria no pagamento de R$ 332,50 milhões –considerando uma taxa Selic acumulada de aproximadamente 90% no período.

A inflação pelo IPCA foi de aproximadamente 77% no mesmo período.

Antes, com o voto de qualidade, a autuação era mantida. Agora, com o novo voto de qualidade previsto no projeto de lei, o valor cai de R$ 332,5 milhões para R$ 100 milhões, que é apenas o valor principal.

Pelos cálculos, esse valor representa 30% do valor original devido à correção inflacionária do período.

No entanto, segundo a Unafisco, esse valor não precisará ser pago pelo contribuinte. Isso porque podem ser usados prejuízos fiscais, inclusive de outras empresas do grupo, e precatórios de terceiros, para acertar o débito.

Para a entidade, o texto aprovado na Câmara torna a sonegação uma atividade de risco calculado e a inadimplência um grande negócio.

Além disso, as Representações Fiscais para Fins Penais (RFFP) seguirão para o arquivo, não chegando mais ao Ministério Público Federal. O risco de repercussão penal, que sempre foi baixa, agora irá a zero.

A Unafisco pretende agora pressionar contra o projeto junto ao Senado Federal.

"É um acordo de pai para filho. A ideia do mercado financeiro e das empresas sobre os benefícios de uma inflação maior pode até mudar. Quanto maior a inflação no período, menos tributos serão pagos", afirma Kleber Cabral, vice-presidente da Unafisco.

Sem prejudicar a matéria

Wesley Rocha, presidente da Aconcarf (Associação dos Conselheiros Representantes dos Contribuintes no Carf), afirma que as empresas que chegam ao Carf nem sempre são devedoras contumazes, como faz parecer a Unafisco. Rocha diz que o Congresso discute separar as duas categorias de devedores, o que pode ser uma vacina contra a preocupação do fisco.

"Um contribuinte que reitera atos de sonegação deve ser tratado de maneira diferente daquele que simplesmente atrasa o recolhimento de tributos sem intenção de obter benefícios próprios", disse.

Advogados tributaristas também avaliam que a União não tende a ser prejudicada com as alterações, ainda que possa, de fato, haver queda na arrecadação.

"De fato, o estado pode arrecadar menos com a redução das penalidades, como foi exposto [pela Unafisco]. Mas, o que não foi dito, é que essas reduções fomentam a adimplência, o que, por sua vez, pode gerar um aumento de arrecadação", diz Gisele Bossa, sócia do escritório Demarest e ex-conselheira do Carf.

Edison Fernandes, sócio do escritório FF Law e ex-conselheiro do Carf, avalia que as alterações no texto tornam mais fáceis a quitação dos débitos, contribuindo para a arrecadação do governo.

"Não há incentivo à sonegação, até porque existem outras repercussões negativas ao contribuinte, como custos de defesa e impossibilidade de certidão negativa, em determinados casos. A Câmara buscou uma solução salomônica para viabilizar a manutenção do voto de qualidade", disse.

Com Diego Felix

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