A Infraero, estatal dos aeroportos, resiste a entregar Congonhas (SP) e os demais terminais privatizados no apagar das luzes do governo Jair Bolsonaro.
As dificuldades impostas às concessionárias vencedoras do leilão para assumirem o controle operacional dos terminais são tantas que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) entrou em ação.
Em Belém (PA), técnicos da Anac afirmam que a concessionária Noa (Norte da Amazônia Airports) tentava fazer uma verificação dos sistemas operacionais em pista, equipamentos que conversam com as aeronaves antes do pouso e da decolagem.
As barreiras impostas pela Infraero chegaram ao ponto de a concessionária ter de acionar a Anac.
Mesmo assim, as dificuldades continuaram e o órgão obrigou o acesso intervindo em uma medida cautelar.
Em Congonhas (SP), considerada a jóia dos aeroportos, por ser lucrativo, os obstáculos foram similares.
Por ter uma pista sem espaço de escape nas cabeceiras, a Aena queria verificar as condições do asfaltamento, algo que interfere diretamente na frenagem das aeronaves.
Ainda segundo relatos, a Infraero afirmou que só poderia liberar a pista para verificação à noite, após o fechamento do aeroporto. Na prática, isso inviabiliza a análise técnica, que precisa ser feita à luz do dia.
A situação chegou a tal ponto que a Aena cogitou montar uma operação noturna com caminhões localizados ao redor da pista para garantir a iluminação necessária para a verificação da pista, mas desistiu.
A Anac foi acionada e deu uma advertência à Infraero. A Aena pretende "virar a chave" e assumir o comando operacional do aeroporto em meados de outubro.
Nos bastidores, a avaliação na Anac é a de que a estatal quer forçar o adiamento da data para criar uma narrativa contra a privatização.
Sob comando petista, a Infraero terá papel fundamental na aviação regional. Caberá a ela a realização de obras do Novo PAC em aeroportos menores.
A ideia da nova gestão é, além de cuidar das obras, fechar contratos para ser a gestora responsável pelos aeroportos regionais —algo que lhe daria motivos para continuar atuando no setor após a venda dos grandes aeroportos a ela vinculados.
A Infraero ainda continuará com o Santos Dumont, outro importante aeroporto do país. Sob Lula, o terminal não deve ser privatizado.
Consultada, a estatal disse que não tem conhecimento da cautelar e da advertência pela Anac.
Por meio de sua assessoria, a Aena não confirmou a informação. Disse que já está em operação assistida em Congonhas, com acesso 24 horas ao aeroporto. A concessionária Noa não respondeu.
Em nota, a Anac informou que "acompanha as tratativas entre as partes envolvidas com vistas a assegurar a normalidade do processo de transição operacional dos aeroportos da 7ª rodada de concessão".
Com Diego Felix
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