O economista Felipe Miranda, 39, comanda a Empiricus, casa de investimento que se tornou famosa ao antecipar que o governo Dilma levaria o Brasil ao fim. Foi processado pelo PT, mas a profecia se realizou. Os juros explodiram, o dólar saiu de R$ 1,90 para R$ 4, e as ações da Petrobras desabaram. Quem seguiu suas dicas, ganhou muito dinheiro. Em 2021, a Empiricus foi comprada pelo BTG Pactual. Direitista ortodoxo e liberal, ele diz que o mercado só quer saber do lucro das empresas.
O mercado ainda prefere Bolsonaro?
Nas pesquisas [de intenção de votos], se o candidato da direita sobe, a bolsa sobe. Isso não existe porque o mercado é bolsonarista, embora boa parte goste do Bolsonaro.
O mercado é aético e apolítico, a princípio. Mas isso se converte para o candidato da direita, porque tem uma crença de que ele seja pró-mercado, enquanto a esquerda é pró-estado.
O mercado, na verdade, não está nem aí para a polarização e liga para como o governo vai mexer no lucro das empresas.
Mas o mercado votou em Bolsonaro.
A Faria Lima, no geral, aceitava o Bolsonaro como uma reação ao petismo, principalmente ao que havia sido o governo Dilma. E essa turma foi validada pela reputação emprestada do Paulo Guedes ao ex-presidente.
No ciclo 2003 a 2007, o governo Lula 1, foi um dos maiores ciclos de valorização da bolsa. Com a Dilma o mercado financeiro perdeu muito dinheiro e foi, de fato, uma tragédia para o Brasil. O medo dessa herança foi maior do que a ideia de que o Paulo Guedes com o Bolsonaro seriam pró-mercado. E, naquela época, Lula estava saindo da cadeia.
Como avalia o início de Lula 3?
Seria até compreensível que ele voltasse revanchista e raivoso depois do que aconteceu. Ele tinha a oportunidade de voltar como Mandela e as condições estavam dadas para isso. Mas, toda aquela estridência do começo do governo para revisitar as reformas, reestatizar a Eletrobras, acabar com a independência do Banco Central, chamar o Roberto Campos Neto [presidente do BC] de "esse cidadão", e, mais recentemente, a questão do genocídio em Gaza ser comparado com holocausto, tudo isso foi muito ruim. Para quem quer se colocar como interlocutor do Sul não se deve antagonizar dessa forma.
Mas a economia avança, não?
O Brasil cresce mais, embora, para que sejamos justos, cresce já há alguns anos mais do que se esperava. Não é exclusividade do governo Lula. Mas o ministro [da Fazenda] Fernando Haddad tem dado continuidade a isso. Se a gente vai crescer real 2,5% [agora] está muito bom e Haddad já fez a reforma tributária, uma agenda micro com o marco das garantias, LCI e LCA. Agora, o discurso do ‘pintou uma receita, vamos gastar’, é péssimo.
Por que Lula não captura mais a melhora na economia nas pesquisas?
O governo está extremamente preocupado, porque é um país dividido em que ele ganhou por pouco. E o político reage a voto. Mas é um índice de popularidade que, embora ele tenha caído, ainda é alto. A economia está ajudando, o sentimento de bem-estar melhorou, e creio que ele está capturando [essa percepção nas pesquisas]. O que mais importa é o discurso e a proposta. Se, de repente, o Lula disser que vai virar liberal, o mercado vai cair de joelhos.
Não importa se é Lula ou Bolsonaro?
Não é relevante. E a prova é que a bolsa andou super bem no passado. O dólar caiu com o Lula. Não era outro presidente, era o Lula. Toda vez que ele vier mais parecido com o [governo] Lula 1, o mercado vai aplaudir. É um sistema de feedback [retorno nas pesquisas] muito rápido.
Na eleição, a economia ainda é tão relevante ou, com a polarização, a pauta de costumes tem mais poder?
Isso está mandando mais. E, se chegar uma recessão brutal, a oposição se fortalece. Mas se o Brasil cresce 3,5% ao ano, o juro cai para 4% e a inflação para 2%, o governo de situação se fortalece.
E se não rolar?
Se firmar um compromisso e for crível, topa. Tanto que toda vez que o Lula veio de novo, o mercado abraçou. Bolsonaro nunca foi liberal, mas aderiu à causa. Ele é muito mais parecido com a Dilma do que com o Paulo Guedes. Acho que os dois teriam feito o segundo PND [Plano Nacional de Desenvolvimento], sem nenhum problema.
Raio-X | Felipe Miranda, 39
Formação: Economia (FEA/USP) e MBA em Finanças (FGV)
Carreira: Fundou a Empiricus, em 2009, junto com outros sócios, e, desde 2021, é CEO e estrategista-chefe após a venda do grupo para o BTG Pactual, por R$ 690 milhões, em valores da época; com o negócio, tornou-se sócio do BTG
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