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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Brasil-EUA, 200

EUA concentram quase um terço dos investimentos estrangeiros no Brasil

Relatório da Amcham com ApexBrasil mostra ainda que produtos brasileiros ganharam espaço na substituição de importações da China

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Brasília

Com uma corrente de comércio de quase US$ 75 bilhões e um estoque de investimento direto no Brasil de US$ 228,8 bilhões, quase um terço do total, os EUA passaram a ser o segundo maior parceiro comercial do Brasil e o maior investidor direto, segundo relatório produzido pela ApexBrasil e a Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil.

É o que mostra a terceira edição do Mapa Bilateral de Comércio e Investimentos Brasil-EUA, uma iniciativa da ApexBrasil, em colaboração com a Amcham Brasil que será lançado nesta terça (18) em evento em homenagem aos 200 anos das relações entre ambos os países.

28.set.2023-Jim Watson/AFP
Os presidentes Lula (Brasil) e Joe Biden (EUA) em reunião ocorrida na ocasião da Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA) - AFP

De acordo com relatório, obtido pelo Painel S.A., os EUA são o país que mais projetos têm em andamento com a ApexBrasil e abrangem setores como alimentos, bebidas e agronegócio, casa e construção, economia criativa, máquinas e equipamentos, moda, saúde e tecnologia da informação.

"Embora a China seja nosso maior parceiro comercial, temos uma vantagem com os EUA, no aspecto de que nós exportamos para lá muitos produtos com valor agregado", diz Jorge Viana, presidente da ApexBrasil.

Viana afirma que, devido a erros do governo passado, o país perdeu a oportunidade. "Desde 2018, os EUA, por diferenças com a China, estabeleceram políticas de diminuir a dependência de produtos que têm origem chinesa. Mais ou menos 22%, 23% das importações americanas vinham da China."

Nesse movimento, o México acabou ocupando um espaço na substituição de importações da China. Segundo Viana, hoje os EUA importam 10% da China. "Houve substituição de 13%, e o Brasil ficou fora disso", disse.

Segundo o presidente da Amcham, Abrão Neto, o país começou a recuperar esse espaço no ano passado.

"O Brasil passou a exportar e a atrair investimentos em diversas áreas de manufaturados, mas, sobretudo, ganhou a atenção dos EUA nas tecnologias de energia renovável e limpa", disse Abrão Neto.

"A política dos EUA de produção local atraiu investimentos de grupos brasileiros nessa área, como a Granbio e a WEG."

O Brasil tem cerca de US$ 1 trilhão em investimentos estrangeiros acumulados e, desse total, US$ 228 bilhões (23%) são dos EUA.

"Esse parceiro tem que ser tratado com toda a atenção e prioridade, sem prejuízo de seguirmos trabalhando fortemente com a China, com nossos vizinhos [Mercosul], e a União Europeia", disse Viana, da ApexBrasil.

Segundo a Amcham, o Brasil tem, de fato, uma oportunidade com a política do governo de neoindustrialização de atrair investimentos dos EUA diante de seu potencial na transição energética para um mundo da energia verde, do hidrogênio verde.

"Já há investimentos dos EUA em minerais críticos, como o lítio. Empresas norte-americanas têm participação acionária em companhias de renováveis no Brasil. Este é um mercado que tende a ser mais explorado", disse Abrão Neto, da Amcham.

Essa tendência reforça uma posição consolidada de empresas brasileiras que produzem alimentos nos EUA. Segundo o relatório, hoje elas respondem por quase 35% da proteína animal e 75% do suco de laranja.

Antecedentes

Os EUA foram um dos primeiros países a reconhecer a independência do Brasil e já em 1828 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação entre o Império do Brasil e os EUA.

Ao longo do tempo, a relação comercial foi se aprofundando. Em 2006, no governo do presidente Lula, houve a instalação do mecanismo dos Diálogos Comerciais MDIC-DoC, formalizado pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o Departamento de Comércio dos EUA (USDoC).

Em 2011, na gestão Dilma Rousseff, foi celebrado o Acordo de Comércio e Cooperação Econômica (ATEC), que criou um diálogo contínuo entre os governos que hoje contam ainda com a colaboração do setor empresarial em mecanismos como o Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA, composto por 12 CEOs de empresas de cada lado.

Criado em 2007 pelo presidente Lula, esse fórum se reúne periodicamente para fazer recomendações e destacar pontos de atenção para ambos os governos.

Em 2023, os presidentes Lula e Joe Biden avançaram em novas diretrizes para as relações entre os dois países para aprofundar a cooperação global, regional e bilateral em temas como governança internacional, democracia, direitos humanos e igualdade de gênero.

No âmbito comercial, avançaram em tópicos como energia, cadeias de suprimento, crescimento, meio ambiente, defesa, entre outros.

Os EUA devem ser parceiros dentro do programa Nova Indústria Brasil tem, entre suas missões, ações relacionadas à ampliação da autonomia, à transição ecológica e à modernização do parque industrial brasileiro, em especial, com investimentos em cadeias relacionadas a minerais críticos, insumos químicos, tecnologias de energia renovável, veículos elétricos, baterias, sistemas de armazenamento de energia, fertilizantes, tecnologia médica e ingredientes farmacêuticos ativos (APIs).

Com Diego Felix

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