Houve um tempo em que a agricultura familiar, segmento da economia que coloca alimentos na mesa, recebeu importantes fomentos através de políticas públicas.
Nos dois governos Lula e no governo Dilma, havia jovens engajados em atividades agrícolas e pecuárias a partir do incentivo para o fortalecimento da agroecologia, além de mulheres camponesas, comunidades tradicionais e a valorização do potencial produtivo local.
Nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro, essa pauta foi praticamente esquecida. As prioridades se voltaram para o agronegócio. Embora seja fundamental para o equilíbrio da balança comercial, ele pouco contribui para a segurança alimentar da população, uma vez que a maior parte do que é produzido se destina à exportação.
Isso provocou desmotivação dos jovens, aspecto problemático para o processo sucessório nas atividades produtivas e nas formas de organização social em comunidades rurais.
A falta de engajamento já estava agravada em razão de mídias voltadas, quase que exclusivamente, para a divulgação do espaço urbano como ideal para se morar, com mais possibilidades de emprego e renda.
É fato que não haverá motivação ao engajamento dos jovens na sucessibilidade da agricultura familiar se não houver políticas públicas efetivas que possam fomentar o empreendedorismo do jovem rural, a partir das potencialidades e limites locais.
Isso inclui, além do fomento financeiro aos sonhos desses jovens, uma nova narrativa do ambiente rural como espaço importante para se viver dignamente.
E ela só será possível com políticas públicas efetivas que abordem o meio rural como espaço fundamental para os que lá residem e como fonte de alimentação saudável para quem vive em cidades.
Apesar dos grandes desafios, a expectativa no retorno de Lula ao governo federal é de que possa haver outro olhar para a agricultura familiar, com estratégias que possam engajar jovens camponeses nos cultivos agroecológicos e nas formas de organização social que dinamizam a vida no campo.
Não haverá desenvolvimento rural sustentável sem o acesso de jovens a políticas públicas efetivas de fomento a atividades produtivas —e outras desenvolvidas a partir de seus sonhos e vocações.
Nesses quatro anos, o Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs) dialogou com seus principais parceiros financiadores —Misereor (Alemanha) e Inter American Foundation (Estados Unidos)— para garantir fomento às inovações de práticas agroecológicas, destinando 50% do apoio para iniciativas de jovens agricultores.
A ideia era estimular interesse na sucessibilidade dos cultivos agrícolas e pecuária e nas variadas formas de organização social no campo.
Trata-se de apoio a iniciativas já em curso, ou seja, que vinham sendo desenvolvidas por seus pais ou por eles próprios, mas que precisavam de apoio para inovar e ampliar.
Além dos recursos financeiros e técnicos, o Cepfs está desenvolvendo atividades formativas para que os próprios jovens possam comunicar e compartilhar suas iniciativas em rede. Esse é um dos caminhos para a construção do conhecimento coletivo e inspiração para sua reaplicação em outras localidades.
Embora seja uma experiência pequena, esperamos que ela possa referenciar políticas públicas efetivas, de Estado, voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar e sua sucessibilidade e nas várias formas de organização camponesas.
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