A agenda ESG traz, em si, desafios relacionados à credibilidade e à qualidade de sua governança. A falta de padronização nos dados, o uso de métricas subjetivas e os processos excessivamente manuais são alguns deles.
Sem falar nas práticas enganosas, como o "greenwashing" e o tokenismo social, quando a empresa contrata pessoas de grupos minoritários só para ficar bem na foto e atingir suas metas de diversidade, mas sem abraçar o compromisso de uma inclusão responsável.
Foi com o objetivo de criar uma maneira de prevenir estas más práticas que uma coalizão de empresas brasileiras fundadas por pessoas pretas realizou o primeiro projeto de proteção e transparência de dados para ESG na programação blockchain do mundo.
A plataforma Okan, que em Yorubá significa "coração," foi lançada durante o evento Blockchain Rio, que aconteceu entre 12 e 14 de setembro.
As principais fontes de informação sobre boas práticas entre investidores que utilizam ESG ainda são os relatórios de sustentabilidade (72%), segundo a pesquisa "Agenda ESG e o Mercado de Capitais – Uma análise das Iniciativas em Andamento, Desafios e Oportunidades para Futuras Reflexões da CVM'.
No entanto, boa parte dos emissores e participantes do mercado —leia-se empresas e fundos— não divulga ou atualiza de forma adequada as informações relacionadas aos riscos ambientais, sociais e de governança que possam afetar seus modelos de negócios.
O levantamento, realizado em 2021 com 263 participantes, mostrou que 36% não consideravam os critérios de boas práticas e sustentabilidade para decidir aplicações. Isso devido à falta de confiança nas informações divulgadas pelas empresas (39,3%) ou à dificuldade em obter esses dados (39,3%).
Embora existam soluções disponíveis para abordar esses problemas, elas geralmente estão fragmentadas e raramente conseguem aproveitar totalmente as oportunidades oferecidas pela combinação das tecnologias digitais, tecnologias sociais e redes sociais.
Iara Vicente, fundadora da Nossa Terra Firme, uma das empresas à frente da plataforma Okan, lida com a falta de transparência dessas informações diariamente em seu trabalho. Para ela, que também é líder do hub de bioeconomia amazônica do Civi-co - Comunidade de Empreendedores Cívicos Socioambientais, é necessário construir uma base de dados ESG mais consistente.
Ela explica que a tecnologia blockchain oferece uma vasta gama de soluções para aprimorar a transparência nos processos de gerenciamento de dados. E que a solução é amplamente reconhecida como a mais avançada para garantir a segurança da informação e para a construção de sistemas descentralizados.
A união da consultoria Nossa Terra Firme à empresa de tecnologia blockchain OnePercent pretende oferecer mais segurança e credibilidade às métricas ambientais, sociais e de governança por meio da Okan.
Com o propósito de que a 'verdade seja o coração do ESG,' o programa irá compartilhar, atualizar e tornar mais acessíveis os dados relacionados às práticas, proporcionando mais segurança para empresas e investidores.
Nessa agenda, as soluções que despertam maior interesse incluem a capacidade de realizar auditorias de forma descentralizada, a durabilidade dos dados registrados e a maior utilidade dos dados reportados, indo além das narrativas corporativas e comprovando sua veracidade e segurança institucional.
Não basta adotar as boas práticas para constar no relatório final do ano.
O ESG é uma ferramenta para que empresas se comprometam a mitigar seus impactos negativos mas, sobretudo, a gerar impactos positivos no ambiente corporativo e no mundo.
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