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Doar nos faz mais humanos

Brasil cai no ranking global de generosidade e é preciso ir além do óbvio para entender motivos

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Paula Fabiani

Diretora-presidente do Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, destaque no Prêmio Empreendedor Social 2020 e membro do Catalyst 2030

Luisa Lima

Gerente de Comunicação e Conhecimento no Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social

Pessoas passando fome, educação de má qualidade, temporais levando casas e vidas, animais abandonados. De quem é a responsabilidade por resolver estas questões? Alguns podem dizer que exclusivamente dos governos. Outros implicam também empresas e ONGs. Mas as mudanças apenas acontecerão na velocidade que precisamos quando cada indivíduo também se perceber como parte da solução.

Eu e você, cada um de nós, temos a possibilidade de contribuir de diversas formas. De acordo com o recém-lançado World Giving Index, o ranking global de generosidade promovido pela Charities Aid Foundation e lançado no Brasil pelo Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, em todo o mundo, 4,2 bilhões de pessoas ajudaram alguém que não conheciam, fizeram trabalho voluntário ou doaram dinheiro para uma organização social em 2022.

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Comunidades quilombolas do Vale do Ribeira (SP) tem produção sustentável e rede de doação de alimentos - Karime Xavier/Folhapress

Entre 142 nações, Indonésia, Ucrânia e Quênia lideram o ranking. O Brasil aparece na 89ª posição, depois de ocupar a 18ª apenas um ano antes. Enquanto esses comportamentos se mantiveram estáveis na maioria dos países, o Brasil foi na contramão e apresentou reduções.

O percentual de brasileiros que reportaram ter realizado uma doação caiu de 41%, em 2021, para 26% em 2022, doação de tempo (voluntariado) foi de 25% para 21%, e ajuda a um desconhecido, a forma mais básica de solidariedade, recuou de 76% para 64% entre os respondentes.

A diversidade de perfis entre os países bem posicionados não nos permite dizer que o engajamento é maior em função do grau de desenvolvimento econômico, religião ou continente a que pertence. Dentre os dez mais bem colocados há países de várias partes do mundo e com diferentes religiões praticadas.

Apenas três dos dez países mais solidários estão entre as maiores economias do mundo, e a Libéria, um dos países mais pobres do mundo, aparece em quarto lugar no ranking.

É preciso ir além do óbvio para entender o que contribui para o fortalecimento da cultura de doação. Um ponto já foi mencionado –os cidadãos devem se perceber como parte da mudança.

De acordo com a Pesquisa Doação Brasil 2022, estudo do Idis acerca do comportamento do doador individual, 93% dos respondentes reconheceram que pessoas comuns são também responsáveis por resolver os problemas sociais e ambientais no Brasil. Sete anos antes, apenas 61% concordaram com a afirmação.

Apesar da doação informal também ser importante, ela é potencializada quando é feita a organizações sociais, as ONGs, pois elas têm em sua atuação a atenção a causas e territórios e podem agir de forma sistemática.

A confiança no trabalho dessas organizações, dessa forma, é outro fator determinante. No Brasil, o protagonismo das ONGs no período da pandemia e a visibilidade que ganharam na mídia contribuíram para um crescimento acentuado em sua confiança. Passado o efeito da pandemia, segundo a pesquisa, os níveis caíram —mas, ainda assim, ficaram em 2022 em um patamar superior a 2015.

Somado a isso, é necessário que exista uma infraestrutura que conecte doadores a organizações, como plataformas, redes, coalizões, meios de pagamento, consultorias, capacitações e legislações que facilitem e incentivem o ato da doação. No caso da Ucrânia, que vinha ganhando posições no World Giving Index desde 2019 e ocupa agora a segunda posição, foi determinante haver um ecossistema constituído para receber as doações e atuar com agilidade quando a guerra, infelizmente, teve início.

Outros aspectos que também têm influência são o nível de satisfação das pessoas com a vida de forma geral –quanto mais felizes, mais doadores, com destaque aos habitantes dos países nórdicos– e o nível de segurança em relação ao futuro. Em épocas de eleições conturbadas ou crises econômicas, as pessoas tendem a ficar mais cautelosas e doarem menos, e isso pode explicar, em partes, a queda do Brasil no ranking.

Doar é se conectar com os seres vivos que nos cercam, estejam eles do outro lado da rua ou do outro lado do país. Doar é praticar a nossa humanidade, doar nos faz mais humanos. Governos, empresas, ONGs e cada um de nós devem se comprometer a espalhar essa prática e a agir. Que isso faça parte de nós e da cultura do nosso Brasil.

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