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Descrição de chapéu mudança climática clima

O papel das brigadas voluntárias e comunitárias em incêndios florestais no Brasil

Em momento de emergência climática, faltam políticas públicas para o voluntariado que ajuda a prevenir e combater o fogo

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Suzana Pádua

Doutora em desenvolvimento sustentável pela UnB, é presidente do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2009

Angela Pellin

Pesquisadora do Ipê – Instituto de Pesquisas Ecológicas

Fernando Rodovalho

Geógrafo, é especialista em manejo integrado do fogo do IPÊ

Não há como não se comover com os incêndios que destroem florestas brasileiras todos os anos em período de estiagem. Em 2023, há uma intensificação nesse cenário, agravado com as mudanças climáticas e a ocorrência do El Niño, que alteram os ciclos hídricos e prolongam o período de seca.

O desmatamento é mais um fator que altera a dinâmica natural das florestas e aumenta a suscetibilidade a incêndios ainda mais intensos e severos.

Brigadas combatem incêndio em propriedade rural na comunidade de Porto Esperanca, em Corumbá, Mato Grosso do Sul - Renato Stockler/Folhapress

De acordo com o Inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, até dia 21 de novembro deste ano os focos de calor superaram em 3% o mesmo período de 2022. No Pantanal, a situação é ainda mais crítica, com aumento de 18 vezes em relação a novembro passado. Na Amazônia, os incêndios têm afetado a qualidade do ar e a saúde da população em algumas cidades.

O Brasil conta com instituições públicas legalmente responsáveis pela gestão dos incêndios florestais, mas ações de prevenção e combate também são realizadas por voluntários. E o reforço trazido por esses grupos não é pequeno.

Atualmente, existem cerca de 200 brigadas contratadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) no país para apoiar prevenção, combate e atividades associadas ao manejo integrado do fogo em unidades de conservação federais, terras indígenas, territórios quilombolas e assentamentos.

Nos estudos realizados pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, foram identificadas 198 brigadas voluntárias e comunitárias no país, mas existem muitas ainda não mapeadas.

Esse é quase o mesmo número de brigadas instituídas pelo ICMBio e pelo Ibama. As brigadas sob poder público são mais bem capacitadas e contam com mais recursos e equipamentos, mas os voluntários têm grande motivação e conhecimento do território, além da proximidade com as áreas atingidas, o que reduz o tempo de atendimento.

O IPÊ também identificou áreas com altos índices de incêndios no Brasil que ainda não contam com brigadas voluntárias ou comunitárias.

O trabalho dessas pessoas ainda se encontra invisibilizado. Uma análise de 61 brigadas ou coletivos que atuam com manejo integrado do fogo, modelo de planejamento para atuação de prevenção e combate a incêndios e outras ações de conservação, apontou alguns dos desafios enfrentados por esses grupos.

Entre eles, falta de infraestrutura e veículo (87%) e recursos financeiros (82%), supridos principalmente por doações de pessoas físicas ou recursos dos próprios voluntários, além da falta de parcerias com o poder público (52%) e equipamentos como EPIs (51%).

Os voluntários dedicam tempo, energia e conhecimento em ações que beneficiam toda a sociedade, mas lhes faltam apoio e condições adequadas. Daí a necessidade de regulamentar essas atividades, o que ampliaria sua segurança e efetividade.

A construção da Estratégia Federal do Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo é uma realização do IPÊ, em parceria com a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, ICMBio e Ibama.

A iniciativa está sendo elaborada com base em estudos técnicos, jurídicos e financeiros, e com a participação de poder público, sociedade civil e representantes de voluntários, o que garante legitimidade ao processo e conexão com as realidades locais.

São mais de 130 pessoas e 50 instituições envolvidas, de 14 estados e Distrito Federal. Cerca de 30 organizações que atuam com voluntariado já foram apoiadas para participar do processo, que inclui mais de 2.300 horas voluntárias em workshops, encontros de boas práticas e visitas técnicas.

A regulamentação da estratégia amplia os meios para a adequada participação dos voluntários na prevenção e no combate a incêndios florestais de forma integrada e colaborativa com poder público, e sendo reconhecida e valorizada pela sociedade.

Entre 1985 e 2022, o Brasil teve mais de 1,85 milhão de quilômetros quadrados —ou 21,8%— atingidos por incêndios, segundo a rede MapBiomas, e esse número não tem melhorado.

A diversidade biológica do país está ameaçada por incêndios florestais, que em sua grande maioria são causados por ações humanas ilegais. A biodiversidade, maior patrimônio nacional, não pode virar cinzas.

A crise climática e as metas brasileiras de combate a incêndios florestais terão maiores chances com o voluntariado na prevenção e no combate a incêndios e ações associadas ao manejo integrado do fogo. Esse é um instrumento de conservação e ação climática que precisa ser valorizado e fortalecido.

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