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Acessibilidade para além das rampas

Apenas 0,89% dos sites brasileiros atendem a todos os critérios para garantir o acesso de pessoas cegas, com baixa visão, surdas e não letradas

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Ricardo Neves

CEO da NTT Data Brasil, é economista da Universidade Federal de Pernambuco e conselheiro da Brascomm

Eventos, shows, restaurantes, cinemas: muito foi feito pelos espaços físicos nos últimos anos, em prol da acessibilidade de pessoas com deficiência. São 18,6 milhões de brasileiros nessas condições, segundo dados de 2023 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Já é estranho entrar em um restaurante que não tenha rampa adequada. São reais os avanços das últimas décadas no "mundo físico", embora mais lentamente do que deveríamos, tendo em vista o estado das calçadas.

Imagem da série "Tom Clancy's Jack Ryan" aparece embaçada ao fundo, atrás de menu de áudio da Amazon
Acessibilidade digital é recurso para inclusão econômica e social e deve ser discutida por veículos de comunicação em ano eleitoral - Reprodução/Amazon

E, na vida digital, como anda nossa acessibilidade? Antes de responder, vale dizer que chamamos de acessibilidade no "mundo virtual" as experiências digitais criadas para todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiências físicas ou cognitivas.

A acessibilidade digital refere-se à capacidade de pessoas com diferentes habilidades e necessidades acessarem e interagirem com conteúdos online. Ela é fundamental para garantir a inclusão digital, econômica e social de todos os cidadãos.

Para que a experiência digital seja acessível é preciso que sites ou aplicativos sejam projetados para uso por todos, tenham ou não necessidades específicas. Na NTT Data, temos equipes especializadas em acessibilidade digital, que trabalham em pares com pessoas com necessidades especiais.

Esse acesso universal precisa estar na origem da criação para que não se torne assunto de uma adaptação posteriormente que, assim como a rampa construída após a obra projetada, nunca encontra espaço adequado e custa mais caro.

Por exemplo, em sites de notícias, a abstração de um gráfico pode requerer letramento para ser compreendida. Portanto, para que todos possam entender a informação lá contida, além do desenho em barras ou formato de pizza, os dados deveriam ser descritos em textos e explicados em áudio, com linguagem simplificada. Em ano de eleições, isso precisa estar na pauta de todos os veículos de comunicação.

Sistemas ditos "amigáveis" nem sempre são passíveis de uso por pessoas que não foram letradas no mundo digital. O usuário familiarizado pode sempre responder com um "é só clicar no botão de acesso", o que pode ser grego para quem vê um quadro azul na tela com a expressão anglicana "log in".

Segundo pesquisa realizada pela BigDataCorp, em parceria com o Movimento Web para Todos, apenas 0,89% dos sites brasileiros atendem a todos os critérios de acessibilidade estabelecidos. Além de excluir pessoas do mundo digital, a falta de acesso exclui também dos carrinhos de compras virtuais milhões de brasileiros.

Ignoramos pessoas cegas, pessoas com baixa visão, pessoas surdas e não letradas que querem comprar online produtos e serviços, como qualquer outro consumidor, porém não têm acesso a canais digitais preparados para tal. Há aqui um mercado invisível à grande maioria das empresas.

A acessibilidade digital no Brasil é regida principalmente pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146/2015). Porém, precisa ser colocada em prática por todas as instituições.

Fundamental também lembrar do envelhecimento da população e dos desafios cognitivos, de visão ou audição que o avançar da idade oferece a todos nós.

Em um dia a dia cada vez mais digitalizado, esse é um assunto urgente para empresas, governos e sociedade —e uma boa notícia é que a inteligência artificial será uma grande aliada na construção dessas rampas e pontes digitais.

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