Dois anos atrás, estive em Abu Sleem, um dos 30 centros de detenção para migrantes e refugiados na Líbia. Nesse centro em Misrata, havia dois banheiros para cem pessoas.
Mulheres, crianças e homens amontoavam-se em salas. O centro não era limpo há meses, não tinham materiais de limpeza. O cheiro era indescritível.
Por isso, quando algum gênio populista da União Europeia vem de novo com a ideia de que os refugiados devem ser mantidos em seus países de origem ou no norte da África, enquanto seus pedidos de refúgio são processados, meu primeiro pensamento é: essa gente não tem ideia do que são esses centros de detenção. Não são lugares minimamente dignos para manter pessoas durante dois dias, que dizer de meses.
Na reunião de cúpula da União Europeia em Bruxelas, que acaba nesta sexta-feira, de novo surge a ideia de centros de triagem no norte da África para os candidatos a refúgio. Os países africanos ainda se mostram relutantes, mas promessas de pacotes de ajuda de bilhões de euros podem ajudar a persuadi-los.
Para os países europeus, o modelo é o acordo entre UE e Turquia em março de 2016. Em troca de 3 bilhões de euros de ajuda financeira, a Turquia se comprometia a aumentar a fiscalização e manter os refugiados em campos dentro do país, esperando seus processos de refúgio tramitarem.
Os países europeus prometiam acolher os candidatos a refúgio aprovados. De fato, o tratado firmado praticamente estancou o fluxo de migrantes saindo da Turquia e entrando na UE pela Grécia. Mas o bloco europeu não cumpriu suas promessas de reassentar esses refugiados.
Os campos na Turquia estão transbordando, com condições humanitárias precárias, e o país tem mais de 3 milhões de refugiados, na imensa maioria, sírios. O dinheiro prometido pela UE à Turquia tampouco se materializou.
Dificilmente pode se considerar o acordo EU e Turquia um sucesso, a não ser no quesito manter os refugiados longe das fronteiras europeias.
Aparentemente, esse é o único critério importante para os países reunidos na cúpula em Bruxelas, divididos entre governos que prosperam com plataformas populistas xenófobas, como os da Hungria, Polônia, Áustria, Itália, e governos que tentam sobreviver à força das plataformas populistas xenófobas, como a Alemanha.
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