Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Precisamos falar de gerrymandering e hegemonia republicana no Legislativo

Democratas fizeram avanços importantes nos estados, que podem determinar futuro do partido

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Mulher dobra bolo de cédulas e coloca em caixa. Outras duas observam monitor e outras caixas, dispostas em filas de mesas.
Funcionários do conselho eleitoral guardam cédulas em Phoenix, no estado americano do Arizona, dois dias após a eleição de meio de mandato nos EUA - Ross D. Franklin/Associated Press

Ganhou muito destaque o fato de os democratas terem conquistado o controle da Câmara nos Estados Unidos nesta terça-feira (6). 

Com a maioria dos deputados, eles poderão questionar de forma mais eficiente algumas iniciativas de Donald Trump e de legisladores republicanos, principalmente relacionadas a redução de impostos e corte de gastos sociais, e terão o poder de abrir várias investigações sobre o presidente.

Mas as eleições trouxeram para o Partido Democrata outro ganho, que teve menos repercussão do que deveria.

Os democratas conquistaram sete legislaturas estaduais e sete governos que antes estavam nas mãos dos republicanos. Com isso, diminuíram um pouco a enorme vantagem dos republicanos nos estados. 

Agora, o partido de Trump controla as duas casas (Câmara e Senado estaduais) em 30 estados, e os democratas, em 18. Além disso, o Partido Democrata agora detém o governo de 23 estados, diante de 26 dos republicanos (a Geórgia continua indefinida).

Esse avanço é muito importante, porque cerca de 800 dos políticos eleitos na terça-feira (6) participarão do processo de redefinição dos distritos a partir de 2020 (outros 5.000 serão eleitos no pleito de 2020).  

Os representantes americanos, equivalentes aos nossos deputados, são distritais. A cada 10 anos, os EUA fazem um censo para atualizar os números da população e redesenham os distritos. 

Na maioria dos estados, esse processo de redesenho de distritos é feito pelas legislaturas estaduais e, depois, aprovado pelos governadores.

E aí entra a prática chamada de gerrymandering, uma “homenagem” a um governador de Massachusetts do século 19, Elbridge Gerry, pioneiro da prática.

O propósito do gerrymandering é concentrar todos os apoiadores do partido rival em poucos distritos, e distribuir os apoiadores do seu partido em vários distritos, onde ele terá uma vantagem pequena, mas suficiente. O resultado é que seu partido ganha em vários distritos e perde em poucos, por muito.

Em 2010, o estrategista republicano Karl Rove liderou um esforço que batizou de REDMAP (Redistricting Majority Project).”Quem controla o processo de desenho dos distritos pode controlar o Congresso”, escreveu Rove em um artigo no Wall Street Journal, em 2010.

O partido concentrou esforços para vencer o maior número possível de legislaturas estaduais. Foi bem-sucedido e capturou 20 legislaturas que estavam nas mãos dos democratas.

A partir daí, com os resultados do censo de 2010, dedicaram-se a redesenhar os distritos usando inúmeras bases de dados e técnicas sofisticadas de “microtargeting” para segmentar o eleitorado. Definiram as fronteiras dos novos distritos de forma mais vantajosa possível para os republicanos.

Nas eleições de 2012, viu-se o tamanho do estrago —os candidatos democratas à Câmara e Senado obtiveram 1,4 milhão de votos a mais do que os republicanos, no país todo, mas os republicanos mantiveram o controle da Câmara com 234 assentos, diante de 201 democratas. Desde então, os republicanos consistentemente vêm obtendo vitórias legislativas, e um dos motivos é o REDMAP.

O avanço dos democratas nas legislaturas estaduais ainda não foi suficiente para reverter o domínio dos republicanos. Mas é o caminho certo para tentar interromper a hegemonia republicana no Congresso.

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