Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

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Paula Cesarino Costa

Ao pé da letra

Reforma gráfica indica atitude editorial que pode diferenciar a Folha de concorrentes

Ilustração com leitor em meio a uma série de quadros (representando as colunas do jornal)
Carvall/Folhapress

Mais de uma semana depois da implantação da reforma gráfica, a Folha mostrou a seus leitores que as mudanças não são apenas cosméticas. A nova cara da "mesma Folha", como o jornal anunciou, veio acompanhada —pelo menos até agora— de modificações editoriais reais.

Ao folhear o jornal, percebe-se um cardápio com menos reportagens e com tentativa de textos mais aprofundados, que ocupam a totalidade de uma página, por vezes mais.

No período de lançamento de novos projetos é natural um esforço concentrado da Redação para produzir edições de maior qualidade, com reportagens de fôlego, acompanhadas de fotos impactantes, de modo a sinalizar que algo mudou para melhor.

O jornal tem conseguido, com dias melhores e outros nem tanto, manter uma sequência de boas edições, enriquecidas por produtos especiais de alta qualidade como a nova série de ambiente sobre a crise do clima, o especial O tamanho da língua, sobre a língua portuguesa, delicioso de assistir na plataforma digital do jornal, e os cadernos especiais sobre saúde (dia 27) e segurança pública (dia 20).

Outro exemplo a ser citado é a reportagem que, com rigor jornalístico e estatístico, detectou a alta probabilidade de fraude no Enem, a partir do cruzamento, feito pela própria Folha, de respostas dadas em 1.125 provas.

Esse esforço demonstra notável empenho em realizar o que o atual projeto editorial da Folha preconiza: um leque menos extensivo de assuntos, mas, em contrapartida, com abordagens mais amplas e interpretativas.

Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, disse que a reforma gráfica do jornal impresso não tem por objetivo estimular a publicação de textos maiores nem replicar nos dias da semana a experiência mais típica dos domingos.

"Textos e infografias melhores sim —mais densos, que iluminem mais os assuntos centrais e não se percam em detalhes. O produto continua plenamente capaz de responder com eficiência à temperatura do noticiário e de poupar o leitor de gastar seu tempo, que é precioso e sobejamente disputado, com reportagens que extrapolem artificialmente a extensão necessária para bem informar", explicou.

A reforma atual faz opções mais radicais em relação a características adotadas nos últimos anos pelos jornais em geral: valorização da cor, multiplicidade de elementos gráficos, textos pequenos. De certa forma, a tendência vinha sendo replicar, de uma maneira ou outra, a atratividade visual de plataformas digitais. Se tal proposta perdurar e mostrar-se viável ao passar dos meses, diferenciará a Folha dos concorrentes de maneira radical.

A fonte do problema

Leitores atenderam com entusiasmo o convite para comentarem o novo projeto gráfico. Se nos primeiros dias, a totalidade das mensagens que recebi reclamava da reforma, durante a semana, 2 em cada 10 leitores fizeram elogios à Folha. Menos mal.

Alexandre Alves, por exemplo, escreveu que a reforma lhe devolveu o prazer da leitura, no que chamou de "feliz reencontro". Disse que o jornal buscou "exercitar um olhar para quem quer ler o mundo fora dos aplicativos, com atenta contemplação e observação dos fenômenos".

O leitor Felipe Goes comemorou: "Feliz em ver a mídia impressa com investimento!"

O assunto mais polêmico continua a ser a fonte do texto do jornal, com percepções diametralmente opostas em relação ao tamanho da letra.

Os insatisfeitos reclamaram de que a fonte mais fina torna as letras "miudinhas", mais apertadas, obrigando lupa para a leitura do jornal. Outros relataram ter tido a impressão de que a letra aumentou, ficando com maior legibilidade.

A editora do Núcleo de Imagem, Thea Severino, explica que a nova fonte tem exatamente o mesmo corpo (11) e a mesma altura que a anterior. Enumera detalhes quase imperceptíveis, mas que se tornam relevantes no conjunto:

"1) O espaço interno das letras (por exemplo, a barriga do B) é maior; 2) as serifas são mais bem acabadas, conectando melhor uma letra a outra; 3) espaçamento entre as letras é maior. Ou seja, como ela é mais larga e mais redonda, gera mais conforto e fluidez na leitura, dando a sensação de que é maior."

Continua: "Como o jornal ficou, no conjunto, menos estridente (com logos e títulos menores, mais uso de brancos, menos e maiores fotos etc.), adotamos um peso mais leve na letra também. Com o tra ço ligeiramente mais fino, pode dar a impressão de que é menor. Mas é importante dizer que, tanto na altura quanto na largura, ela se equivale à anterior (as variações são mínimas, na casa de 1%)."

O tempo dirá se o leitor se acostumará com as mudanças, acomodando o olho de modo a evitar tropeços nas letras, concentrando-se no conteúdo.

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