Paula Cesarino Costa

Jornalista, foi secretária de Redação e diretora da Sucursal do Rio. Foi ombudsman da Folha de abril de 2016 até maio de 2019.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Paula Cesarino Costa

O papel necessário

Há 30 anos, este espaço ajuda a melhorar o jornalismo da Folha (e do Brasil)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Foram mais de mil dias, 1.095 edições impressas da Folha lidas e analisadas, incontáveis acessos à versão digital, 134 colunas e 551 críticas internas. Assumi o mandato de ombudsman em abril de 2016.
De lá para cá, as notícias não foram poucas: impeachment, três presidentes diferentes, figurões da República presos, uma onda conservadora de consequências ainda não assimiladas, atentados, desastres.

Ilustração para coluna Ombudsman
Carvall

O termo fake news passou a fazer parte do vocabulário nacional. Redes sociais viraram ferramenta de governo.

Eleita inimiga pelo presidente Jair Bolsonaro, a Folha cresceu na adversidade, num período em que sofreu o revés da morte do diretor de Redação Otavio Frias Filho. À sua memória, presto reverência pela orientação profissional preciosa, pelas tantas oportunidades e por ter me permitido partilhar de sua amizade fraterna, inteligente e divertida.

Ao longo desse tempo, persistiu a crise do modelo de negócios da imprensa e dos veículos de comunicação em todo o mundo. A publicidade segue em queda. Postos de trabalho continuam sendo cortados, e jornais e revistas, encolhidos. As assinaturas e a publicidade digital ainda são insuficientes para sustentar os custos do jornalismo de qualidade.

Em meio a essa situação, fico feliz —e os leitores, aliviados— que minha última coluna como ombudsman não seja a última da função. Em setembro de 1989, a Folha introduziu o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Assim, saúdo e desejo sucesso à jornalista Flavia Lima, que me sucederá.

Tenho convicção de que algumas das colunas que publiquei foram efetivas na discussão dos rumos do jornal. Não busquei a polêmica ou a crítica gratuita, optando sempre por exercer o papel de mediadora entre os leitores e a Redação. Acredito que, em muitos textos, leitores se sentiram representados e que eu tenha amplificado as vozes deles em críticas e pedidos de ajustes e correções. É inescapável, no entanto, que, por vezes, tenha divergido de expressivas parcelas do leitorado.

Não é uma função fácil a de criticar o trabalho de colegas jornalistas. A esses agradeço a paciência, o debate e o comportamento irrepreensível.

É preciso repetir aqui o que foi testemunhado pelos 11 profissionais que me antecederam: em três anos, desempenhei a tarefa com plena liberdade e independência. Não foram raros os confrontos com a Redação nem poucas vezes que contrariei até os interesses empresariais do grupo. Devo sublinhar o apoio irrestrito da Direção de Redação.

Esta só não é a mais solitária das funções, porque estive acompanhada de leitores, que não são poucos. Aprendi com eles a ver aspectos que não perceberia sozinha, a ampliar minha percepção de como a notícia é recebida, a matizar certezas profissionais arraigadas.

Também me cerquei de colaboradores informais que saberão se reconhecer aqui —a estes agradeço pela paciência e empenho em me ajudar silenciosamente e sem qualquer benefício imediato que não a melhora do jornalismo da Folha.

Meu trabalho não teria sido o que foi sem o apoio de Alba Bruna Campanerut, zelosa das relações entre a Redação e o leitor, sem as pesquisas, leituras e trocas de ideias com Vanessa Roque Henriques, minha assistente na maior parte dos três mandatos, e o socorro linguístico de Thaís Nicoleti.

A título de contribuição final, eu me arrisco a deixar aqui algumas das preocupações a respeito do futuro da Folha.

O jornal precisa ampliar a transparência, tanto em relação às suas decisões e aos seus erros quanto em relação à sua política corporativa e aos interesses específicos no ambiente de negócio. A independência do jornal é razão essencial para sua sobrevivência.

Na busca de recursos publicitários cada vez mais escassos, a linha de separação entre os interesses da Redação e os do departamento comercial não pode ser ultrapassada.

É fundamental que as notícias publicadas sejam motivadas pelo julgamento de editores preocupados com jornalismo, não com fórmulas voltadas aos negócios ou na busca por audiência via cliques que geram remuneração.

A situação política atual embute um risco. O jornal precisa se manter independente e investigativo sem ser agressivo, persecutório ou intolerante.

É desnecessário dizer que o jornalismo investigativo é o maior trunfo do jornal. A Folha tem dado mostras de que ele é sua prioridade. Que siga assim preservando quadros, investindo em formação, mobilizando recursos, porque é sabido que jornalismo de qualidade exige investimentos.

Deixo por último uma preocupação que servirá de mantra para o desafio profissional que enfrentarei a partir de agora: aumentar a diversidade de vozes e olhares na Folha.

Um muito obrigada especial aos leitores —exigentes, atentos, atuantes—, por me tornarem uma jornalista melhor ao longo destes três anos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.