Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Paul Krugman

Bidencare seria um grande negócio

Trump mente quando afirma ter um plano melhor e mais barato que o Obamacare

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Na manhã de segunda-feira (5), o beneficiário mais proeminente da medicina socializada nos Estados Unidos, que recebia tratamentos caros e financiados pelo contribuinte em um hospital administrado pelo governo, estava tuitando furiosamente.

Uma das missivas maníacas do presidente Donald Trump chamou a atenção de especialistas em assistência médica: sua exortação "PROTEJAM AS CONDIÇÕES PREEXISTENTES. VOTEM!"

Como sempre, não está claro se Trump está apenas sendo cínico ou se também é genuinamente ignorante.

Ele está definitivamente mentindo quando afirma ter um plano melhor e mais barato que o Obamacare. Esse plano não existe, e ele deve saber disso.

Mas Trump sabe que os americanos com problemas de saúde preexistentes já estão protegidos pela Lei de Acesso à Saúde, que seu governo está pedindo que a Suprema Corte derrube? Ele percebe que o motivo pelo qual seu partido nunca ofereceu uma alternativa aceitável a essa lei, em particular uma que protegesse as condições preexistentes, é que tal alternativa não é possível? Isso está menos claro.

Em qualquer caso, como os votos da nação realmente farão uma enorme diferença para o futuro da saúde pública –e não apenas porque Trump, caso se mantenha no poder, quase certamente encontrará uma maneira de destruir o Obamacare, fazendo dezenas de milhões de americanos perderem o seguro-saúde. Se Joe Biden vencer (e conseguir um Senado democrata), fará uma grande diferença na outra direção, expandindo substancialmente a cobertura e reduzindo os prêmios para famílias de classe média.

A segunda parte dessa sentença talvez seja novidade para muitos leitores, pois as propostas de saúde de Biden ainda não chamaram muita atenção.

Embora Biden não esteja propondo "Medicare para Todos", estimativas independentes sugerem que de 15 milhões a 20 milhões de americanos ganhariam seguro-saúde - Brendan McDermid/Reuters

Por que não? Uma razão é que a eleição está –acertadamente– sendo vista sobretudo como um referendo sobre Trump, mais que sobre a provável política democrata. Outra é que, como a luta nas primárias democratas colocou Biden contra rivais que pediam mudanças radicais na política de saúde, muitas pessoas presumem que o vencedor da luta, que rejeitou as propostas radicais, não mudaria muita coisa.

Embora Biden esteja de fato propondo mudanças incrementais em vez de "Medicare para Todos", porém, estamos falando de alguns grandes incrementos. Estimativas independentes sugerem que, de acordo com o plano de Biden, 15 milhões a 20 milhões de americanos ganhariam seguro-saúde. E os prêmios cairiam acentuadamente, em especial para as famílias da classe média.

De que mudanças de política estamos falando? Na medida em que o plano de Biden recebeu alguma atenção, esta se concentrou amplamente em sua proposta de adotar uma "opção pública" –um plano semelhante ao Medicare que os indivíduos poderiam comprar, em vez de adquirir seguro privado. Essa opção pode ser um primeiro passo na direção de um sistema de pagador único (o Estado), mas seria um pequeno passo e, em curto prazo, teria muito menos importância que outros aspectos do plano.

Em primeiro lugar, o plano de Biden –Bidencare? ObamaBidencare?– aumentaria substancialmente os subsídios que hoje ajudam muitos, mas não todos os americanos que não recebem seguro de seus empregadores.

A Lei de Acesso à Saúde, aprovada em 2010, foi subfinanciada, porque os democratas quiseram reduzir o custo anunciado. Isso significava que os prêmios e copagamentos eram e são altos demais para muitas famílias. Desde então, porém, a política mudou: a opinião pública mudou a favor da lei de saúde, o Partido Democrata se moveu um pouco para a esquerda e a disposição republicana a forçar cortes de impostos caros e sem financiamento incentivou os democratas a serem mais agressivos.

Portanto, o plano de Biden aumentaria os subsídios e também removeria o limite de renda superior que impede muitas famílias de classe média de receberem ajuda. Isso custaria um bom dinheiro: o Comitê para um Orçamento Federal Responsável estima o preço em US$ 850 bilhões em uma década. Mas custaria muito menos que o corte de impostos de 2017, grande parte do qual foi para as empresas, que deveriam responder aumentando o investimento, mas não o fizeram.

O plano de Biden também inscreveria automaticamente americanos de baixa renda na opção pública, o que é mais importante do que pode parecer. Um dos defeitos de nosso sistema é que ele é complexo e confuso, e aqueles que mais precisam de ajuda geralmente são os menos capazes de navegar para obtê-la. O ideal seria apenas mudar para um sistema mais simples, mas por enquanto a inscrição automática seria uma medida paliativa importante.

Ah, e o plano também forneceria ajuda significativa para tratamentos prolongados, saúde rural e saúde mental.

Nada disso representa uma mudança revolucionária –em contraste com os esforços de Trump para matar o Obamacare, o que modificaria drasticamente o sistema de saúde americano para pior. Mas o Bidencare ainda seria, como Biden não disse exatamente quando o presidente Barack Obama sancionou a Lei de Acesso à Saúde, um grande negócio.

É verdade que os EUA ainda ficariam um pouco aquém de alcançar o que todos os outros países avançados têm –saúde universal. Mas chegaríamos muito mais perto, e muitos que atualmente têm cobertura de seguro veriam seus custos cair e a qualidade da cobertura melhorar.

Portanto, o seguro-saúde, inclusive para PROTEGER AS CONDIÇÕES PREEXISTENTES, realmente precisa do seu VOTO! Se Trump vencer, os americanos perderão essa proteção e muitos perderão o seguro-saúde ou verão seus prêmios dispararem; se Biden vencer, os americanos manterão essa proteção e muitos obterão seguro ou verão seus prêmios caírem.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.