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Impactos da crise humanitária da Covid 19 sobre a Periferia Global

Como os países do Sul Global podem mudar o status quo social através do multilateralismo

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Por Emerson Caetano

Nada será como antes. Esta é a única certeza sobre a crise humanitária causada pelo novo coronavírus.

Uma crise de escala global, que pode mudar o papel dos países periféricos na lógica do mundo globalizado. Por Periferia Global entende-se a América Latina, o continente africano e parte da Ásia, que aqui serão analisados como os blocos regionais com maiores dificuldades estratégicas para o enfrentamento da Covid-19.

Além disso, a social-democracia será usada como modelo de Estado que, através do multilateralismo e da preservação dos bens públicos, demonstram resiliência no enfrentamento da pandemia.

Adolescentes na favela Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense
Adolescentes durante pandemia da Covid-19 na favela Parque das Missões, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense - Filipe Cordon/Folhapress

Em “Por Uma Outra Globalização (2000)”, o griot Milton Santos defende que um mundo mais justo só será possível através da Periferia Global. No entanto, mesmo após 20 anos desde a publicação dessa obra, o cenário político do sul global ainda enfrenta problemas como o autoritarismo, o que dificulta o diálogo entre os Estados.

No que tange ao bloco regional latino-americano, o enfraquecimento das instituições multilaterais faz com que a América Latina não tenha um plano para mapear os principais problemas e coordenar forças para enfrentar a crise. Nessa mesma situação, encontram-se as outras regiões da Periferia Global, que representam a parcela do globo que está com seus sistemas de saúde em colapso e sob administrações de presidentes autoritários.

Para controlar uma crise pandêmica, os governos precisam estabelecer diálogos multilaterais e multidisciplinares. A saída da crise só será possível mediante o diálogo entre economia e saúde, entre governos e movimentos sociais, e, além disso, os blocos regionais da Periferia Global precisam estar em negociações constantes para vencer a Covid-19.

A história das nações é moldada por crises como essa que vivemos hoje, e é preciso fazer o exercício de voltar em alguns episódios históricos para não repetir os mesmos erros.

O multilateralismo foi o fator responsável por colocar o diálogo em detrimento do conflito no pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e é por isso que até hoje as relações internacionais podem contar com instituições como o Acordo Geral de Tarifas e Comércios (GATT), atualmente conhecido como Organização Mundial do Comércio (OMC), e até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Também foi em um pós-crise que o Estado de bem-estar social —como um modelo econômico horizontal— que garante bens públicos como saúde, educação e segurança, foi popularizado como modelo de nações desenvolvidas.

A pergunta que não quer calar é: como será o pós-crise? Ninguém sabe, mas podemos torcer para que os Estados da Periferia Global aprendam a lição do multilateralismo. Sem esforços mútuos não há saída da crise. Quando se há um problema estrutural nos bens públicos, somente uma solução estrutural pode solucionar o problema, caso o contrário, voltaremos a uma normalidade que já era caótica.

O multilateralismo e o fortalecimento dos movimentos transnacionais são essenciais para a reestruturação da economia e do bem viver. Queremos ver a periferia global e local fortalecidas através do diálogo e de um Estado de Bem Estar Social. O pós Covid-19 pode ser ótimo para o amadurecimento dos Estados periféricos, mas o “voltar ao normal” significa que a crise foi controlada, mas não solucionada. É papel da sociedade civil fazer com que a agenda contra as desigualdades sociais seja priorizada no pós-crise. Um novo plano que inclua igualdade racial, economia sustentável, educação inclusiva e de qualidade é o que não pode ser ignorado no futuro das Políticas Públicas. Um mundo possível será construído pela Periferia Global, então vamos apressar nossos esforços.

Emerson Caetano, morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estuda relações internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e fundou o Núcleo de Estudantes Negros de Relações Internacionais (NENRI), uma think tank que debate raça, diáspora e política internacional.

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