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As redes sociais podem decidir uma eleição?

Mídias sociais se tornaram mecanismo estratégico para atrair eleitores

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Por Gabriela Vimercati

As redes sociais mudaram radicalmente o cenário de eleições no Brasil e no mundo. Não há como negar o papel das mídias tradicionais e o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, mas as mídias digitais se tornaram um importante recurso no suporte à informação para o eleitor. Se, antes, estes apenas ouviam acerca dos seus candidatos, agora opinam e influenciam seu círculo social.

O fenômeno das mídias sociais tende a ter um impacto tão grande nas eleições 2020 quanto nas disputas passadas. Uma pesquisa do Instituto DataSenado, divulgada em 2019, apontou que, no ano anterior, 45% dos entrevistados decidiram seus votos com base em informações obtidas através das redes.

As eleições de 2018 não deixaram dúvidas quanto às mudanças ocorridas no processo eleitoral brasileiro. Se antes o cenário era necessariamente mais favorável ao candidato com mais tempo de propaganda na TV, agora o ambiente se torna mais positivo àqueles que conseguem potencializar as estratégias de comunicação e relacionamento político através das mídias sociais.

O candidato à presidência com o maior tempo na TV sequer foi para o segundo turno, enquanto o candidato que tinha apenas 8 segundos terminou eleito com cerca de 54% dos votos válidos. É evidente que o ambiente virtual impulsionou e foi decisivo na eleição de Jair Bolsonaro, e o mesmo ocorreu na eleição de Donald Trump em 2016, nos Estados Unidos. Mas como essas plataformas digitais podem exercer influência política e ser decisiva no pleito?

Candidatos com muito dinheiro podem, por exemplo, manipular campanhas eleitorais com base em dados de comportamento, obtidos através de empresas tecnológicas, capazes de prever quais serão os próximos passos do usuário. Os internautas fornecem gratuitamente essas informações, que são refinadas e transformadas em dados de predição. Com esses dados, os candidatos podem traçar o perfil do usuário e, a partir disso, oferecer conteúdos de acordo com a personalidade específica de cada eleitor. Este teria sido o cenário que elegeu Donald Trump em 2016. Lembremos, como, recentemente, a rede social Facebook admitiu que a Cambridge Analytica, empresa que atuou na campanha virtual de Trump, obteve, de forma ilegal, dados de milhões de internautas e teria utilizado essas informações para manipular usuários com publicidade políticas adaptadas ao perfil de cada eleitor.

Através dessas bases de dados, esses candidatos conseguem manipular os medos e anseios do eleitor com grande facilidade. Por isso, cada vez mais as eleições são marcadas por opiniões polarizadas e disseminação de notícias falsas. As propostas de governo se perdem no universo das chamadas fake news.

Paralelamente, o ambiente virtual também se tornou uma possibilidade para candidatos com recursos escassos. Através de uma simples pesquisa é possível mapear o votante, suas necessidades, as demandas locais e ainda possibilita um contato mais aproximado entre os candidatos e o público.

Recentemente, o candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos, participou do Flow Podcast —feito pelos youtubers Monark e Igor 3k, com público majoritariamente jovem, masculino. Com isso, além das 824 mil visualizações, Boulos conseguiu alcançar milhares de pessoas e, ao mesmo tempo, construir uma opinião política diferente da que tinha sido feita a partir de fake news contra ele. Nesse episódio, o mais comum eram comentários como: “Sou de direita mas o Boulos me fez mudar muitas coisas sobre meu pensamento”, “Não votei no Boulos por achar que ele era um zé doido, mas ao assistir esse flow, percebo que ele é bem mais consciente que o atual presidente do Brasil”. Este é apenas um exemplo; há diversas maneiras de se tornar uma opção viável ao eleitor através de estratégias políticas eficientes no ambiente virtual.

Além disso, é inegável que a internet ajudou a democratizar o financiamento de campanha através de suas plataformas de arrecadação. Hoje, graças à internet, com apenas um clique, o candidato consegue propagar materiais em massa para sensibilizar seu eleitor e financiar toda uma campanha por meio de doações online. O projeto Jornada pela Democracia, que buscava financiar viagens da ex-presidente Dilma Rousseff pelo Brasil, é um exemplo. A iniciativa bateu o recorde brasileiro de maior arrecadação em 24 horas e chegou à marca de R$ 370.723,82.

Fazer grandes investimentos em material de rua já não é o suficiente. Atualmente, faz-se necessário que os candidatos invistam em um marketing político digital efetivo, afinal, porque isso constrói a opinião política. Não se trata de afirmar que os meios mais tradicionais se tornaram obsoletos para campanhas eleitorais, mas é preciso ir além. Entender, portanto, como funcionam as estratégias políticas no ambiente virtual, é imprescindível para que o candidato consiga se consolidar enquanto opção viável ao eleitor. Assim, não restam dúvidas que o uso devido das redes enquanto ferramenta de comunicação pode ser decisiva no percurso ao pleito.


Gabriela Vimercati é mulher negra, moradora de Duque de Caxias na Baixada Fluminense e estudante de direito na Faculdade Nacional (UFRJ)

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