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PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias. Feita por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento

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Após a vitória de Lula, quais são os nossos desafios?

Precisamos de união pelas próximas décadas para assegurar políticas públicas e construir novos marcos para a democracia brasileira

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Juliana Garcia

Estudante de ciências sociais e integrante do Instituto Nós em Movimento (RJ)

Luis Melo

Estudante de direito, cria de Acari e integrante do Movimento de Favelas (RJ)

Luciene Santana

Cientista social, articuladora da Iniciativa Negra e Rede de Observatórios da Segurança

Nos últimos anos, o mundo tem sofrido profundas mudanças políticas, sobretudo na raiz do pensamento social, cuja desregulação de lógicas democráticas e civilizatórias têm produzido impactos nocivos não só nas relações macro entre governos, mas também refletindo no comportamento individual, ressignificando moralidades e significado do que acreditam e como se posicionam politicamente.

No Brasil, os grupos de extrema direita conseguiram dilacerar não só o orçamento e políticas concretas de vários setores, mas também "(des)organizar profundamente a mentalidade da população". O fato é que ultrapassamos uma das fronteiras mais perigosas e sombrias, as quais permitiram que muitas das medidas que vinham sendo feitas pelo governo Bolsonaro fossem assistidas com certa ‘’passibilidade’’ e até defendidas e executadas pela maior parte de seus eleitores até hoje, pós derrota.

Vândalos golpistas invadem a praça dos Três Poderes e depredam os prédios - Gabriela Biló - 8 jan.2023 /Folhapress


Após a posse do governo Lula, assistimos a um dos episódios mais nefastos da história brasileira pós ditadura militar. Uma tentativa de golpe com ataques terroristas, coordenados contra os prédios dos Três Poderes. A herança dessa conjuntura marcada pela ascendência do ultraconservadorismo apresenta uma série de desafios para o novo governo e a sociedade civil. Esses acontecimentos não podem ser esquecidos.

Precisamos construir a longo prazo formas de resistência ao ultraconservadorismo, pois esse episódio pode ter sido um dos primeiros de uma agenda de mobilização de ataques terroristas contra instituições públicas e democráticas e de criminalização de movimentos populares, como fazem com a CUT, MST, MTST, Coalizão Negra por Direito, Movimento de Favelas e outros.

Além disso, lideranças comunitárias também têm sido alvos de fake news em grupos de WhatsApp, como a tentativa de associarem Renê Silva e Raull Santiago ao tráfico após atividade de campanha do presidente Lula no Complexo do Alemão; após Copa do Mundo, quando perseguiram a ativista de Acari, Buba Aguiar, à Gizele Martins, do Complexo da Maré, por denunciar a militarização e o aumento da violência nas favelas.

Também chegaram a invadir armados galpão cultural em Caxias, procurando por Wesley Teixeira. Também temos visto as constantes ameaças de morte contra parlamentares negras, como Renata Souza, Talíria Petrone, Benny Briolly, Erika Hilton e tantas lideranças de outros contextos, como os povos Yanomami e Altamira. Eles têm medo do que somos e usam todo tipo de violência para tentar intimidar, ferir e inibir, como fizeram covardemente com Marielle Franco, mas que na verdade se tornou semente e maior do que poderiam imaginar.

De fato, a democracia brasileira por vezes se mostrou frágil e atravessada pelo racismo e misoginia constantes, cujas rupturas podem ser observadas em vários momentos da história do país —ora no contexto do Estado Novo de Vargas (1937-1945), da Ditadura Militar (1964-1985), do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (2016)—, se aprofundou durante o governo Bolsonaro (2018-2021) e tem chegado em seu ápice de ataques, tentando fragilizar os Três Poderes a todo custo após sua derrota nas eleições de 2022.

Por uma diferença ínfima de 1,8% (cerca de 2 milhões de votos) vencemos eleitoralmente não apenas uma eleição presidencial, mas uma máquina criminosa bolsonarista no Estado brasileiro. Sem dúvidas, a frente ampla foi e ainda será por alguns anos crucial para continuar derrotando o bolsonarismo nas urnas e nas ruas —mesmo com as contradições da composição do governo, indo da União Brasil, MDB ao PSB.

De forma mais direta, será que entendemos que o resultado apertado advém da junção do máximo de forças dos últimos 30 anos da política brasileira, isto é, desde a redemocratização? Sabemos o que precisamos elencar para o futuro próximo?

Pois para além da reconstrução, é preciso estar atento a angariação de forças em momentos como esses —de não ser a favor de x ou —y trazendo a falsa neutralidade. Vimos isso em 2013, que resultou no crescimento do MBL e, em 2018, com a explosão do bolsonarismo.

É preciso aprender sobre o significado dos 1,8% e parar de se surpreender com resultados eleitorais, pois a realidade, a vida, o cotidiano existem para além de nossas bolhas online, existem muitas outras no offline.

A vitória de Lula abre uma possibilidade de posicionar melhor algumas estratégias, pois o fascismo se reveste com várias máscaras, conjunturas e movimentos disfarçados de ideologias para cometer seus crimes. Hoje é o bolsonarismo, mas em breve esse sentimento de ódio pode ser canalizado por outros grupos e nomes.

Assim como durante a campanha com comitês populares espalhados pelo Brasil, bem como na cerimônia de posse em que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto com representações do povo, ressignificando seu legado, seguiremos em exercício permanente por dias melhores, votando em quem acreditamos.

A defesa de um Estado democrático com políticas públicas contundentes que colaborem no crescimento social e econômico é possível e precisa ser um esforço intenso e constante, dentro e fora da institucionalidade, para assegurar nossos direitos básicos e sobrevivência. Por isso estamos com Lula para continuar construindo um Brasil que queremos. O que resta é muito diálogo e crescimento da força popular. Todos os recursos disponíveis e possíveis servirão para potencializar essa caminhada.

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