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Há perigo na esquina

Acelar distribuição da vacina é prioridade, mas isso não isenta o governo da falta de planejamento em relação à agenda fiscal

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Nós do Por Quê? desejamos um feliz ano novo a todos os nossos leitores. Por um lado, estatisticamente falando, dificilmente 2021 será pior que 2020 –o chamado efeito "fundo do poço". Por outro, o que nos preocupa é a ausência de uma agenda propositiva para a economia e a lentidão na vacinação. Além disso, os trade-offs de curto prazo que sempre nos afligem estão se deteriorando: a inflação está subindo e a política fiscal segue desorganizada, sem rumo certo. O ano não começa alvissareiro.

Um país altamente endividado como o Brasil consegue respirar e rolar suas obrigações financeiras por períodos curtos de tempo se as condições são favoráveis. Mas essas janelas de oportunidade eventualmente se fecham e, portanto, devem ser usadas de modo estratégico, para estruturar um alicerce fiscal que sinalize um futuro de maior equilíbrio. É possível que os juros internacionais sigam bem baixos por algum tempo ainda, mas é bastante improvável que isso ocorra também com os juros domésticos.

As expectativas de inflação para os próximos 12 meses coletadas pelo Banco Central subiram, nos últimos oito meses, de modestíssimos 2,7% para 4,1% na última semana. Com uma taxa Selic de 2%, isso significa um juro real de curto prazo de –2%, aproximadamente. É um dos juros mais baixos de todo o planeta! Você ouviu corretamente: antes campeões mundiais de juro real, agora ganhamos até de vários países desenvolvidos em termos de quão baixa nossa taxa se tornou. Para os que sempre puseram a culpa do crescimento baixo no juro real alto, será que a lição será aprendida? Não somos otimistas. A água mole na pedra dura do discurso econômico heterodoxo brasileiro tanto bate até que cansa...

De todo modo, o ponto relevante aqui é que o juro real certamente vai se elevar ao longo de 2021. Aliás, as taxas do mercado de futuros já incorporam isso. Ou seja, a mamata do financiamento barato tem data de validade, e quando a coisa reverter, nosso estoque de dívida estará no pico da série histórica.

Veja o leitor que o caldo, no mundo das finanças, não azeda gradualmente não. É num zás-trás que o bicho pega. Foi assim na crise da Ásia, da Grécia, entre outras. Calmaria até o dia D, hora H. E a tormenta é normalmente devastadora, desestrutura a economia, afunda ainda mais o crescimento. Mas como impedi-la?

Através de uma ação coordenada entre executivo e congresso que ponha a sustentabilidade da dívida pública como prioridade urgentíssima. Promessas não adiantam. Falar que, em 30 dias, uma grande empresa nacional será privatizada não adianta. Deve-se construir pontes, conversar, lutar por um consenso, explicar à sociedade a urgência do assunto, discutir opções e enfrentar grupos de interesse contrários ao fim dos privilégios. Deve-se ter espírito democrático, coragem e convicção. Não é bolinho.

Não se trata de mandar algumas leis para o Congresso, virar as costas e culpar os outros atores. Sim, estamos atolados na Covid-19, e dar celeridade à distribuição das vacinas é prioridade pública. Mas isso não isenta o governo da falta de planejamento em relação à agenda fiscal. A chance de um descontrole em 2021 não é baixa.

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