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Descrição de chapéu sustentabilidade

Retomada verde: o que o Brasil poderia aprender com o Chile?

País tem aparecido como um líder global em desenvolvimento sustentável

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Luiza Martins Karpavicius

Economista formada pela FEA-USP. Trabalha na área de economia do meio ambiente e dos recursos naturais. É mestre pela Universidade de Copenhague e doutoranda na Universidade de Aarhus, na Dinamarca

Nos últimos textos da coluna do "Por Quê?", temos abordado o conceito de retomada econômica verde, o uso de políticas públicas e privadas com o objetivo de alinhar crescimento econômico com a justiça social e a manutenção dos recursos e serviços ecossistêmicos. Enquanto no Brasil o governo atual está longe de fazer essa transição para um desenvolvimento sustentável, em um de nossos vizinhos da América Latina, o Chile, a retomada verde é uma realidade. Há muita coisa que os nossos governantes poderiam aprender com a experiência chilena.

Recentemente, o Chile tem aparecido como um líder global em desenvolvimento sustentável, contribuindo de forma ativa para a agenda da mitigação climática. Exemplos são metas fortes de descarbonização da economia (Marco de Mudança Climática, uma lei chilena que prevê carbono zero até 2050), a elaboração de políticas climáticas que dão protagonismo ao crescimento verde para a recuperação econômica e o planejamento de potencializar energias renováveis da matriz energética chilena de forma estratégica.

O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, acena para imprensa e admiradores no intervalo de uma das suas reuniões nesta quinta (10), véspera da sua posse - Ivan Alvarado/Reuters

Estudos do Banco Mundial apontam que se o Chile atingir sua meta de descarbonização, pode ter um crescimento adicional de 4,4% de seu PIB até 2050. Isso se traduziria em mais US$ 31 bilhões para o desenvolvimento econômico do país. Além disso, o avanço dessas metas possibilita que o Chile se torne um dos maiores produtores de hidrogênio verde e barato do mundo, conforme descrito em sua Estratégia de Hidrogênio Verde recentemente aprovada. O Banco Mundial aponta que, como resultado direto dessa estratégia, o Chile pode conseguir criar mais de 100 mil empregos verdes e gerar US$ 200 bilhões em investimentos sustentáveis nos próximos 20 anos.

A pergunta é: como o Chile conseguiu tornar a agenda ambiental uma prioridade econômica? Em um seminário realizado no dia 27 de junho de 2022 para a série Retomada Econômica Verde, Carolina Schimidt, ex-ministra da Educação do Chile, trouxe algumas explicações.

Um elemento levantado pela ministra foi a presença da ciência na política, balizando o diálogo entre os diferentes setores da economia e permitindo assim a construção de um mapeamento de oportunidades envolvendo diferentes setores e órgãos do governo. Em um texto recente da coluna para a campanha #CiênciaNasEleições, do Instituto Serrapilheira, defendemos justamente a importância do conhecimento científico para o desenho e a implementação de políticas públicas. O sucesso do Chile é um exemplo prático de como teríamos muito a ganhar se os brasileiros levassem isso em consideração na hora de votar, escolhendo candidatos que não fazem campanha na base da desinformação e que se mostram dispostos a escutar cientistas e se valer desse conhecimento em seus planos de governo.

Outro ponto importante da retomada verde no Chile é que houve um caráter multisetorial na elaboração das políticas, pensadas para buscar oportunidades na intersecção entre os diversos setores da economia. Um exemplo é a meta de reduzir emissões no transporte de insumos minerais, importante componente da balança externa chilena. Foi uma pauta que pertence tanto à política de transportes quanto ao setor de mineração. É crucial que no próximo governo haja esse alinhamento entre os setores.

Ainda, é importante destacar a coliderança do setor privado na implementação dessas estratégias. Os chilenos entendem que a retomada verde é uma oportunidade de maior integração com os mercados internacionais, e não um obstáculo para o lucro. Mencionamos algumas vezes que esse mesmo movimento parece estar surgindo nas empresas brasileiras, mas, sem os mecanismos e instrumentos criados pelo governo, está longe de ser concretizado.

O crescimento verde é fundamental para o futuro de todas as economias, e as mensagens transmitidas por países como o Chile ilustram que uma revolução em direção a uma era pós-Covid que garanta um crescimento resiliente, limpo e sustentável e que respeite os oceanos, florestas, terras e a sociedade é possível para o Brasil, ainda que não apareça como prioridade no governo atual.

O seminário mencionado no texto faz parte da série de seminários Retomada Verde, uma iniciativa do Arq.Futuro, BEĨ Editora, IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade), plataforma Por Quê? – Economês em bom português e Insper, com apoio do Itaú Unibanco. Já foram tratados nos seminários a experiência do Chile, da China e da França. Os próximos eventos abordarão o que está sendo feito nos Estados Unidos e no próprio Brasil. Mais recursos estão disponíveis neste link.

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