Recentemente, a economia dos Estados Unidos vem demonstrando um desempenho robusto. A taxa de desemprego está em níveis historicamente baixos (abaixo de 4%) e salários estão crescendo acima da inflação. O poder de compra médio do americano está acima dos níveis pré-pandemia. Além disso, a inflação, que mostrou as garras nos anos de recuperação, também está em queda. Ela veio de 7,4% em 2021 para 3,4% em 2023.
Apesar dessa sequência de notícias boas, grande parte dos americanos têm uma visão negativa da economia, o que está afetando a popularidade do presidente Biden e dando força à candidatura de Donald Trump. Políticos oposicionistas (do Partido Republicano) frequentemente enfatizam as mazelas econômicas da atual administração democrata –mesmo com os números indicando o contrário.
Talvez a economia esteja indo bem para alguns apenas. Quando calculamos estatísticas agregadas, como taxa de desemprego e renda real, estamos juntando todo o mundo. Mas pode ser que os ganhos de uns poucos indivíduos sejam tão elevados que estejam puxando o agregado para cima, enquanto a maioria não percebe vantagens significativas na atual economia.
Não parece ser o caso. Aumentos de renda acima da inflação são verificados ao longo de todo o espectro da distribuição de salários. Tanto trabalhadores mais ricos como mais pobres estão registrando ganhos de poder de compra.
O que, então, está por trás dessa desconexão entre a realidade dos dados e a percepção das pessoas? Ainda não temos explicações definitivas, mas uma interpretação interessante tem a ver com a inflação alta no passado recente.
Antes da pandemia, os americanos vivenciaram uma inflação muito baixa ao longo de décadas, na casa de 1 a 2% por ano. Nessa situação, os preços mudam muito pouco de um ano para outro. Alguns preços permanecem fixos durante longos períodos de tempo até sofrerem reajustes. Assim, as pessoas tendem a se acostumar com o quanto gastam em determinado item ou cesta de bens.
No entanto, a inflação alta dos anos de recuperação fez com que os preços crescessem mais rápido. Entre 2021 a 2023, a inflação acumulada foi de quase 20%. Por exemplo, se uma pessoa gastava US$ 200 em uma compra de supermercado em 2020, agora a mesma cesta custa US$ 240.
E mesmo com a inflação voltando a seus níveis anteriores, os preços não retornam. A inflação indica o aumento médio dos preços ao consumidor. Se ela se eleva temporariamente (como na recuperação), os preços aumentam permanentemente. Aquela compra de supermercado não voltará a custar US$ 200 mesmo com inflação rodando novamente a casa dos 2%.
É como se você estivesse dirigindo um carro a 50 km/h, desse uma acelerada temporária e voltasse à velocidade original. Você não retorna à posição onde estava antes de acelerar. Na verdade, a esticada faz com que você fique permanentemente mais longe dela.
As pessoas talvez comparem o custo atual de uma cesta de consumo ao de algum tempo atrás, com o qual se acostumaram durante anos, e isso lhes traz uma sensação de insegurança econômica. O interessante é que, em relação ao período pré-pandemia, os salários subiram mais do que o custo de vida. Ou seja, a maioria das pessoas consegue comprar o que comprava antes, e sobra mais dinheiro. Ainda assim, o sentimento negativo com relação à economia persiste.
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